26.º Capítulo - Correspondência

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“1 de Abril de 2013

Olá Axel

Dizer que não esperava a tua carta, não deve ser uma novidade para ti. Porventura, esta deve ser a única forma de conseguir dizer as coisas que me desgastam por dentro. Sem que para isso, precise de magoar-te. Estranho como a escrita sempre foi a minha ferramenta, a minha alma, a minha vontade e no entanto, falhei em recordar-me de como ela seria o melhor veículo para dizer-te as coisas que gostava que soubesses.

Quero que saibas que apesar de toda esta incoerência entre ações e palavras que verás aqui, agradeço que fiques do meu lado, mesmo quando eu menos mereço. Mais do que nunca, merecia ficar sozinha e não obstante, tu não o permites, ouvindo e passando por situações que não mereces. Quero que saibas que ainda que as minhas ações ou palavras não escritas digam o contrário, significa muito para mim que estejas ao meu lado. Sozinha, não aguentaria. Sozinha, seria impossível.

Todavia, a dor, essa continua e em carne viva. De tão intensa que chega a ser, impede-me que consiga enxergar em mim, as qualidades que dizes que tenho e nas quais não consigo acreditar. Ouvi dizer que o tempo cura, porém, a cada dia que passa, sinto que mais um pedaço de mim, morre com aquelas lágrimas que deixo cair.

Em tudo isto, há uma verdade por mais dolorosa que seja, amei uma mentira. Amei ao ponto de ter noites em branco, de sentir borboletas no estômago, de sonhar acordada, de escrever numerosos poemas infantis e inocentes, de sorrir apenas por pensar nele, de chorar quando as lágrimas dele ficavam presas, de sofrer por ele e até se pudesse, se a ocasião o tivesse pedido, morreria por ele, sem hesitar. Mesmos sabendo, o que sei hoje, morreria por ele porque o amor para ser verdadeiro, não precisa de ser recíproco. Não imaginas o quanto dói pensar nas verdades que lhe ofereci e ele nunca me achou digna de as receber de volta. Por sentir isto, esta ferida aberta de amor que na verdade nunca foi correspondido, gostava que te apaixonasses por outra pessoa e não agonizasses como penso que irei fazê-lo para o resto dos meus dias.

Lamento, se a minha carta não te deu as esperanças de uma recuperação ou perspetivas de um futuro melhor. Não posso mentir. Não agora e não à escrita que como tu mesmo disseste, é a verdade mais incontestável da minha vida.

Até uma próxima, carta.

Catarina”

Essa foi a carta que deixei de madrugada no quarto do Axel, usando a mesma técnica que ele usara comigo. Empurrei a carta por deixado da porta. Como não tinha nenhum envelope, apenas dobrei a folha de papel ao meio e empurrei-a para que alcançasse o interior do quarto. Em seguida, regressei ao meu quarto com uma estranha sensação de algum peso que saía do meu peito. Quiçá, precisasse mesmo daquele pedido desculpa e explicação. Saber que o magoava com as minhas atitudes mostrava ser mais uma das causas do meu sofrimento.

Por conseguinte, mesmo não tendo dormido parte da noite, não podia dizer que me sentia tão mal como há algumas horas atrás. Parte de mim, também dizia que precisava estar mais apresentável e controlada visto que não queria envolver ninguém da TradMaster nos meus problemas pessoais. Temia que ao tentar dizer-lhes que não se passava nada, poderia acabar por desfazer-me em lágrimas e isso, não podia acontecer de forma alguma.

- Estou mesmo a precisar de fazer algum exercício. – Atirei as calças que ia vestir para cima da cama e peguei noutras que costumava usar com cinto, mas pelos vistos, tinha ganho algum peso para poder usar sem precisar de algo que a segurasse. A ideia de comer e passar o dia todo deitada ou comer e não fazer exercício algum, começava a chegar até a mim. Por um lado, até achava estúpido estar a preocupar-me com o meu peso, já que há alguns dias trás, pensara em suicídio. No que estaria a pensar? Queria parecer elegante dentro do caixão? Abanei a cabeça, afastando aqueles pensamentos incoerentes da minha mente. Se bem que antes de sair, apenas tirei um iogurte líquido do frigorífico. O Axel continuava a dormir e para variar, se ele não fizesse o pequeno-almoço, eu não me dava ao trabalho de fazer algo para mim.

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