𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 10 - 𝕻𝖚𝖓𝖍𝖆𝖑 𝖉𝖊 𝖔𝖚𝖗𝖔

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"Me acostumei com a escuridão em que fui arremessada antes mesmo que pudesse salvar meu coração, agora apodrecido e jogado às traças. Não me faltaram dias para pensar na dor, mas me faltou salvação. Hoje o menor feiche de luz pode queimar meus olhos imersos nas trevas. Meu herói deve ter morrido antes de saber que deveria me salvar.

Ressucite minha salvação eu preciso de ti"


Lucy Vaughan

Vazio. Frio. Desespero. Sentimento que me possuem e rasgam todo o meu interior, dilacerando minha alma. Uma parte de mim está convicta que este livro é uma mentira, mas há uma voz dentro de mim que urra dizendo que isso é a mais pura e cruel verdade. Posso sentir o amargor da verdade em minha boca. Eu não quero que isso seja verdade, eu não posso conviver com essa verdade. Me pergunto se Ivan sabe disso ou se, ao menos, já teve suspeitas. Duvido muito que já tenha pensado nisso. Além de parecer muito cético, do tipo que não acredita em nada que seja cientificamente comprovado, ninguém leva uma hipótese dessas a sério. Como contar a ele? Como se olha nos olhos de alguém e diz que essa pessoa é um demônio, ou descendente de demônio, que seja! Esse está sendo pior e o maior dilema que eu poderia ter!

Fico imaginando perguntas terríveis e respostas ainda piores. Supostos diálogos  passam pela minha mente como neblina por tempo que me é incerto até essa neblina de pensamentos ser encerrada por um som que não me é conhecido. É como um rosnado, só que não de gente nem de animal. O som ressoa novamente pelo ambiente, fazendo um arrepio violento se apossar do meu corpo, que agora estremece de pavor. Me levanto lenta e silenciosamente da cadeira e vou até à porta. Não dei dois passos e pude ver a coisa mais aterrorizante do mundo sair de trás de umas das grandes prateleiras de madeira antiga dessa mini biblioteca. A criatura parecia ter sido torturada há dois minutos, já que estava pingando sangue pela sua boca.

Da altura de um urso, fico paralisada com a magnitude de seus olhos verdes que brilham como vaga-lumes da morte. Sua boca escancarada apresenta cortes profundos que parecem ter quase rasgado a pele - se é que aquilo pode se chamar de pele - e agora estão mal costurados. Os dentes exibidos com esse movimento são incrivelmente grandes e afiados. Sobre 4 patas com unhas afiadas, a criatura horripilante corre em minha direção com seus olhos sedentos por sangue e carne. Começo a correr desesperadamente em direção a porta e, ao tentar abri-la, meu corpo é parado. A porta está emperrada. Fujo para a direção oposta e me deparo com o monstro.

Minha rotas de fuga estão limitadas graças às extensas e pesadas mesas e a única direção que posso seguir é na direção dele, então não vejo outra alternativa que não seja ignorar meu coração pulsando desesperadamente de medo e salvar minha vida. Minhas pernas se movem à medida que minha adrenalina se eleva e eu corro o mais rápido que posso ao encontro do monstro. Fazendo bom proveito do meu espaço amadeirado, tomei impulso com a mesa, dou uma cambalhota no meio de suas pernas que, mesmo estando entreabertas, tinham espaço suficiente para poder passar, e saiu em disparada de perto dele.

Apesar do meu sucesso de cambalhota, na hora em que eu havia pego o impulso, esse monstro vindo diretamente das profundas do inferno tentou me segurar, mas só conseguiu me dar um arranhão. Continuo correndo e, ao tomar uma certa distância dele, eu começo a jogar as cadeiras na direção dele, o que não o mata, mas me dá tempo o suficiente para eu decidir subir até o topo das estantes de livros que está encostada em uma parede. Posso sentir o sangue do meu braço, que está latejando de dor, escorrer pelo mesmo. Com certeza a adrenalina que estava correndo nas minhas veias é o que está amenizando uma parte da minha dor, no entanto não diminui o medo que me dominou. A criatura repugnante vem atrás de mim e, ao me achar, ele olha para o chão, que agora está cheio de sangue, e decide fazer a coisa mais sádica que eu já vi. Com seus dedos, que parecem ter sido queimados, ele pega um pouco do meu sangue e lambe. Isso mesmo, ele lambe o meu sangue que está no chão como se estivesse fazendo uma degustação do prato principal, que no caso sou eu.

Irmãos da RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora