Seher
Existem sensações que sempre serão as mesmas, a dor de levar um tiro, o cheiro de sangue e de pólvora, tudo isso ativa as memórias que insistimos em deixar no subsolo da nossa consciência. Enquanto Yaman me ajuda a entrar no carro, sinto minhas forças se esvaindo, não sei se pela dor ou pela perda de sangue, nesse momento me vem à memória o dia que eu e Selim quase fomos sequestrados por um grupo de rebeldes islamitas. Fomos mandados em missão para o Afeganistão junto com uma equipe que ajudaria na retirada das tropas americanas do território afegão, quando nosso comboio foi atacado. Selim estava no mesmo carro que eu quando fomos atingidos pela explosão do carro da frente. Tudo ficou em câmera lenta naquele momento, o barulho dos tiros e gritos, olho para o lado e vejo Selim ferido desacordado, começo a puxá-lo mas ele é grande, tem 1,80 de altura contra os meus 1,70. Reúno toda a minha força e consigo tirá-lo a tempo de não sermos atingidos por uma rajada de tiros, Selim me abraça forte, um abraço tão bom, eu poderia ficar morando naquele abraço para sempre, mas na minha lembrança Selim estava desacordado.
De repente acordo sendo abraçada por braços fortes e quentes, sinto um cheiro de perfume cítrico, me lembra limão, mas de muito bom gosto vindo daquele corpo. Instintivamente o abraço de volta, mas sinto uma fisgada no ombro e me recordo de tudo o que aconteceu. Yaman se afasta e vejo em seu rosto uma expressão pesada de preocupação, em seu olhar não tinha ódio ou raiva, o que eu vi parecia mais com olhar de medo, aflição. – "Você começou a delirar e a se debater, fiquei com medo que os pontos abrissem, por isso te abracei", disse meio sem jeito.
Fiquei ali parada olhando para ele, perdida naquele olhar e naquele cheiro por algum segundos, até que uma nova fisgada me trouxe de volta a realidade. – Vamos, deite-se, disse Yaman, você está fraca ainda, perdeu muito sangue. Venha vou te ajudar a beber um pouco de água, está com sede? - falou de uma forma carinhosa que nunca tinha visto. Só consegui assentir com a cabeça, minha garganta estava seca.
Y: - trouxe você para a cabana que pertence a pai Arif, aqui ele sempre mantém um kit de primeiros socorros para situações como essa. Mas porque você fez isso? Pulou em cima de mim desse jeito, poderia ter morrido. Você teve sorte da bala não ter perfurado nenhum órgão vital, mas pegou um vaso que foi difícil de estancar o sangramento.
Olho para o lado e vejo uma mesa na lateral da cama onde há gazes ensopadas de sangue, uma bandeja com tesoura, pinças, fio de sutura e a bala que foi retirada. Questiono: - você fez isso? Mas como?
Y: você não é a primeira pessoa que eu tenho que socorrer, quando se vive no mundo em que eu vivo é necessário saber dar uns pontos, aliás, você vai ficar com uma pequena cicatriz no seu ombro.
Só então me dou conta que ele tinha cortado a manga da minha blusa até a gola para ter acesso ao meu ferimento no ombro, mas ainda estava vestida com a blusa. "Mais uma cicatriz para a coleção" pensei na hora. Quando vi que ele começou a limpar a mesa, pedi para ficar com a bala, ele estranhou, mas me entregou sem questionar.
Fiquei deitada na cama, perdida sem saber a quanto tempo tinha ficado apagada, mas uma coisa tinha certeza, queria voltar a me aninhar naqueles braços.
Yaman
Quando fui colocar a tia de Yusuf no carro, ela desmaiou. Dirigi com toda a velocidade para o local mais seguro naquele momento, a cabana de Baba Arif, que ficava em uma aldeia afastada de Istambul. Tomei todos os cuidados para não ser seguido e liguei para Nedin:
Y:- Nedin, fomos atacados, caímos em uma emboscada, a tia de Yusuf foi baleada. Mande meus homens para o endereço que vou te passar, quero esse desgraçado que atirou em nós até o fim do dia em minhas mãos.
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Fiksi Penggemar... CASA COMIGO? ... CASA COMIGO? Essa frase não saía da minha mente, ecoando o tempo todo: CASA COMIGO? Eu disse não de impulso, não por que não o amava, mas por que ele não sabia a verdade sobre mim. Yaman acreditava que eu era realmente a tia de...