60.

1K 98 18
                                    

A psicóloga decidiu terminar a sessão por ali, Lara estava inconsolável e ela não queria fazer a garota falar se não estava se sentindo confortável. Marcaram uma consulta pro outro dia e Miguel foi buscar a filha, que ainda deixava escapar alguns soluços. Os olhos da ruiva estavam vermelhos, seu corpo tremia e seu pai só não pegou ela no colo porque não tinha forças. Então os dois foram andando lentamente até o carro, ele abriu a porta pra ela, que entrou em silêncio.
Enquanto isso, Tainá saiu da escola e como prometido foi passar a tarde com seu irmão Leandro. Almoçaram no shopping, conversaram bastante e resolveram ir ao cinema ver O Extraordinário, acabou que no fim os dois saíram chorando e foram parar na praça de alimentação de novo. Pediram outro hambúrguer, cada um.

- Vou perguntar uma coisa, posso?- Leandro perguntou cauteloso, todo sujo de cheddar, fazendo a irmã assentir e passar um guardanapo em sua boca.- Então... é verdade que na festa, a Lara espancou a Pamela?
- Verdade.- O garoto arregalou os olhos.- Pamela beijou a força, a Lara viu e perdeu o controle.
- Pamela merece, não vou negar. Mas ficaram dizendo que a Lara era louca e que a Pamela não tinha feito nada.
- As pessoas não sabem de nada.- Tainá disse revirando os olhos.- Gostam de se meter em vidas alheias.
- Aquela lá não é a Pamela, sua amiga?- Apontou para a garota um pouco longe deles, estava em frente a uma loja.

Tainá virou pro lado e viu.

- É ela mesma, vou cham...- Sua fala foi cortada quando viu Pamela saindo de dentro da loja e indo de encontro a Loma.

Sua boca se abriu em um perfeito 'O'.

- Eu não acredito...- Disse boquiaberta.
- Aquela com ela não é a Pamela?- Tainá assentiu na mesma hora.- Que falsa.
- Eu não queria, mas vou ter que concordar com você, Loma é uma falsa e eu vou avisar agora mesmo pra Priscila e Kelly.- A morena criou um grupo apenas com elas três, contou o que viu e as meninas ficaram chocadas.

Não imaginavam que Loma faria isso, então resolveram se vingar e dar o castigo do silêncio. Não iriam falar com ela até ela abrir o jogo.
Enquanto isso, Pamela e Loma andavam pelo shopping, elas estavam virando "amigas" e mesmo Loma sabendo que isso era errado, estava gostando de andar com a senior da escola. O rosto da garota já estava voltando ao normal, agora haviam apenas alguns machucados no nariz.

- Não acredito que estou no shopping com uma tapada.- Pamela falou enquanto elas andavam até a praça de alimentação.
- Foi você que me convidou, idiota. Nem vem.
- Não sei porque fiz isso, você é insuportável.- Cruzou os braços e parou no meio do caminho.
- Então eu vou embora.- Loma deu um sorriso irônico e ia dar as costas, mas Pamela segurou sua mão.- O que foi? Eu sou insuportável,
tapada. Não é?
-Af...- Revirou os olhos.- Pare de drama, Loma.
- Nem sei porque está sendo legal comigo, é pessoa mais popular daquela escola e além disso, uma idiota por completo.
- É que, sei lá.- Soltou sua mão e deu de ombros.- Queria agradecer por me ajudar no hospital.
- Então você tem sentimentos?- Perguntou irônica.- Eu faria por qualquer um.
- Você é uma gracinha.- Pamela disse do nada e deu um sorriso sedutor, fazendo Loma arregalar os olhos.
- Eu tenho que ir!- Disse rápido, praticamente correndo dali.

Pamela ficou rindo quando viu a garota correr, mordeu o lábio inferior e sorriu maldosa. Loma fazia parte do seu plano e se tivesse que aturar aquela garota insuportável, infelizmente aturaria calada e também, quem sabe, fingiria mudar seu jeito de ser.

[...]

Quando Tainá chegou em casa, viu que o carro dos seus pais já estava ali. Leandro e ela entraram e viram os dois sentados na sala com o Alef.

- Crianças, que bom que chegaram.- Mariana falou séria, fazendo os irmãos se olharem rapidamente. - Sentem perto do Alef.
- Mãe, a festa não deu em nada! Viu? A casa está inteira.- Alef choramingou cruzando os braços.
- Não é sobre isso que queremos falar.- Carlos disse.- Mas falaremos depois.
- É sobre o que então?- Leandro falou confuso.
- Bem...- Mariana suspirou.- Sabemos que nos mudamos agora para esse bairro e sabemos que vocês estão a anos na mesma escola, com os mesmos amigos...
- E..?- Alef interrompeu.
- Me deixe falar!- A mulher disse séria, o fazendo ficar quieto.- E que a tia de vocês está em caso de vida ou morte, ela não tem família na cidade nova e precisa de cuidados praticamente 24h por dia. Tem uma casa para vender ao lado da dela e...
- E nada, mãe!- Tainá disse firme.- Não vamos nos mudar por causa de uma tia que nem nos importamos.
- Tainá, tenha mais respeito.- Carlos falou furioso.
- Mas olha só, logo você falando de respeito.- Disse debochada, fazendo Leandro e alef trocarem olharem apavorados.- A pessoa que mais NÃO tem respeito nessa casa é você.
- Tainá, menos...- Mariana disse tentando amenizar.- Ela é prima do seu pai, se fosse sua prima você faria o mesmo.
- Então porque o pai não mora lá sozinho?- Leandro perguntou.- Afinal, é prima dele.
- Porque somos uma família.- Carlos disse, fazendo Tainá revirar os olhos.- Eu não vou pra lá sem vocês.
- Então não vai.- Leandro falou rindo, mas logo cortou a risada quando viu a cara que ele fez.- Poxa, eu estou quase entrando no ensino médio, meus amigos são todos daqui. Eu sou anti-social! Não quero me mudar, seria injusto por causa de uma tia que mal conhecemos.
- Mas eu conheço e eu sou pai de vocês. Deveriam me apoiar e pensar na tia de vocês que está em risco.- Tainá ao ouvir isso começou a rir, foi uma bela piada.
- Você quer apoio?- Perguntou rindo e ele a olhou.- De mim, você não vai ter nunca.
- Tainá Costa, eu acho melhor você calar a boca.- Seu pai disse firme, vermelho de raiva.- Lembre-se que enquanto estiver debaixo do meu teto, receberá as minhas ordens.
- Não fale assim com ela, Carlos. É sua filha.- Mariana disse incrédula.- Não use esse palavreado com ela.
- Ela só está alterada assim por causa daquela vizinha.- Cuspiu as palavras e Tainá cruzou os braços, esperando ele dizer mais idiotices.- Se não fosse por aquela garota, tenho certeza que você iria sem reclamar.
- Olha, eu não vou perder o meu tempo discutindo algo que não vou fazer.- Levantou do sofá e estava indo até a porta, mas seu braço foi puxado com força.
- Eu não quero mais você me desobedecendo.- Carlos disse firme agarrando em seu braço, que já estava ficando roxo.

Tainá manteve a pose, mesmo sentido a dor absurda e com seus olhos cheio de lágrimas.

- Até que seria uma boa ideia você ficar, assim eu não preciso olhar todos os dias e lembrar da filha lésbica nojenta que eu tenho.
- Me solte...- Murmurou entre dentes, mas Carlos só apertou mais o braço dela.
- LARGA ELA!- Alef disse empurrando o pai.- VOCÊ NÃO VÊ QUE ESTÁ MACHUCANDO?
- Que tipo de pai você é?- Leandro perguntou incrédulo. Olha o roxão que deixou no braço dela!- O garoto foi até a irmã e tentou ajudar, mas Tainá abriu a porta e saiu correndo dali.

A morena sentia que seu braço estava quebrado, mesmo não estando. Ela respirou fundo e segurou nele com a outra mão, fazendo pressão pra dor passar um pouco. Chorava de dor, raiva, mágoa. Ela estava com medo de realmente precisar mudar de cidade e deixar a namorada e falando em namorada, sua primeira reação foi procurar refúgio em seus braços. Tocou a campainha inúmeras vezes.

- Tainá, o que aconteceu?- Miguel perguntou preocupado por ver a garota chorando quando abriu a porta, olhou para o braço dela e arregalou os olhos.- Meu Deus! Entre logo.
- A Lara, cadê ela?- Perguntou enquanto soluçava.

Miguel, sem pensar duas vezes, correu pela escada indo chamar a filha no quarto.

- Lara...- Disse abrindo a porta, encontrando a ruiva sentada na cama, tentando usar as configurações do celular.
- Sim, papai?- Perguntou desviando a atenção e olhando pra ele.
- A Tainá está lá embaixo, ela não está bem.- Falou rápido.

Lara jogou o celular em cima da cama e saiu correndo, desceu a escada rapidamente e viu a namorada chorando de pé. Seu coração ficou minúsculo. Ela se aproximou e não falou nada, apenas envolveu a morena em seus braços.

- Shhh...- Falou baixinho, deitando a cabeça dela em seu peito.- Não chore, amor. Eu estou aqui.

....…………............….……........................................

3/13

Trust me / tailaraOnde histórias criam vida. Descubra agora