Perigosa Obsessão

Celeiro

       

          Diferente da última vez em que Mellanie se lembrava de ter desmaiado, dessa vez ela despertou em um lugar totalmente diferente, o ambiente escuro e a dor insuportável em sua cabeça dificultavam ainda mais sua visão.
          - Mell você acordou? Você tá bem? - Mesmo em desepero, ouvir a voz de Luna a acalmou um pouco, ao mesmo tempo que a preocupou extremamente, sua irmã estaria machucada como ela? E seu sobrinho (a)?
          - Aí! Gemeu alto Mellanie ao tentar se movimentar muito rápido. 
          - Luna você está bem? Onde estamos?
          - Eu estou bem, não se preocupe,  como está sua cabeça? Tomara que seu homem arrebente a cabeça do idiota que te machucou! - Era visível o tom de voz de Luna de alguém que tinha chorado muito.
          - Ele não é meu homem. Mas também espero que ele se vingue por mim, minha cabeça dói muito. - Passando a mão sobre a testa, Mell se sentiu paralisada ao constatar a presença do líquido grosso que banhava seu rosto, ela nem tinha notado o sangue antes, e notar foi o suficiente para a apavorá-la ainda mais.
          - Ainda estou usando meu relógio com lanterna, vamos descobrir onde estamos. - Luna logo fez clarear um pouco o local, não muito, porém o suficiente para fazer a dor de cabeça da irmã triplicar, e também lhe revelar a face ensanguentada da mesma.
          - Mellanie!!! Você tá lavada em sangue!!! Mell você não pode morrer!!! - Sem notar o quanto ela tinha subido as oitavas da voz, Luna gritava piorando mais a dor da irmã.
         - Luna!!! - Berrou Mell usando suas forças interior! - Você precisa se acalmar, falar mais baixo e tirar o feixe de luz da minha cara se nao eu vou mesmo morrer de tanta dor de cabeça!!!
         - Me desculpa, me desculpa!. Implorou Lunna agora duas oitavas a baixo no tom de voz e retirando totalmente o feixe de luz da visão da irmã.
         O lugar em que estavam mais se parecia com um celeiro, os fenos e o cheiro era bem característico também!
          - Mell, eu sei que não quer mexer na sua cabeça, más precisamos fazer o sangramento parar, você já perdeu muito sangue...
          - Não! Não chegue perto da minha cabeça. Se encolheu Mell feito um gatinho acuado, ela não tinha estômago para ferimentos e sabia que o seu não era um dos melhores...
          - Eu sei que está doendo, más confia em mim, se eu não parar esse sangramento, pode ser tarde demais, essa sua dor não é apenas pela pancada, confia em mim, só temos uma a outra aqui, deixa eu cuidar de você,  por favor.  Usando seu melhor tom de forte e convincente,  Luna tentou passar confiança à Mell.
         Rasgando um pedaço da manga de sua camisa, Luna improvisou uma faixa e lentamente conseguiu cobrir o ferimento de Mellanie diminuindo também o pavor da garota.
         -Obrigada! Extremamente agradecida,  Mell encarava a irmã e a admirava pela coragem, nunca imaginou  a caçula mimada agindo como uma adulta responsável!
        -Shiii! . Sem entender, Mell se viu sendo silenciada pela irmã. Porém antes de a questionar ela também ouviu os passos, tinha alguém vindo...
        O barulho assombroso da porta se abrindo só fez o terror das garotas aumentarem e a claridade que veio do lado de fora mostrava que não havia se passado muitas horas desde o ocorrido, ainda era dia e isso era um bom sinal. Porém o lado ruim de tudo isso era que, mais uma vez, não era Thor quem abria a porta e sim outros estranhos extremamente armados.

         - Vejamos o que temos aqui!!! Com a voz asquerosa o que parecia ser o chefe do grupo tentou uma aproximação.
         - Se não quiser morrer é melhor não se aproximar, seu idiota!- Luna parecia demostrar uma confiança incrível e para Mell era a primeira vez em que ela podia conhecer esse lado da irmã, que sempre se mostrou mimada e delicada demais.
         Porém,  a fala da garota não fez mais do que causar uma crise de risos medonhos aos recém chegados.
         - Acho que você não sabe ainda quem sou, más vou me apresentar... O que estava a frente iniciou, porém sua fala foi cortada ao meio pela petulante Luna.
         - Nem perca seu tempo, não estamos nem um pouco interessadas em saber quem é você,  perderá toda essa pose de Macho alfa quando os Brassard se vingar por vocês terem machucado a sua mulher!
         - Talvez você tenha razão, mas posso te garantir que ele ficará agradecido quando souber que demos um fim em sua cunhada biscoiteira!!! - O homem que agora parecia ainda mais irritado pela audacia da garota, quebrou a distância que os separava puxando sem pena alguma os braços finos e delicados da caçula a trazendo para si.
         - Não ouse tocar um dedo na minha irmã ou eu juro que acabo com a sua vida!!! -  Tentando ao máximo se manter acordada, Mell falou mais parecendo embriagada pela dor.
          - Não se preocupe ruivinha, ela vai adorar, eu te garanto! - Arrastando Luna para fora do celeiro o homem ignorou os gritos de ambas.
          - Quem foi o idiota que bateu na cabeça da ruiva?! Berrou o homem aos seus comparsas ainda segurando a caçula em seus braços. Porém não obteve resposta alguma.           
          - Incompetentes! Façam o sangue parar, precisamos da garota viva, e não me interrompem, vou estar ocupado com essa morena!!!
          - Não, Fuja Luna! - Mell gritou usando suas últimas forças jogando o que achou perto em direção ao homem que segurava sua irmã,  não o machucou, más foi o suficiente para tirar a atenção dele.
         Usando a manobra aprendida na aula de auto defesa, Luna conseguiu escapar do aperto do homem, o suficiente para lhe permitir correr feito louca, não sem antes olhar e receber o pedido da irmã de que ela fugisse o mais rápido. Ela sabia que o estranho tinha razão, Thor não a salvaria, ele mesmo já tinha tentado a matar antes, para ele seria apenas um favor. Sabia também que Mell, apesar de ferida, estaria mais segura que ela naquele lugar, precisava pensar nela, e no bebê que ela levava em seu ventre. Sem pensar e sem mesmo olhar para trás,  Luna correu, deixando as lágrimas molharem seu rosto ela simplesmente correu sem rumo pelo mato a dentro, talvez, se tivesse sorte pudesse encontrar alguma casa para pedir ajuda.

       Pobre Luna! Estava cansada e com dor, sabia que não era a melhor opção correr tanto enquanto tinha apenas poucas semanas de gestação. Escorrando-se em uma árvore ela soluçava baixinho enquanto suas mãos acariciava sua barriga tentando acalmar seu bebê e amenizar a dor que estava cada vez pior.

          - Morena! Eu sei que você está perto, posso sentir seu medo, você não vai escapar de mim! - Ver cenas do tipo em filmes de terror a amedrontavam, porém ali ela sabia que precisava ser corajosa, com tão pouco tempo grávida e ela já sentia o instinto materno dentro dela gritando para salvar seu filho! Tentando ao máximo não fazer barulho com seus passos, ela tentava colocar mais distância entre ela e seu perseguidor.

         - Devo confessar que você tem um belo golpe, porém um passo a mais e eu explodo esse seu rostinho lindo. - Para o terror da garota ela ouviu o engatilhar de uma arma, seu perseguidor a tinha encontrado!!!
          - Isso, seja uma boa garota que eu prometo gozar bem rápido! - Sorrindo escancarado diante do terror nos olhos da menina, o homem se aproximava dela lentamente sem tirar a arma de sua mira.
         - Você tem razão,  Thor iria mesmo adorar que eu morresse sem se importar em que forma seria, porém aposto que Matheo não pensará o mesmo! -  Ela não tinha certeza disso na verdade até achava que Matheo já nem se lembrava mais da existência dela, porém estava em apuros e usaria o que fosse preciso para sair daquela situação ela e seu bebê sãos e salvos.
         - Qual é,  só porque está dando para aquele idiotinha?! Acha mesmo que ele se importaria se eu tocasse em você? Pra ele você não passa de uma noite de foda, sua piranhazinha!!! - Às palavras daquele estranho não eram para a ter atingido tanto, ela mesmo sabia que era exatamente isso que ela significava para Matheo, uma noite de foda, porém ouvir isso de outra pessoa doeu e as lágrimas que desceram mais uma vez em seu rosto só aumentou ainda mais o prazer do homem a sua frente.
         

          - Eu acho que os dois estão enganados! - Uma terceira voz masculina se fez presente chamando a atenção deles, o homem que antes tinha a mira voltada para a garota, agora apontava a arma para o intruso que não era Matheo,  más pela postura era visível que se tratava de um dos homens dos Brassards.
          - Abaixa essa arma Barnn, nós dois sabemos que você não é homem o suficiente para ferir um de nós, você sabe que está fodido por mexer com a mulher do Thor, não piore ainda mais para você!!! O Intruso que ainda tinha a arma no coldre da calça parecia extremamente tranquilo naquela situação.

           - Você tem razão, só que dessa vez eu tô arriscando tudo e não tenho nada a perder!!! O estranho que agora Luna sabia se chamava Barnn ainda apontava a arma para o intruso, suas mãos estavam trêmulas e ele realmente parecia prestes a atirar no intruso que se aproximava lentamente ainda sem sacar a arma.
          Assustada, Luna desejava simplesmente aproveitar a distração deles e fugir, porém a dor que ela sentia a impedia de sequer conseguir dar um passo, então só o que restava era olhar nos olhos o intruso que sem medo, se aproximava de Barnn, o barulho do tiro atingindo o braço do intruso a fez gritar, porém não o impediu de acabar com a distância entre ele e Barnn que ainda sem acreditar se via erguido pelo pescoço pelo homem a qual acabara de balear.
         Sem acreditar no que via a sua frente,  Luna soube que independente da dor, ela precisava fugir dali, aquele intruso era ainda pior que o tal Barnn que tentava lhe estrupar, como uma pessoa leva um tiro e simplesmente continua andando até estrangular sua vítima com o membro ferido pela bala?! Lutando contra a dor que a dominava e a visão que começava a ficar turva, Luna se forçou a dar passos distanciando-se da cena medonha.
          Apoiando-se nas árvores a garota sabia que não conseguiria ir tão longe mais, e a última visão que teve antes de se afogar na escuridão,  não a dava certeza se algum dia despertaria ou não,  o intruso parado em sua frente e com o braço e mãos banhados em sangue a encarava.