𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 3 - 𝕮𝖊𝖚 𝕰𝖘𝖙𝖗𝖊𝖑𝖆𝖉𝖔

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"A explosão. O início, o fim e o durante. As bilhares de explosões do universo que formam as estrelas da vida. Testemunhas de nossos desafios e sucessos. Alvo de orações noturnas na tentativa de suavizar os corações partidos e feridos pelas facas da vida. E a Lua? Essa não é só testemunha, é juíza. Afinal de contas, o que é controlar sentimentos humanos para quem controla as águas revoltas do mar? Como a guardiã do amor que entrelaça ou corta os laços da vida, a Lua é a divina paixão de um universo solitário."


Lucy Vaughan

   — Vamos logo. — Digo para meus pais enquanto fico mexendo no celular, apoiada na porta de entrada de casa. É sempre assim, eles me apressam como se tivéssemos 5 minutos para chegar em um lugar ou, caso contrário, parece que seremos barrados, mas no fim de tudo quem se atrasa são eles.

Segundos após chamá-los ouço um barulho de chaves balançando que está vindo das escadas do prédio e que aumenta conforme a pessoa sobe. Não é como se eu estivesse com uma curiosidade extrema para saber quem é, afinal de contas eu já vi a família toda, mas algo mais forte que eu me faz olhar, discretamente, em direção a escada. É o meu vizinho misterioso. Seus cabelos bem bagunçados cobrem parte de seu rosto enquanto ele ajeita a manga da roupa casual que ele está usando; uma camiseta azul-marinho de tecido fino folgada no tronco e justa nos braços, deixando a entender que ele tem um físico magro e forte. Acho que a camiseta e a bermuda o ajudam a suportar o calor que está fazendo hoje, e claro, os óculos escuros por cima de outros óculos que parecem de grau. No momento em que reparo bem nisso tampo minha boca para que ele não perceba que estou rindo dele. O motivo? Ele me lembrou minha tia paterna que usava dois óculos de grau, um para ver de longe e outro para ver de perto, e ela sempre confundia eles e se estressava, era uma cena engraçada. Aparentemente meus esforços para ser discreta só chamaram mais a atenção dele, que virou o rosto em minha direção e, pela leve tensão do maxilar, ele parece ter ficado incomodado.

   — Precisa de ajuda? — Pergunto bem serena, como se a situação constrangedora que acabou de acontecer nunca tivesse ocorrido.

   — Hum, tonta... — Ele resmunga e entra em sua casa o mais rápido possível. Que cara estúpido! E pensar que estou sendo praticamente perseguida e tendo que ouvir um monte de besteira na escola por causa desse babaca!

   — Pronto, vamos. — Diz minha mãe, um pouco nervosa, ela sempre fica ansiosa quando conhece alguém novo porque sempre quer causar uma boa impressão.

   — Vocês sempre demoram, esqueceram que temos que pegar um Uber? — Digo em tom de brincadeira, já que só precisamos de 4 passos para estarmos na porta do apartamento onde terá o almoço. Meu pai dá três batidinhas na porta e logo ouvimos os barulhos das chaves que abrem a porta. Porta aberta, lá está a mãe da família, animada e com um sorriso caloroso estampado em seu rosto. Meu pai me disse que seu nome é realmente Helen e o de seu marido é Phillipe

   — Oi, minha querida — Ela me dá um abraço forte e ela logo me solta, dando espaço para entrar na casa enquanto cumprimenta meus pais.

Os apartamentos daqui tem uma porta de entrada na sala e uma porta de saída na cozinha. A porta aberta foi a da cozinha, então ao entrar já senti o cheiro maravilhoso de uma lasanha que está no forno preto ao lado das bancadas marrom de pedra branca. O marido está arrumando a mesa de vidro cristal para o almoço com a filha. Cumprimento ele com um aperto de mão e logo tenho minha atenção focada na menina. Ela estava correndo em direção ao corredor que deve dar nos quartos e acaba tropeçando, mas, por sorte, eu percebi que ela ia cair e tive tempo de segurá-la antes que ela fosse para o encontro direto do chão e se machucasse no degrauzinho que dá para a sala.

   — Tome mais cuidado, você poderia se machucar! — Me abaixo um pouco para ficar na altura dela e ver se está tudo bem com ela. Às vezes, quando fico tensa, eu adoto uma expressão facial muito séria, quase brava, onde fecho a cara e franzo as sobrancelhas. Posso também ser um pouco seca ou ríspida com as palavras, e cuidadosa e protetora nas atitudes. Ao que tudo indica fui assim de novo, já que a menina parece levemente assustada, mas que logo volta a sorrir, com alguns dentes faltando, de forma radiante.

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