Pequeno Pasha!

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Yusuf estava muito feliz naquela manhã porque eu tinha reservado o dia todo para brincar com ele. Ele quis primeiro ficar em seu quarto desenhando, sentamos os dois no chão e cada um faria um desenho. Ele como sempre tinha escolhido temas náuticos, sonhava em viajar de navio, que seria um grande capitão quando crescesse. Aquele garotinho tinha uma áurea doce, e o que eu desejava cada vez mais que estava com ele era protegê-lo das mazelas da vida. Era uma criança muito especial e eu sentia necessidade de suprir nem que fosse um pouquinho a falta que seus pais faziam. Na mansão todos tentavam dar carinho e atenção para ele, mas ninguém se dedicava integralmente, todos com os seus afazeres. Com tão pouco tempo de convivência eu já o amava como se realmente fosse meu sobrinho. Tinha que ter uma conversa com Yaman sobre ele dar mais atenção ao menino, já que esse o tinha como seu exemplo e espelho.

- "Tia, olhe esse navio é o tempestade", falava enquanto me mostrava o desenho – "ele é muito rápido, e transporta todo tipo de coisas gostosas pelo mar".

- "muito lindo meu pequeno, então eu acho que vou desenhar um farol, para que seu navio nunca se perca no mar e saiba como voltar para casa".

- "Isso tia, e quando eu crescer e ser o capitão do meu navio, a senhora vai ficar no porto me esperando retornar não vai?"

Eu só sorrio para ele, acariciando seus cachinhos, meus olhos começam a querer lacrimejar, tento disfarçar e me levando: -"querido, você está com fome? Vou na cozinha preparar um lanche para você e já volto esta bem?"

Saio do quarto e paro no corredor, respirando fundo para conseguir me controlar da vontade de chorar sabendo que infelizmente eu não estaria no futuro de Yusuf e que um dia teria que deixar aquela casa, consigo me controlar e desço as escadas em direção a cozinha para preparar um lanche para Yusuf.

Zuhal

Estou saindo do meu quarto quando escuto vozes felizes vindo do quarto do bastardinho. A porta está aberta e consigo ver e escutar ele e a tia lixo conversando felizes, o menino é apaixonado pela tia que mal entrou nessa casa já conquistou a todos. Quando percebo que Seher está saindo do quarto, me escondo atrás da pilastra enquanto ela desce para a cozinha. Nesse momento me passa uma idéia para afastar essa mulherzinha: e se Yusuf não estivesse tão feliz mais? E se ele voltasse ao estado inicial de quando perdeu sua mãe? Talvez Yaman veria que a tia não tinha serventia e lhe expulsaria da casa. Não vou ficar esperando pelos planos mirabolantes da minha irmã, ela estava demorando demais.

Entro no quarto de Yusuf e vejo que ele está desenhando: - "olá Yusuf, tudo bem com você? Que lindo seu desenho, o que é?"

- "um barco, e quando eu crescer vou ser o capitão do barco do meu tio!"

Sento-me na cama ao lado dele e digo inocentemente: -"mas querido, como você vai ser capitão do barco se você vai ser mandado para o orfanato? Você sabe, crianças como você que não tem mais o papai e a mamãe são todos enviados para o orfanato e lá vivem para sempre sozinhos, você nunca mais vai ver seus tios, eles vão te abandonar lá"! Ele me olha assustado, já com os olhos marejados, eu apenas concordo com a cabeça, me levanto e saio do quarto, quero ver agora essa felicidade toda durar. Vou para o quarto de Ikbal ver como anda os planos dela.

Seher

Quando estou subindo as escadas voltando para o quarto de Yusuf vejo Zuhal passando pelo corredor e indo em direção ao quarto de Ikbal, mas o que me chama a atenção é o sorrisinho sarcástico estampado naquela cara de capivara azeda ( as capivaras que me perdoem). Entro com o lanche no quarto de Yusuf e a cena que vejo me corta o coração, Yusuf deitado olhando para o teto, soluçando e com o seu rosto banhado em lágrimas: - "Yusuf, meu bebe, o que aconteceu meu querido?" Sento ao lado dele mas ele se vira de costas para mim. – "Yusuf, fale comigo, o que houve você está com dor?" Ele só acena com a cabeça dizendo que sim. – "onde dói meu querido"? Ele vira e aponta o estômago e o peito. Mando uma mensagem para Yaman: "Yusuf não está bem, venha para o quarto dele". Não dá um minuto e Yaman entra igual um toro pela porta: -"Pasha, o que houve meu pequeno leão?"

Ele vira se senta na cama e nos encara: - "vocês vão me abandonar?" Fala em meio a soluços, "vão me mandar para o orfanato?" Na hora eu me sento e o abraço: "nunca meu querido, nunca. Lembre do que falamos mais cedo, você quando crescer será um grande capitão de navio e eu e seu tio estaremos no porto esperando você retornar", falo isso olhado para Yaman, pedindo que ele confirme isso. – "Meu pequeno Pasha, quem você acha que vai te ensinar a comandar o navio quando você crescer? Claro que serei eu! Agora de onde você tirou essa idéia de que vamos te abandonar?"

Yusuf abaixa a cabeça e não fala nada, apenas se joga nos braços de Yaman que o abraça de volta com todo o carinho do mundo. É lindo ver tio e sobrinho juntos, por baixo daquela casca dura existe um coração que se derrete todo por Yusuf. – "Tio prometa que o senhor nunca vai me abandonar só porque eu não tenho mais mãe e nem pai"!

- "Nunca meu pequeno leão, eu estarei sempre com você! Sabia que tio e tia são meio pai e meio mãe!  Agora coma o lanche que sua tia fez e no fim da tarde vamos passear na beira da praia, o que você acha?"

A expressão de Yusuf muda completamente e ele dá um sorriso tímido, abraçando novamente o tio.

Yaman se levanta e vai em direção da porta: - "eu tenho alguns documentos para ler, mas qualquer coisa me chame". Eu vou até a porta e o agradeço por ter acalmado Yusuf. Ele acena com a cabeça: " eu estou aqui do lado, me chame se precisar, esta bem?" e vai para o seu escritório.

Me volto para Yusuf, sento ao lado dele, acaricio seus cachinhos: - "Yusuf, meu bebê, a tia Zuhal veio aqui hoje?" Ele me olha a sua carinha volta a ter aquele ar de tristeza: - "Sim, ela veio ver meus desenhos". Tinha certeza que aquela cobra mal matada tinha vindo atormentar o meu garotinho. "E o que ela achou dos seus desenhos?"

- "Ela gostou, mas disse que eu nunca poderia ser um capitão"

- "e porque não Yusuf?"

Ele me olha com aqueles olhinhos marejados: - "por que eu não tenho pai e mãe" e deita de volta triste na cama. Eu o pego no colo e o abraço, - "deixa eu te contar um segredo?" Ele me olha e diz que sim – "Zuhal é uma bobona e não sabe de nada", dou um sorriso para ele, "você vai ser o maior capitão do navio do mundo, e quando você estiver no seu navio você vai viajar para lugares que ela nunca vai conseguir ir".

-"vou viajar o mundo todo tia?"

-"sim meu querido, você vai conhecer lugares incríveis, vai para a África ver os elefantes, os leões, hipopótamos, as girafas..., depois você irá para o polo norte e vai ver pinguins, ursos, você irá para onde você quiser meu querido".

Ele da um suspiro: - "tia, a senhora esqueceu dos cangurus, quero muito conhecer os cangurus".

-Sim, os cangurus, os coalas, depois você pode ir para a China conhecer os ursos pandas, você gostaria?"

Ele responde todo animado e ali ficamos deitados na sua cama imaginando os animais de cada lugar que ele ira conhecer até que ele pega no sono, fico por um tempo velando o seu sono até ver que ele dorme tranquilo. Deixo-o  e vou em direção ao quarto de Zuhal, hoje ela vai ver com quantos paus se faz uma canoa!



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