Lily Apaixonada

Precisamos Conversar

— Terra para a senhorita Evans. — Emmeline estalou os dedos bem em frente ao rosto de Lilian pela milésima vez. — Última chamada para a Senhorita Evans!

As meninas tentavam tirar Lilian do transe em que se encontrava há uns bons minutos, mas nada parecia funcionar. Até que Marlene, completamente impaciente, encostou os lábios no ouvido da amiga e decidiu gritar:

— Ô Lilian, acorda!

A menina de cabelos castanhos tomou um susto ao ouvir a voz alta de Marlene e, finalmente, acordou.

— Você quer estourar meus tímpanos? — Ela perguntou, massageando a orelha, com uma expressão de dor no rosto.

— Considerando que você não está escutando ninguém ultimamente, não iria fazer muita diferença — disse Mary por sobre o livro que estava lendo.

Lilian fechou os olhos com força, sabendo que merecia aquela patada. Mary ainda estava chateada com ela pelo que acontecera na ontem anterior, com absoluta razão. Elas eram amigas, deviam ter conversado. E esse era um dos motivos que estava deixando a menina tão distraída naquela manhã, mas não era o único. James também fazia parte daquele problema.

— O que tá rolando entre vocês duas? — Emmeline perguntou, estranhando o comportamento de Mary.

— Nada. — Mary respondeu, fechando o livro e levantando-se da arquibancada que estava sentada. — Vou tomar um pouco de água.

Emmeline acompanhou o corpo de Mary atravessar a quadra de esportes e sumir entre o mar de pessoas que compravam algo na cantina da escola. Ela estava desconfiando de alguma coisa, Lilian tinha certeza. E, considerando que não queria lidar com mais um problema, decidiu tranquilizar a amiga.

— Ela só deve ter acordado de mal humor hoje, só isso. — Emmeline assentiu, sem dar sinais de quem comprava aquela desculpa esfarrapada. — Mas o que vocês queriam tanto me falar que precisaram quase me deixar surda? — Ela tentou mudar de assunto.

Emmeline, pelo que Lilian percebeu, queria muito esgotar o assunto de Mary. Era muito óbvio que algo tinha acontecido — mais importante: algo tinha acontecido entre Mary e Lilian. No entanto, como se os deuses do universo estivessem trabalhando juntos para deixar uma parte da vida da menina Evans mais fácil, Marlene decidiu largar o celular e se meter no meio da conversa.

— A gente queria melhorar seu dia — ela começou — e te informar que esses serão os melhores dois meses de sua vida.

Lilian franziu o cenho, perguntando-se como Marlene esperava que isso fosse acontecer. Em pouco tempo, seu pai iria embora para outro continente. Logo seria a vez dela também. Esses últimos dois meses eram a contagem regressiva para o fim de seu mundo como ela o conhecia. Era a lenta caminhada pela morte que a aguardava nos próximos dias.

— Decidimos que vamos ganhar o Desfile de Inverno, custe o que custar. — Foi Emmeline quem respondeu.

O grande sonho da vida de Lilian era ganhar aquele desfile. Todos os anos, ela o planejava como se planejasse um grande e importante concerto. Ela escolhia o enredo e, então, escolhia o figurino, quem participaria, a iluminação e, por fim, a música que tocaria. Fazia arranjos nas canções para que elas contassem a história que Lilian pensara.

Claro que ela sempre tinha ajuda de seus colegas, mas, ainda assim, a maior parte das ideias saiam da cabecinha dela. Sua alma e seu coração sempre estiveram naquele desfile. E todos os anos ela perdia. Todos os anos, eles eram os últimos colocados.

— Impossível! — Lilian começo a gargalhar. — Eu perdi esse desfile por três anos seguidos. Três anos! Seria muito irônico se eu ganhasse no meu último mês aqui.