18.º Capítulo - Erro

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- Bom dia. – Falou, mal me viu entrar na cozinha ao que respondi com as mesmas palavras. O entusiasmo era menor sem dúvida alguma porque para mim não era possível estar bem-disposta tão cedo.

- Obrigada. – Agradeci quando pousou ao lado uma caneca de leite com café bem quente à minha frente.

No momento em que ia pegar na caneca, apercebi-me da presença de um envelope sobre a mesa, mais concretamente à minha frente. Olhei de soslaio para Axel que com tranquilidade, sentou-se à minha frente, também com uma caneca de conteúdo quente e com um pequeno prato de torradas que ocupava o lugar central da mesa. Perguntei-me sobre o que estaria no interior do envelope, abri-o e encontrei duas passagens de avião da Ryanair. O destino? Portugal, sendo mais precisa, a minha cidade natal: Porto. As minhas mãos tremiam ao recordar-me da conversa da noite anterior.

Por conta própria, Axel decidira que tinha que regressar a Portugal para poder confrontar a realidade, ou seja, visitar, pela primeira vez, a campa do Guilherme. Porém, para mim aquilo era demasiado repentino. Além disso, teria que ausentar-me novamente da empresa TradMaster. Logo agora que tinha acabado de desculpar-me devido aos dias em que não apareci sem dar qualquer justificação.

- Não posso fazer isto agora, Axel. – Falei por fim.

- É o meu presente de S. Valentim para ti. Fica feio recusar. – Respondeu em tom de brincadeira.

- Estou a falar a sério. – Afirmei mantendo o tom sério. – Tenho responsabilidades. O meu estágio na TradMaster é essencial para conseguir acabar o meu grau de mestre.

- Isso, não serão apenas desculpas para não visitares a campa do teu ex-namorado? – Provocou num tom francamente seco comparado com a brincadeira que houvera na sua intervenção anterior.

- Sei que preciso de voltar, mas não agora. – Insisti. – E não precisas de ser tão rude e atirares-me esse género de coisas à cara.

Não apenas o seu tom e também a sua expressão compartiam a mesma rispidez quando respondeu:

- Estou apenas farto que continues a fugir de problemas que precisas de resolver e para isso, qualquer desculpa serve. O teu estágio não deveria ser mais importante que os teus problemas pessoais.

Sem sequer ter a oportunidade de tocar no pequeno-almoço, levantei-me e sem fitá-lo, rasguei o envelope juntamente com as passagens perante o seu silêncio e à sua frente. Em seguida, apenas disse:

- Não te pedi nada.

Abandonei a cozinha e em poucos minutos, saí de casa em direção ao meu trabalho. Fi-lo o mais rápido que pude para que ele não pudesse ver as lágrimas que começaram a cair, mal coloquei o primeiro pé fora de casa. Ele não precisava falar daquela forma comigo. Se tinha passado pelos mesmos sentimentos que eu devia pelo menos, ter cuidado com a forma como expunha as suas opiniões.

Peguei no telemóvel para chamar um táxi quando ouvi uma voz conhecida a chamar por mim. Retirei o meu polegar do botão para efetuar a chamada quando vi o Célsio. Às vezes, esquecia-me que ele vivia nas redondezas e que pelos vistos, tinha arranjado um pequeno carro para se deslocar até ao trabalho. Acabei por aceitar a sua boleia e como ainda era cedo, fomos até uma pastelaria já que ao menos eu, precisava de comer qualquer coisa.

- Hoje pago eu. – Afirmou ele com um sorriso e acrescentou. – É o meu presente de S. Valentim para ti.

O que se passava com os homens e o dia de S. Valentim? Não seriam os primeiros a esquecer-se de uma data como essa? Queria eu que estivessem a ignorar a data embora tivesse que admitir que aceitar um pequeno-almoço era melhor do que aquelas malditas passagens de avião.

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