Psicologicamente Afetada

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Estava tremendo na arquibancada fria, a temperatura do momento deveria estar pelo menos aos -2° celsius, mesmo com meu enorme casaco marrom, cachecol, touca e luvas, eu continuava gelada, nem tanto pelo frio e sim por estar acompanhando a final do meu time do coração aqui na Itália, Modena Volley era um dos times mais tradicionais por aqui, e estávamos agora disputando um jogo que seria crucial para o campeonato Italiano.

Nosso atual time não é tão ruim assim, nossas maiores falhas acontecem na defesa, como recepção de bola e bloqueio, estamos com um novo levantador e realmente da para ver que ele é bom, bem bom aliás, sei que é do Brasil e que por lá ele é um verdadeiro sucesso, infelizmente não tive a mesma sorte e competência que ele.

Hoje no auge dos meus 21 anos, sabendo que minha entrada no vôlei foi um fracasso e eu vim parar na Itália, sustentada pelos pais e em um time de série B. Treino miseravelmente todos os dias, incluindo fim de semanas e feriados, para ser no máximo “ boazinha “, não sabia se eu me bastava como ponta ou como levantadora, todos que me conheciam sabiam da ânsia em ser “ a levantadora “, eu queria ser a melhor, eu treinava pra isso, eu precisava disso.

Respiro frustrada, e não sei se é por ver meu time acabar de perder o jogo por 3 set’s a 0, ou por eu ter perdido metade do jogo me lamentando mentalmente pela minha vida de merda, levanto da cadeira enquanto acompanho os jogadores bem mais chateados que eu, indo em direção ao vestiário, vou descende a arquibancada para ir embora quando cruzo meus olhos pelo novo levantador do time que tinha uma enorme carranca em seu rosto.

— Pobre coitado — Sussurro para eu mesma ouvir. 

Arrumo minha bolsa e coloco minhas mãos no bolso até ir para o estacionamento, vou assoprando lufadas de ar até meu carro só para ver a fumaça branca saindo devido ao frio. Quando já estou dentro dele, coloco o cinto e dou partida, o estádio não ficava tão longe de casa e me odiei por querer que ficasse, precisava respirar um pouco, ficar sozinha, refletir se realmente o vôlei é o esporte da minha vida e se eu mereço tudo isso que estou passando.

Desde os meus 12 anos eu treino, comecei cedo já pensando em toda carreira, em cada fase que eu iria passar e colocando minha idade em etapas certas, com 17/18 anos eu já sonhava em jogar Olímpiadas, e com 17/18 anos eu me vi sem time, e sem alguém que quisesse realmente depositar seus treinamentos e força em mim, meus pais começaram a pagar um treinador particular para após um ano de aula, eu conseguir fazer com o básico de excelência os três fundamento primordiais do vôlei.

No começo minhas manchetes não encaixavam, meu levantamento dava dois toques e meu saque ficava na rede, o meu rombo psicológico foi gigante, eu me auto agredia verbalmente, me sentia inútil, um peso para os meus pais, uma fracassada total.

Ao chegar em casa e já estacionar o carro na garagem, abro a porta de casa e vejo apenas minha mãe se mantinha acordada.

— Olá — Digo tentando transparecer que está tudo bem.
— Oi filha — Minha mãe diz com felicidade no olhar — Está bem frio aí fora, não é?
— Eu sei que viu que perdemos. — A encaro e sei que ela desviou o assunto para tentar amenizar algo que dói em mim toda vez que o vôlei me decepciona.
— Foi apenas um dos jogos — Ela fala tentando me animar enquanto eu vou em direção a cozinha pegar um copo d’água.
— Um dos mais importantes, isso que você quis dizer — Engulo a água enquanto ela adentra a cozinha e me olha com os olhos de esperança.
— Daiane, uma hora as coisas vão mudar.
— Você diz isso a 9 anos.
— Você tem apenas 21.
— Tem atleta olímpico com apenas 17, porque eu não posso ousar me comparar a eles? Sou imprestável.
— Não, você não é. E não ouse comparar algo que não tem a menor possibilidade de comparação, cada um é cada um, cada corpo é um corpo, cada pessoa se aperfeiçoa de um jeito, mesmo que o seu jeito seja mais lento, continue tentando, faça isso por você.

Meus olhos ameaçam fraquejar e algumas lágrimas caírem, engulo a tristeza enquanto apenas aceno e vou em direção ao meu quarto, deixando uma mãe preocupada pra trás, e podendo me dar a liberdade de chorar.

Minha vida tem sido apenas lamentações, tristezas, choros, estou muito fraca, tanto mentalmente, tanto fisicamente, preciso mudar, preciso sair disso aqui, preciso urgentemente acreditar em mim mesma.

E foi isso, que eu fiz.

Disputa - Bruno Rezende (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora