“Uma vez me disseram que o tempo cura tudo e quanto mais profunda é a ferida, mais tempo ele levará para cicatriz. O maior problema do tempo são as memórias do passado. Cenas e mais cenas rodando em nossas mentes como um filme recheado de tristezas e que nós, humanos, parecemos ter prazer em reviver todas as madrugadas, como quem joga sal em uma ferida. A ferida da vida.”
Lucy Vaughan8:40 da manhã. Escutamos o som de uma porta se fechando e percebemos que o nosso professor de filosofia chegou. Eu particularmente gosto muito dessa matéria, mas não gosto de quem a ensina. Com seus 1,65 de altura e seus cabelos pretos extremamente cacheados, nosso professor de filosofia Stevan é o mais severo da escola. Como de costume me sento na cadeira da frente para prestar atenção na aula, porém, para meu desgosto, hoje Saulo resolveu sentar do meu lado, e com certeza não é pelo mesmo motivo que eu.
— Ei Lucy, tá a fim de sair comigo hoje? — Diz Saulo se inclinado na minha direção com a cadeira.
— Não, obrigada. — Respondo focada em colocar no meu caderno o que o professor está passando na lousa.
— Por que não? — Ele começa a balançar a cadeira e decido me afastar um pouco porque já imagino o que vem a seguir.
— Porque eu não quero. — Afirmo pacificamente, sem nem me dar ao trabalho de lhe olhar nos olhos, mantendo meu foco nas anotações da aula.
— Ah vamos, vai ser le... — Antes mesmo que pudesse terminar a sua frase o que eu previa aconteceu. A cadeira em que ele estava se inclinou muito e o galã de novela caiu de cara no chão e fez um barulho enorme. Nesse momento a sala estava dividida entre rir da situação e ir ajudar ele desesperadamente, essa segunda parte era composta por muitas meninas histéricas.
— A culpa é sua! — Diz uma das “fã girls” dele que está me metralhando com os olhos pretos. — Não sei como ele pode gostar de uma tosca como você. Olha o que aconteceu com ele.
— Estou olhando, eu não sou cega, mas não me importo com isso. — Dou de ombro e volto a me concentrar nas minhas anotações, o que não dura muito.
— Quem você pensa que é para falar assim? — A menina de cabelos loiros grandes e volumosos apoia, brutalmente, as duas mãos na minha mesa para me encarar, fazendo questão de deixar sua raiva de adolescente emocionada transparecer. Devido à proximidade percebo que ela tem uma tatuagem que fica um pouco abaixo de sua clavícula direita. É um símbolo. Um círculo cortado por uma linha que tem as pontas encaracoladas. O círculo tem o interior pintado com um vermelho e um amarelo muito vivos que se mesclam no meio formando um laranja muito bonito, lembrando chamas de uma fogueira.
— Tatuagem legal. — Digo com um olhar desinteressado só para sair daquela situação entediante — O que significa? — A expressão da menina muda radicalmente de raiva para ansiedade e inquietude.
— Isso não é nada. — Diz ela nervosa cobrindo ainda mais a tatuagem. Acho que ela deve ter feito sem a permissão dos pais e agora não quer que ninguém saiba.
Minutos depois o professor acompanha Saulo até a enfermaria e eu decido voltar para o meu lugar no fundão, já que a aula já perdeu o rumo. Ao me sentar ouço uma voz levemente grave e melodiosa atrás de mim.
— Você puxou ele? — Perguntou Ivan de forma discretamente animada.
— Não, eu fiquei parada o tempo todo, mas a cara dele foi hilária.
— Você achou? Estava tão séria lá.
— Tive que ficar. Se eu risse o fã clube dele me espancaria.
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Irmãos da Rosa
Fantasía"Até a rosa mais bela traz, em sua base, os piores espinhos" Na simplicidade de sua pacata cidade Escocesa, Lucy se vê diante de um desafio, um menino misterioso e sério que subtamente entra em sua vida e a confronta com o caos. Junto à esse caos co...