20.º Capítulo - Esta é a situação

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- Sónia? – Indaguei perplexa com a sua presença.

Eram nove e meia da noite, quando ouvi a campainha e nunca imaginei que do outro lado da porta estivesse a Sónia. De rompante, entrou em casa. Soltou os seus cabelos longos enquanto atirava o seu sobretudo branco com botões dourados para cima do sofá. Não obstante, a corrente fria que tinha entrado com a abertura da porta, as suas bochechas estavam coradas como se tivesse vindo com urgência até ali.

- O que se passa aqui? – Perguntou, com as mãos na cintura. – Quando o meu irmão, Axel decidiu que tinha que lidar contigo diretamente, não era este o resultado que tinha em mente.

- O que estás aqui a fazer? Não devias estar em Portugal? – Perguntei, ainda baralhada com a sua presença inesperada. Contudo, isso não impediu que vários receios entoassem dentro de mim. Será que ela de alguma forma sabia o que tinha acontecido? Teria o Axel contado?

- Como iria ficar em Portugal, sabendo que o teu livro mal começou e o Axel que sempre foi exigente e acima de tudo, pontual repentinamente disse que precisavas de mais tempo. Nós temos contractos! Nós temos prazos a cumprir e a única coisa que o faria mudar de opinião acerca disso, seria…

- Sónia… - Comecei. – Podemos ir falar lá dentro?

Acompanhou-me sem que fosse preciso insistir. Com certeza, o Axel já teria ouvido a voz agitada da sua irmã, porém, seria muito complicado ter aquela conversa na presença dele. Preferia falar com ela em privado.

No momento, em que ela se sentou na cama, contei-lhe que a minha relação com o seu irmão estava longe de ser pacífica e que nos primeiros tempos, não houve grande progressão no meu livro e que a culpa não era só dele e sim minha. Depois dessa fase, expliquei-lhe que se seguiram recusas da parte dele em aceitar o que escrevia e portanto, sem entender o que pretendia, isso também não ajudou. Todavia, atualmente, as coisas estavam a encaminhar-se, pois apesar do tempo dedicado ao meu estágio na empresa TradMaster, agora as páginas estavam a fluir com mais facilidade. No entanto, seria impossível cumprir o prazo previsto.

A Sónia ouviu atentamente, sem nunca cortar o meu discursivo ainda que nos seus olhos estivessem inerentes várias perguntas. Mesmo sem dizer nada, podia ver como questionava alguns silêncios em que tentava não entrar em demasiados detalhes.

Contudo, no fim da minha exposição dos factos, veio a pergunta que me fez estremecer.

- O que é que não me estás a contar, Catarina? Não pode ser apenas isso. O meu irmão não tomaria uma decisão tão arriscada quanto essa, só por isso.

Uma corrente de suor frio percorreu o meu corpo. Estava fora de questão falar-lhe sobre exatamente de tudo o que tinha acontecido. Teria que falar de sentimentos que eu não compreendia como podia ele nutrir algo assim por mim. Se é que isso era verdade e ele não estava apenas confuso.

- Vou dar o meu melhor. – Falei com a voz trémula. – E tentarei acabar o livro o mais depressa possível para não prejudicar ninguém.

O seu ar desconfiado manteve-se durante alguns segundos, antes de mudar a sua expressão. Numa fração de segundos, deixou de estar pensativa e passou a sentir-se assombrada pelos pensamentos que lhe passavam pela cabeça. Era como se de alguma forma, tivesse conseguido desvendar a atmosfera daquele lugar. Quase imediatamente, ergueu-se da cama e sem dizer uma só palavra, correu até ao outro quarto que ficava no outro extremo do corredor. Tentei ir atrás dela. Não queria que confrontasse o seu irmão. Ele iria dizer coisas que eu não queria que mais ninguém soubesse.

Porém, tudo aconteceu muito rápido. Sónia abriu a porta do quarto, onde Axel se encontrava, sentado na cama com algumas folhas na mão. Ao ver a sua irmã, sorriu um pouco e disse que não esperava vê-la por Espanha. Ignorando totalmente aquela tentativa de desviar a sua atenção para uma conversa mais banal, ela perguntou:

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