Mais um primeiro dia

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As férias também são estimadas. Esperadas. Desejadas. Entretanto, não existe instante mais sublime que o da volta à rotina, quando o tédio já é o elemento principal da sua existência. Pelo menos, era assim para Lilian e as amigas.

Não era o amor pelos estudos que as fazia amar este momento, entretanto. A volta às aulas significava voltarem a se ver todos os dias. Então, Lilian encontrava-se exultante naquela manhã de segunda-feira, apesar de estar atrasada.

O relógio marcava 06h30min quando acordou. Levantou-se no terceiro toque, como de costume. E, naturalmente, às 6h45min descia correndo as escadas. Farda amassada, cabelo despenteado, mochila pendendo do ombro, um sorriso no rosto ― mais largo que todos que esboçara durante o recesso. A ordem natural de sua vida voltara.

Encheu uma xícara com café e a bebeu, enquanto observava Benjamin guardar alguns papéis numa pasta preta. Ele estava vestido com seu melhor paletó, sinal de que haveria uma grande reunião naquele dia. Também chegaria tarde da noite, quando as filhas já estariam dormindo. Era sempre assim quando Benjamin vestia novos paletós.

— Onde está Petúnia? — Lilian perguntou, olhando ao redor, procurando pela irmã mais nova. Não queria acreditar que a sempre pontual Petúnia estava atrasada.

— Não tão rápido, maninha. — Petúnia segurava uma maçã muito vermelha. Viera da sala e estava impecável. Os fios louros puxados para trás, em um perfeito rabo-de-cavalo, a roupa perfeitamente ajeitada no corpo. Um leve odor de flores emanava dela.

Lilian fez uma careta.

— Que cheiro é esse?

— Petúnias, irmã. — Petúnia retornou à sala. — Já está na hora — acrescentou, olhando o relógio de pulso, irritada. Provavelmente, estavam alguns poucos segundos atrasados.

Lilian e Benjamin a seguiram. Sabiam que ela estava certa. Petúnia gostava de ter controle sobre a própria vida. Administrar cada minuto gasto era, segundo ela, a melhor forma de fazer isso. Costumava explodir de raiva quando alguma coisa saia de seu meticuloso roteiro.

O trajeto até a escola foi feito ao som de um rock antigo que Lilian não reconheceu. O pai mantinha-se concentrado no trânsito, apesar de quase não haver carros na rua. Havia certo nervosismo na maneira como ele acariciava o volante e a marcha, sem saber qual dos dois deveria segurar.

Petúnia, ao seu lado, trocava mensagens incessantemente. As unhas finas e pontudas, pintadas de um tom de azul escuro, batiam no teclado compulsivamente. Restou a Lilian observar a névoa da noite dissipar e dar lugar a um sol ameno.

Rapidamente, prendeu-se em devaneios bobinhos, criando cenas e canções ao seu bel prazer. O tédio consumindo-a e alegrando-a. Uma perfeita antítese. Foi arrancada, contudo, das divagações mentais com o parar suave do carro. Haviam chegado ao Instituto de Aprendizagem para Moços e Moças de Hogwarts.

O colégio era grande. Um gramado exageradamente verde estendia-se à frente de um enorme portão de ferro, que guardava a entrada. A escola estava abarrotada de alunos que chegavam e Benjamin teve alguma dificuldade em estacionar, mas, depois de algum tempo, conseguiu deixar as garotas o mais perto do portão de entrada que pôde.

Lilian desceu do carro. Observou que a maioria dos colegas chegavam em grupos. Apenas alguns, como ela e Petúnia, vinham de carro.

Petúnia correu de encontro aos amigos que não via há alguns dias, enquanto Lilian caminhava pela entrada. Gargalhadas e conversas animadas estavam por toda parte. Viu Alice e Frank juntos, de mãos dadas. Sorriu para eles. Percebeu quando Dorcas Meadowes chegou sozinha, com fones no ouvido e um grosso livro nas mãos – a típica Dorcas. Alguns veteranos conversavam perto do grande arco de pedra, que era a entrada de pais e professores. A rotina estava reerguida.

Lily ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora