32.º Capítulo - Ódio e Amor, dois lados da mesma moeda

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- Mas já passaram alguma imagem? – Perguntou o Axel, vendo que a apresentadora de um programa de televisão, anunciava que tinha um exclusivo em mãos e que iria revelar os nossos rostos durante a emissão. – Estou a ver… - Afirmou, continuando a observar o espetáculo em que tudo aquilo se transformava. As especulações atingiam limites inacreditáveis enquanto, ouvia algumas palavras do Miguel que dizia que movendo vários processos, conseguiu até aquele momento, impedir que as nossas imagens fossem tornadas públicas. Todavia, outro fator também ajudava. Por algum motivo, Fabiana também parecia estar a libertar a informação gradualmente, provavelmente procurando que as ofertas pelas informações aumentassem. Só que além de Fabiana, se bem tinha percebido, havia outra pessoa com essa informação em mãos e o Miguel encontrava-se de mãos atadas, pois não fazia ideia de quem seria essa pessoa. À medida que tanto ele como o Axel trocavam teorias, procurando chegar a alguma conclusão, comecei a pensar nas pessoas que conhecesse e que quisessem prejudicar-me. Como desde da morte do Guilherme, a minha lista de contactos frequentes era terrivelmente reduzida, todas as hipóteses me pareciam demasiado improváveis. O meu pai não era sequer uma hipótese e não conseguia ver a minha mãe a fazer algo assim, por muito que me tivesse mentindo durante todo aquele tempo. Ela não desceria a tal ponto, mas além dela, poucos conheciam a verdadeira identidade por detrás do meu pseudónimo. Sendo assim, restringi na minha mente aos nomes que sabiam disso. Além dos meus pais, a Fabiana tinha descoberto, a Joana tinha deduzido, mas não fazia sentido, a Sónia preocupava-se demais com a minha carreira e jamais faria algo que me prejudicasse a mim e ao irmão… Subitamente, a imagem dos pais do Guilherme cruzou as minhas hipóteses. O que ganhariam com isso? Nada. Aliás, não havia motivo algum para me quererem mal, a não ser que…

- Catarina? O que foi?

- Preciso fazer uma chamada. – Falei, indo até ao telefone que se encontrava perto do sofá. Introduzi o indicativo exigido para chamadas internacionais e em seguida, digitei os números que ainda se encontravam nas minhas memórias. Tocou umas três vezes e a voz da mãe do Guilherme soou do outro lado da linha. Era como se regressasse no tempo e aquela fosse uma ocasião normal em que ligava para a sua casa para lhe perguntar pelo seu filho. Contudo, rapidamente a realidade regressou com o som da televisão que teimava em recordar-me a situação atual. – É a Catarina.

- O que queres?

O seu tom era quase irreconhecível. A mesma mulher que há anos atrás falava de mim como se fosse uma filha, agora dirigia-me um tom frio e cortante.

- Suponho que saiba das notícias e queria saber se por acaso, alguma vez comentou sobre o meu pseudónimo com a Marisa. – Falei, tentando manter a seriedade daquela situação sem deixar-me afetar pela sua frieza. Seguiu-se algum silêncio que denunciou que mesmo que tivesse sido por casualidade, ela tinha contado à Marisa o único segredo que o Guilherme provavelmente teria mantido. – Podia dar-me o número da Marisa? – Insisti. – Preciso falar com ela.

Não me negou esse pedido e acabou por dar-me o número sem mostrar resistência. Era estranho para mim falar com ela com aqueles silêncios demorados que antes eram repletos de perguntas e da simpatia que emanava da sua voz.

- Marisa? – Indagou o Axel. – Estás a falar daquela tipa que encontrámos quando fomos ao cemitério? A que tinha o miúdo?

- Sim. – Confirmei, marcando número dela.

- Espera, não será melhor deixares o Miguel falar com ela primeiro? – Perguntou num tom apreensivo.

- Depois, gostava de ter a certeza de que ela está mesmo por detrás disso. – Afirmei, ouvindo o primeiro toque. – Não quero acusar ninguém injustamente e também queria entender os seus motivos para fazer uma coisa destas, passado tanto tempo.

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