Capítulo 17

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ATENIENSE - Ah! Ah! Lá vêm os nossos camaradas saindo da festança! (Dois coros, um espartano, outro ateniense, entram, dançando à música de flauta. São seguidos pelas mulheres, lideradas por Lisístrata.)

UM ESPARTANO - (Ao flautista.) Maravilhoso flautista, toca como nunca pra que eu dance uma bela dipodia da Lacedemônia em honra dos amigos de Atenas e cante um belo canto em honra de nós mesmos.

ATENIENSE - Toca, flautista, toca. É um prazer pra nós, atenienses, ver dançar e cantar a gente de Esparta.

ESPARTANO - (Dançando e cantando.) Oh! Mnemósine, deusa que guarda a memória do passado, inspira estes homens para que não se esqueçam. Para que ensinem. E cantem ao povo e aos mais jovens os feitos espartanos, a glória ateniense. Diga-lhes da fúria guerreira com que, em Artamísio, os atenienses desceram como javalis sangrentos sobre os navios medas. Vitória das vitórias foi aquela! Quanto a nós, Leônidas nos conduzia com a fúria de uma manada de elefantes loucos. Ah, lembrança marcial da juventude espartana: o suor descendo em cascatas pelas nossas costas, molhando nossos membros, pois - e eu não minto havia na praia mais persas do que grãos de areia. Artemis, virgem deusa da caça, protege a paz que estamos combinando: faz com que nossos corações se unam para sempre. Que este tratado transforme os inimigos em amigos e em irmãos os que já se estimavam. Não mais perfídias, emboscadas, estratagemas de destruição. Vem. Teu auxílio, donzela das florestas. MAGISTRADO - E agora, que respondam com o mesmo ardor os cânticos atenienses.

CORO ATENIENSE - Venham juntos, dançarinos, cantores, as graças com vocês, invocando todos e cada um. Artemis e seu irmão gêmeo, o gracioso Apolo, e também Dionísio. Sem esquecer de Baco, para que com eles desça até o próprio Zeus, dominador dos raios. Louvemos, juntos, todos os deuses juntos, para que venham todos testemunhar a nobre paz que agora mora entre nós, trazida pela mão do amor. Louvação! Louvação! Cantem e dancem em honra da vitória da mulher. Evoé. Evoé! MAGISTRADO - E vocês, lacedemônios, deixem que ouçamos uma última estrofe da bela voz de Esparta.

ESPARTANO - (Canto.) Desce, desce mais uma vez das alturas do Taigeto, ó musa espartana, e vem cantar comigo, neste carnaval de dança e amor, que só pode ser realizado na paz. Desce, irmã, vem ajudar a cantar em louvor de Apolo de Amicles e da Atenas do templo de bronze. Venham todos depressa que a dança é bela, a música contagia, nossas donzelas são lírios a serem colhidos pelas mãos mais hábeis. Nossas mulheres estão lindas. Nunca foram tão lindas! Batem no chão com os pés velozes, lançam ao vento as longas cabeleiras; e as bacantes ondeiam o corpo sensual, em louca tentação, estimuladas pelo deus do vinho. Evoé! Evoé! Venham todos dançar e cantar em honra da vitória da mulher!

LISÍSTRATA - (Entrando vestida com uma toga maravilhosa.) E agora, basta! partam todos que eu também tenho direito ao meu descanso. (Risos alegres, palmas, concordância.) A comemoração pública terminou. Que cada um, agora, aproveite bem o seu prazer particular. Cada homem recolhe sua mulher e volta para casa. Mas, atenção: os espartanos, as suas, os atenienses, as deles. Cada um deve se contentar com o que tem. Que ninguém se engane de propósito, trocando sua mulher por outra melhor, pois isso pode começar uma nova guerra. (Risos, palmas, alegria. Todos saem. Lisístrata fica só. Música. Vem entrando seu marido, um belo guerreiro. Ele fica estático, a certa distância dela, duas figuras lindas. Quase imperceptivelmente, ela faz um gesto. Ele entende, tira as armas, o escudo, toda a paramentação militar. Estende as mãos. Ela avança, se ajoelha, beija-lhe as mãos em submissão. A sugestão sexual fica mais audaciosa enquanto a luz desce. Blecaute.)

-FIM-

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