Anastasia
Parece que o demônio me tirou da minha mente.
Minha cabeça dói como nunca doeu antes. Até abrir meus olhos envia uma corrente de pontadas e náuseas insuportáveis.
Chuto os lençóis para longe e corro para o banheiro, vomitando uma grande parte da minha alma e dignidade.
Depois do que me parece séculos eu finalmente paro de ter espasmos e deslizo pelo chão, encostando minhas costas na parede fria. Estremeço e faço um esforço para abrir os olhos só para me encontrar quase nua.
Só no meu sutiã e calcinha.
Nada de vestido de noiva.
Nada de ligas.
Arregalo meus olhos e me levanto rápido. Minha visão fica turva e meu estômago volta a ficar raivoso. Respiro fundo e começo a me mover mais tranquilamente, evitando movimentos bruscos.
A primeira coisa que localizo é um copo de água e comprimidos para dor de cabeça. Abro a gaveta do criado-mudo e pego um remédio para enjôo, adicionando aos outros antes de empurrá-los na minha garganta com um gole generoso.
Eu preciso de mais alguma horas de sono, só depois disso que vou poder avaliar a situação e, principalmente, os estragos.
◕ ◕ ◕
Acordo algumas horas depois, eu acho. O relógio de cabeceira diz que são um pouco mais de três da tarde.
Minha dor de cabeça e enjôos sumiram, graças a Deus e me sinto quase humana de novo.
Me sento no colchão e olho ao redor do meu quarto, ascendendo o abajur para me auxiliar no meu julgamento.
Meu vestido de noiva está jogado sobre a poltrona, minhas meias e ligas sobre o carpete.
Arregalo os olhos e olho para o outro lado da cama de casal. Os lençóis amassados quase me fazem infartar, mas também não significam especificamente que Christian e eu dormimos juntos já que eu sou uma minhoca no sono.
Me levanto da cama com cuidado e caminho pelo carpete na ponto dos pés, abrindo uma frestinha da porta, só o suficiente para enfiar a minha cabeça e olhar no corredor.
O apartamento está silencioso e aparentemente vazio.
Pego o hobby que estava jogado sobre o sofá aos pés da cama e enfio meus braços nas mangas, fazendo um laço firme ao redor da minha cintura antes de puxar a porta aberta e enfrentar a minha vergonha.
O silêncio é quase sepulcral, sendo quebrado só pelo tique-taque contínuo do relógio na cozinha.
A sala está vazia, organizada e iluminada, o sol forte entrando pelas janelas panorâmicas.
— Christian? — chamo pelo meu amigo/marido, mas só recebo silêncio.
Faço meu caminho para o escritório, dando uma batidinha suave na porta antes de abri-la, mas também está vazio.
Volto para a cozinha, meu estômago roncando de fome. Um copo de suco e um bilhete sob ele chamam a minha atenção para a bancada.