𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 19 - 𝕺 𝖌𝖊𝖘𝖙𝖔 𝖒𝖆𝖎𝖘 𝖇𝖊𝖑𝖔

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''O amor e o ódio. Extremos opostos? Não... eles são inteiramente iguais. Ambos tão intensos, fortes. Vendas tão grossas que nos cegam por completo. Ligados pelo mesmo fio, vívidos e resplandecentes. Vagam de mãos dadas pelos corações pulsantes que imploram por emoção; que se movem conforme manda o sentimento. Seja bom ou ruim, seja algo que dá ou que tira a vida, eles sempre estarão lá, unidos e esplendorosos.''


Ivan Millborn

Já se passaram três dias desde o ataque ao vilarejo durante o Festival de Primavera e as investigações para descobrir quem está por trás disso continuam sem grandes sucessos. O treinamento de todos foi interrompido para que ajudem na reconstrução das casas, menos o meu e da Lucy. Eles dizem que nós dois precisamos ter total foco se queremos nossas famílias de volta, o que é visivelmente uma baita chantagem emocional que só está me deixando pior. Todos esses problemas e toda essa pressão acabam comigo e com Lucy.

Falando no diabo, devo dizer que ela é o meu maior problema. Não fala comigo desde o dia do incidente e a forma como ela me olha - quando me olha - é a mais fria e degradante que eu já vi, principalmente quando Melini se aproxima de mim me dando um beijo na bochecha. A raiva e o ciúmes que corre como fogo pelas veias de Lucy se tornam visíveis em seu rosto, mas sei que ela prefere morrer a admitir isso. No início era engraçado, mas agora sua ausência me atinge e me revolta. Ela sabe que estamos solteiros e podemos ficar com quem quisermos. Sabe tanto que está saindo bastante com Levi e parece bem feliz com isso.

Estamos no quarto nos preparando para o treinamento e ela está de costas para mim, enfaixando a própria mão esquerda, que ela machucou no treino de socos de ontem. A minha força parece estar aumento e descobri que tenho habilidade com arco e flecha, mas a força de Lucy é muito absurda e não parece ser fruto apenas de treino, já que fazia anos que ela não treinava. Nós estamos em completo silêncio, o que me incomoda muito, então decido tomar a frente da situação.

   — Até quando pretende me ignorar? — Ela permanece em silêncio e imóvel, apenas com seus movimentos circulares em torno da mão. — Tsc, você está sendo ridícula Lucy. Não tem o direito de ficar chateada assim. — Seus movimentos paralisam por um instante até que um suspiro sair de suas narinas e ela se virar e me encarar. Seus olhos escuros brilham e parecem transbordar de dúvida e tristeza. Não devia tê-la chamado de ridícula.

   — E, porque eu não posso ter ao menos esse direito? — Nesse momento eu percebo meu erro. Percebo o quão egoísta fui diante dela. O ridículo da história sou eu. A insultei e ainda a pedi para dominar seus sentimentos. Logo ela, a mulher mais intensa que eu conheço, cujo passado parece ser rodeado de espinhos e que, ainda assim, consegue ser delicada e suave como pétalas.

Não, minha Rosa Branca não merece isso.

Fico sem respostas para tal pergunta e vejo que ela começar a andar até a porta. Com uma aura entristecida, ela passa por mim e posso sentir seu perfume doce e marcante me dominar. Quando Lucy está com sua mão esquerda na maçaneta eu percebo que não posso deixa-la passar dessa porta. A segura pelo pulso direito e elas se vira para mim.

   — Me deixa ir! — Sua fúria nasce.

   — Estou a três dias te deixando ir sem poder falar o que quero. Não vou cometer esse erro hoje. — Ela se acalma e me olha no fundo dos olhos. Retribuo sua intensidade.

   — O que você quer?

Você. Eu quero você.

Sem coragem para responder essa pergunta da forma que gostaria, eu apenas desço minha mão e entrelaço meus dedos aos dela. Coloca minha mão disponível delicadamente em seu rosto quente e colo nossas testas. Ela fecha os olhos e posso sentir sua respiração acelerada sobre mim. Quando estou prestes a beija-la entendo o porquê de sua respiração estar desse jeito. Ela está apreensiva. Ela está... Com medo? De mim?

Irmãos da RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora