Capítulo 21

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Confesso que estava tensa.

Minha mãe quase surtou com minha ideia de trazer o Bebeto para almoçar aqui, mas até que não durou muito, ela logo estava perguntando que comida ele poderia gostar.

Eu até tinha um pouco de dó, pelo o que o investigador falou, ele foi tirado dela por ser muito nova, ou seja, nada ela poderia fazer.

-Será que ele vem? -Perguntou enquanto batia os dedos no estofado do sofá.

- Eu espero que sim, quero resolver logo essa situação. -Respondi suspirando. -E o pai?

-Está trabalhando. -Ela revirou os olhos. - Ele não aceita que o filho virou bandido e por isso não veio.

-Como sempre, foi fazer média no hospital e depois sumiu de novo. -Murmurei. -Tomara que Bebeto não tome raiva por causa disso e decida nos virar as costas.

- Não vai, eu espero. -Minha mãe murmurou e encarou o relógio. -Ele está atrasado, já são quase duas da tarde, não sei porquê teve essa ideia, ele está cagando pra todos...

A fala da minha mãe foi interrompida com um barulho do portão batendo, logo passos foram ouvidos e a figura de Bebeto apareceu, ele estava acanhado de um jeito que nunca vi.

-Desculpa a demora. -A voz dele soou firme. -Posso entrar ?

-Tu pergunta isso depois de abrir o portão e subir as escadas? -Dei risada. -Entra logo, estamos com fome.

Bebeto realmente estava meio com pé atrás, ele entrou todo desconfiado, me ajudou a levantar e nós seguimos para a cozinha.

Nos sentamos, minha mãe colocou minha comida e ainda foi tentar colocar a dele, mas obviamente foi bloqueada.

- Eu coloco minha comida. -Ele disse sério.

Vi minha mãe engolir seco e assentir, mas quando percebeu a dificuldade dele pra tirar um pedaço de lasanha, foi ajudá-lo.

-Deixa eu te ajudar. -Ela pediu estendendo a mão. Ele parou por alguns segundos e estendeu o prato.

Depois de tudo pronto, comemos entre algumas conversas aleatórias, eram sempre conversas entre minha mãe e eu ou Bebeto e eu, nunca eles dois.

Mas isso estava pra mudar.

-Olha só, vim aqui, comi, bebi e tomei sorvete. -Bebeto começou a dizer. -Mas a história que eu quero saber mesmo, não saiu, cadê?!

Encarei minha mãe, que estava visivelmente nervosa, e ela suspirou, pedindo pra gente sentar no sofá, onde teria essa conversa. 

-Vamos lá. -Ela tomou fôlego e começou a falar. -Conheci o pai de vocês muito jovem, praticamente uma criança, aos 9 anos. Estávamos sempre grudados, éramos vizinhos, estudávamos na mesma escola, ou seja, de tanto andarmos juntos, criamos sentimentos um pelo outro e com 13 anos começamos um namorico escondido...

-13 anos? -Bebeto interrompeu e depois debochou. -Ainda reclamam das crianças de hoje em dia...

-Pelo menos depois eu casei com ele e ainda fiquei por muitos anos. -Minha mãe rebateu. -Voltando, namoro pra lá e pra cá, pá, tivemos nossa primeira vez, mas éramos novos, não sabíamos nada de métodos contraceptivos e por isso não demorou pra eu engravidar. Foi um choque pra todo mundo, principalmente pra gente. Mas o pai de vocês me ajudou em tudo, ele falou que íamos casar e depois casamos mesmo, mas tudo mudou quando o Alberto nasceu. 

-Essa é a parte que quero saber. -Bebeto se arrumou na poltrona. 

-Obviamente ele nasceu em casa e só deu tempo de dar o primeiro mamar, meus ex's sogros tiraram ele de mim. -Minha mãe fechou os olhos, provavelmente imersa em suas memórias. -Disseram que éramos novos pra ter filhos, que outra pessoa ia cuidar melhor, em melhores condições e simplesmente tiraram você da gente. 

Da Boca 『L7NNON』Onde histórias criam vida. Descubra agora