Capítulo 2

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CLEONICE - Se não é impertinência da minha parte, me responde: como é que nós, mulheres, vamos derrotar os homens? Batendo neles com as nossas sandálias douradas, arranhando eles com as nossas unhas polidas, sujando eles com nossos cosméticos ou sufocando eles com nossas túnicas transparentes?

LISÍSTRATA - Serão essas, exatamente, as nossas armas, mas usadas normalmente. As túnicas provocantes, os perfumes tentadores, os cosméticos enganadores, o corpo todo, assim tratado e entremostrado, o corpo todo assim tornado irresistível.

CLEONICE - Irresistível mesmo? Você acha?

LISÍSTRATA - Se fizerem o que eu digo, e como eu digo, nenhum guerreiro mais levantará sua lança...

CLEONICE - ... Ah, não!

LISÍSTRATA - (Olhar de simpática censura.)... contra outro guerreiro. CLEONICE - Ah, sim!

LISÍSTRATA - Todos imediatamente largarão os escudos...

CLEONICE - Ah, é? Vou depressa ao tintureiro buscar minha túnica amarela.

LISÍSTRATA -... abandonarão as espadas...

CLEONICE - Nesse caso, então, talvez seja melhor a camisola transparente.

LISÍSTRATA -... e voltarão correndo.

CLEONICE - Correndo vou eu mudar o lençol da cama.

LISÍSTRATA - Me diz agora, não era pra elas já estarem aqui reunidas? CLEONICE - Mas se! Deviam vir voando.

LISÍSTRATA - Você vê, como verdadeiras atenienses, só irão agir quando for demasiado tarde. Não apareceu nem uma. Nem daqui, nem do porto, nem de Salamina. Ninguém.

CLEONICE - As do porto, vai ser difícil. Vivem lá atracadas. Mas, ó, vêm umas aí. E atrás vêm mais. Estão chegando. De onde virão?

LISÍSTRATA - De Anagiro.

CLEONICE - Pelo jeito a cidade inteira veio verificar a extensão do negócio que você propôs. (Mirrina entra, seguida por outras mulheres.)

MIRRINA - Chegamos muito tarde, Lisístrata? Que foi, perdeu a fala?

LISÍSTRATA - Que é que você quer que eu diga? Parece que não se apressou muito, apesar da urgência que pedi.

MIRRINA - É que estava escuro, não encontrei minha cinta... essas coisas. Mas se o assunto é urgente convém não perder mais tempo do que já perdemos. Aqui estamos. Fala!

CLEONICE - Bem, demora por demora, acho que podemos esperar mais um pouco pelas mulheres da Beócia e do Peloponeso.

LISÍSTRATA - Eu também acho... Mas não é preciso. Lá vem Lampito. (Entra Lampito, uma jovem espartana grande e forte, com duas outras moças, uma beócia e outra corintia) Bom-dia, Lampito, cara amiga espartana. Você está uma beleza, menina. Pele maravilhosa. Resplandecente! E forte, puxa! É capaz de estrangular um touro.

LAMPITO - O touro que se cuide. (Vira-se de costas.) E isso aqui, que tal? Agora, em Esparta, nós todas estamos praticando uma ginástica formidável para as nádegas.

CLEONICE - É difícil? (Enquanto isso, abre a roupa de Lampito e lhe descobre os seios.) Hum, que peitos maravilhosos.

LAMPITO - Pára, menina. Você me apalpa como se eu fosse uma galinha! Có - Có - Có - Có!

LISÍSTRATA - E essa outra mocinha, de onde ela é?

LAMPITO - É uma jovem nobre, da Beócia.

LISÍSTRATA - Ah, encantadora amiga, eu te saúdo, fértil jardim em flor.

CLEONICE - (Fazendo outra inspeção.) Em flor, sim, por Zeus. E cheia de orvalho. Rasparam o capinzinho todo do canteiro principal.

LISÍSTRATA - (Apontando a corintia.) A outra aí, de onde vem?

LAMPITO - De uma família proeminente de Corinto. (Olhando a bunda da moça, de perfil.) Trata-se de uma calipígia.

CLEONICE - Proeminentíssima.

LAMPITO - Mas, afinal, quem foi que convocou esta assembléia de mulheres? LISÍSTRATA - Eu.

LAMPITO - Pois bem, diz o motivo. Que deseja de nós?

CLEONICE - Sim, cara lisinha, já é tempo de você revelar a todas a dimensão do negócio. Porque a gente não pode se enfiar nisso assim no escuro.

LisístrataOnde histórias criam vida. Descubra agora