Capítulo 13 - Parte 2

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MAGISTRADO - Não há que negar: é uma conspiração abarcando a Grécia inteira. Volta a Esparta e diga-lhes que enviem embaixadores com todos os poderes para tratar da paz com outros estados. Quanto a mim, vou correndo ao Senado, para comunicar aos senadores que a coisa é grave e tende a aumentar. Se não se convencerem, mostrar-lhes-ei o meu próprio instrumento, que eu não pensava mais voltar a ver em estado semelhante. Não respeita nem mesmo a minha idade.

ARAUTO - Creio que os senadores ficarão convencidos da urgência da ação. Vou correndo falar com os de Esparta. (Saem em direções opostas.)

CORIFEU-VELHO - Não há animal selvagem mais selvagem, nem chama mais ardente, nem fúria mais feroz e indominável do que a da fêmea do homem. O leopardo é mais suave e tem as unhas menos perigosas.

CORIFÉIA - E contudo você teima em me hostilizar em pura perda, quando podia ter em mim uma amiga sincera, uma abada fiel.

CORIFEU - Não me interessa. Seja o que for que ocorra, caiam sobre minha cabeça todas as desgraças, meu ódio contra as mulheres nunca há de diminuir de intensidade. Oh, nunca, nunca!

CORIFÉIA - Como quiser. A escolha é sua. Contudo não posso te deixar nu, assim, porque todo mundo que passa irá zombar de ti. Toma; deixa eu botar esta túnica em você. (Ela o veste, ajudada pelas outras mulheres.)

CORIFEU-VELHO - Está bem, agradeço. Você tem razão. Foi um excesso de raiva que me fez botar minha túnica fora. Não queria que coisa alguma atrapalhasse meus gestos de ódio.

CORIFÉIA - Agora, ao menos, você parece um homem de bem. Ninguém vai te ridicularizar.

CORIFEU-VELHO - Ai, ui! Que dor! Um inseto no meu olho! Não agüento! Me mata.

CORIFÉIA - Está vendo? Se você não tivesse me ofendido tanto, agora eu podia te ajudar, que para essas coisas serve a amizade.

CORIFEU-VELHO - Está me matando de dor, esse demônio! Toma, pega meu anel e vê se tira.

CORIFÉIA - Está bem, eu tiro, mas não devia. Pra você aprender a não ser mal-educado. Puxa, é grande o inseto! Olha. Está mais aliviado?

CORIFEU-VELHO - Muitíssimo. Obrigado. Ele estava cavando um fosso

no meu olho. Eu nem conseguia chorar. Agora posso e é um alívio. Ah, que prazer deixar correr as lágrimas.

CORIFÉIA - Vou enxugá-las pra você, mas repito, você não merece, homem odioso! Dá um beijo agora.

CORIFEU-VELHO - Um beijo? Isso não! CORIFÉIA - Pois vou lhe dar um beijo, você queira ou não queira.

CORIFEU-VELHO - Ah, malditas mulheres! Razão tem o poeta: "Ruim com elas, pior sem elas!" Vamos, vamos combinar que não brigamos mais de ora em diante. E para celebrar isso, vamos entoar juntos nosso louvor à paz.

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