Prólogo

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Março de 2016...

"Eu e seu pai nos separamos, minha filha. Vamos ter que reconstruir nossa vida. "

Foram essas palavras que minha mãe jogou em cima de mim.

Foi um baque forte, quase não acreditei.

Mas assim foi como chegamos no Morro da Chapada, na cidade de Realengo. 

Eu e minha mãe, apenas. 

Nos mudamos e fomos tentar a vida na comunidade.

Minha mãe trabalhava no asfalto e eu ficava em casa, porém precisava trabalhar pra ajudar em casa e pela realidade a minha volta, tive uma única saída pra ganhar bem e de forma rápida.

Depois de pensar mil vezes, esperei minha mãe sair e fui em busca da minha ideia.

Caminhava nos becos tentando achar o lugar onde os caras ficavam e me senti ainda mais tensa quando vi uns 3 homens segurando fuzis em frente a uma casa.

Engoli seco e fui até eles, que me olharam de cima abaixo.

-Tá perdida, patricinha? -Um deles falou enquanto me encarava.

-Preciso falar com o chefe de vocês. -Minha resposta fizeram os três darem risada.

Mas eu entendia, parecia uma piada, uma menina como eu estar aqui e ainda fazendo esse pedido.

-Tá mandada, patricinha? Acha que isso é mole? -O mesmo cara deu um passo em minha direção.

-Eu não estou mandada, só quero falar com ele. -Respondi séria. -É urgente.

Os homens se encararam e o cara que falou comigo fez sinal pro outro menino, esse entrou e demorou uns minutos até voltar.

Nesses minutos, confesso que minha vontade era sair correndo mas não tinha mais nada a fazer, era isso e isso.

-Pode entrar, patricinha. -O menino avisou. -Mas se você fizer qualquer coisa com ele, você vai rodar junto, falô? Nós não vai ter dó de tu, não.

Engoli seco enquanto assentia e assim entrei na casa.

O cheiro de maconha era forte, o que me fez tossir um pouco.

Um cara logo apareceu.

Alto, forte, cheio de tatuagens e ouro por todo lado.

Pra mim, ele era amedrontador.

-Queria falar comigo ou veio pra ficar me olhando? -Sua voz saiu ríspida.

-Quero falar com você. -Respondi trêmula.

-Solta a voz. -Ele respondeu cruzando os braços.

-Eu preciso de emprego, sei que pode me ajudar...

-Tu acha que sou chefe da onde? De uma multinacional? -Ele riu.

-Sei exatamente do que você é chefe, por isso estou aqui.

-Fía, tu por acaso quer traficar?

-Eu quero algo que me faça ganhar dinheiro rápido, estou passando por umas coisas e quero ajudar minha mãe. -Respondi diretamente.

Ele me analisou e respirou fundo, soltando os braços.

-Tu não precisa disso, patricinha. -O maior disse indo sentar no sofá. -Pode muito bem arrumar um trampo de responsa pela comunidade ou ser igual tua mãe, trabalhar no asfalto, ela ficaria mais feliz.

-Mas demoraria mais pra ganhar dinheiro e não seria tanto assim. -Falei suspirando enquanto passava a mão no rosto.

-Tudo pelo dinheiro?

-Eu só quero ver minha mãe bem, o aluguel é puxado e ela não ganha tão bem, quase não sobra um real para comprar um negócio pra comer.

-Está preparada pra ver e fazer coisas que nunca pensou? -Ele questionou sério.

Receosa, assenti.

-Então bem-vinda nessa vida, agora a senhorita é funcionária do Bebeto. -O mais velho abriu um sorriso.

Tremi com sua fala.

O que estou fazendo da minha vida?

Da Boca 『L7NNON』Onde histórias criam vida. Descubra agora