“Bem e mal. Uma definição ridícula e preguiçosa que alguém de mente fraca de pequena criou para resumir o mundo. E sabe qual é o maior problema disso? É que o ser humano aceitou essa ideologia de uma maneira tão intensa, que conseguiu concretizar isso na própria alma. Não há mais oportunidade de crescer e amadurecer. Seus erros te definem para o resto da sua vida falha, independente da pouca proporção desse erro. Isso, meus caros, é a humanidade.”
Lucy VaughanEstamos descendo as escadas apressadamente e a única coisa que eu consigo pensar é o quão insana essa teoria de que foi Rutts quem começou o incêndio soa na minha mente confusa e inquieta. Entre empurrões e alguns gritos, percebo que a menina da tatuagem não está aqui. Após segundos delirantes que foram repletos de suspeitas e hipóteses, me sinto ser arrancada de meus pensamentos pelo meu amigo Jean, que decide quebrar a tensão entre o grupo.
— Espero que lá embaixo tenham uns bombeiros gatos, né? — Ele me dá uma leve cotovelada no meu braço em busca de uma concordância da minha parte. Decido entrar na brincadeira para acalmar meus neurônios agitados.
— A maioria dos bombeiros são gatos, mas você vai ser um problema para eles. — Rio, em resposta
— Por quê? Eu não sou um incendiário.
— Olha incendiário você não é, mas você tem um fogo no rabo tão grande que, se um dos bombeiros tentarem te apagar, pode aumentar o seu fogo. — Começamos a rir em meio aquele caos.
— O pior é que é mesmo. — Sua gargalhada alarga meu sorriso e chama a atenção de algumas pessoas à nossa volta, que franzem as sobrancelhas para nós por estarmos rindo em meio a essa situação.
Depois desse leve diálogo nós saímos da escola e todo o procedimento de incêndio estava em andamento, até ouvirmos um estrondo. Coloquei os braços na frente do meu rosto assustada e dei alguns passos para trás. Ainda assim, foi possível ver que a explosão veio do canto direito da escola, perto da sala dos professores. As inspetoras e os professores nos guiaram para o outro quarteirão, nos deixando a uma distância segura da nossa escola, agora em chamas.
Minutos após todo esse transtorno e agitação, o nosso diretor se dirige para a nossa frente, de forma que todos nós podemos vê-lo, e nos informa que as aulas de hoje estão suspensas e que estamos dispensados. Decidi aproveitar a oportunidade e me desvencilhei, discretamente, do meu grupo e ligo para a minha mãe. Explico a situação e ela surtou, obviamente. Depois de um tempo tentando acalmar seu coração materno, eu digo pra ela que irei para a biblioteca Municipal, que fica próxima da escola. Nós nos encontraremos no mesmo horário de sempre. Ela aceita e desliga o telefone.
A caminho da biblioteca percebo que algumas pessoas estão me encarando com olhares carregados de desconfiança e avidez. Eu já vi esse olhar antes. Ainda me lembro dos dias que eu passava andando por corredores gélidos e vazios, e me lembro ainda mais do calor que determinados braços me traziam ao fim do caminho. Balanço levemente a cabeça para afastar de minha mente os pensamentos mórbidos e lembranças sangrentas.
Chego na porta da biblioteca e respiro aliviada de ver o majestoso templo do saber, que eu já conheço bem. Sem dúvidas é o meu lugar favorito da cidade. Com uma arquitetura romântica da época medieval que emana delicadeza e elegância. Lembra muito a biblioteca Sainte Geneviève, na França. Com colunas de mármore branco que dá imponência ao edifício de 3 andares recém pintados com uma cor creme que ainda exala o cheiro forte de tinta. Seu interior parece um palácio de ouro. Não é à toa que essa biblioteca é o maior investimento da cidade em 70 anos.
Ao entrar dou de cara com duas largas escadas de veludo azul-celeste, que se curvam para lados diferentes que vão do primeiro ao terceiro andar, com espaços para cada andar. Quando olho para cima meu coração se aquece com a imagem impecável de um teto que até parece ter sido feito por Michelangelo. As cores em tons de rosa e dourado dão aos anjinhos, pintados no vidro do teto, um encanto de encher os olhos. Isso é possível de se ver graças ao mezanino central, que permite que as pessoas que estão no 1°, 2° ou 3° vejam quem está aqui, na parte térrea.
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Irmãos da Rosa
Viễn tưởng"Até a rosa mais bela traz, em sua base, os piores espinhos" Na simplicidade de sua pacata cidade Escocesa, Lucy se vê diante de um desafio, um menino misterioso e sério que subtamente entra em sua vida e a confronta com o caos. Junto à esse caos co...