𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 7 - 𝕺 𝕾𝖎𝖒𝖇𝖔𝖑𝖔

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“Uma vez me disseram que o tempo cura tudo e quanto mais profunda é a ferida, mais tempo ele levará para cicatriz. O maior problema do tempo são as memórias do passado. Cenas e mais cenas rodando em nossas mentes como um filme recheado de tristezas e que nós, humanos, parecemos ter prazer em reviver todas as madrugadas, como quem joga sal em uma ferida. A ferida da vida.”


Lucy Vaughan

8:40 da manhã. Escutamos o som de uma porta se fechando e percebemos que o nosso professor de filosofia chegou. Eu particularmente gosto muito dessa matéria, mas não gosto de quem a ensina. Com seus 1,65 de altura e seus cabelos pretos extremamente cacheados, nosso professor de filosofia Stevan é o mais severo da escola. Como de costume me sento na cadeira da frente para prestar atenção na aula, porém, para meu desgosto, hoje Saulo resolveu sentar do meu lado, e com certeza não é pelo mesmo motivo que eu.

   — Ei Lucy, tá a fim de sair comigo hoje? — Diz Saulo se inclinado na minha direção com a cadeira.

   — Não, obrigada. — Respondo focada em colocar no meu caderno o que o professor está passando na lousa.

   — Por que não? — Ele começa a balançar a cadeira e decido me afastar um pouco porque já imagino o que vem a seguir.

   — Porque eu não quero. — Afirmo pacificamente, sem nem me dar ao trabalho de lhe olhar nos olhos, mantendo meu foco nas anotações da aula.

   — Ah vamos, vai ser le... — Antes mesmo que pudesse terminar a sua frase o que eu previa aconteceu. A cadeira em que ele estava se inclinou muito e o galã de novela caiu de cara no chão e fez um barulho enorme. Nesse momento a sala estava dividida entre rir da situação e ir ajudar ele desesperadamente, essa segunda parte era composta por muitas meninas histéricas.

   — A culpa é sua! — Diz uma das “fã girls” dele que está me metralhando com os olhos pretos. — Não sei como ele pode gostar de uma tosca como você. Olha o que aconteceu com ele.

   — Estou olhando, eu não sou cega, mas não me importo com isso. — Dou de ombro e volto a me concentrar nas minhas anotações, o que não dura muito.

   — Quem você pensa que é para falar assim? — A menina de cabelos loiros grandes e volumosos apoia, brutalmente, as duas mãos na minha mesa para me encarar, fazendo questão de deixar sua raiva de adolescente emocionada transparecer. Devido à proximidade percebo que ela tem uma tatuagem que fica um pouco abaixo de sua clavícula direita. É um símbolo. Um círculo cortado por uma linha que tem as pontas encaracoladas. O círculo tem o interior pintado com um vermelho e um amarelo muito vivos que se mesclam no meio formando um laranja muito bonito, lembrando chamas de uma fogueira.

   — Tatuagem legal. — Digo com um olhar desinteressado só para sair daquela situação entediante — O que significa? — A expressão da menina muda radicalmente de raiva para ansiedade e inquietude.

   — Isso não é nada. — Diz ela nervosa cobrindo ainda mais a tatuagem. Acho que ela deve ter feito sem a permissão dos pais e agora não quer que ninguém saiba.

Minutos depois o professor acompanha Saulo até a enfermaria e eu decido voltar para o meu lugar no fundão, já que a aula já perdeu o rumo. Ao me sentar ouço uma voz levemente grave e melodiosa atrás de mim.

   — Você puxou ele? — Perguntou Ivan de forma discretamente animada.

   — Não, eu fiquei parada o tempo todo, mas a cara dele foi hilária.

   — Você achou? Estava tão séria lá.

   — Tive que ficar. Se eu risse o fã clube dele me espancaria.

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