“As chamas da vida e do amor. O fogo da morte. E pensar que tudo se resume à um elemento natural de formação tão básica. Não há evolução, revolução, sem as tais ‘chamas da liberdade.’ Sejamos sinceros, meus caros leitores; do fogo viemos e no fogo nós morreremos. As belas labaredas que dançam sobre as lareiras diante de nossos olhos e iluminam nossas vidas, um dia serão as causadoras do breu, que será o último suspiro do universo.”
Lucy Vaughan— Senhora Vero? Por que está puxando a jovem? — Essa é a voz da minha salvação ou da minha queda em desgraça. Rutts está no fim do corredor com uma expressão séria, apesar de, por trás de seus óculos retangulares, habitar um olhar tranquilo e levemente debochado. Com uma mão no bolso e a outra segurando uma garrafinha de água, ele vem até nós a passos largos, ficando na nossa frente em poucos segundos.
— Eu estou a levando para a diretoria, ela estava lendo sobre demônios! — A inspetora esbraveja para meu professor enquanto me olha com um olhar de fúria e desprezo muito intenso, olhar que eu não via há muito tempo...
— Jura? Que horror! — Ele olha para mim, fingindo estar decepcionado, com certeza o sarcasmo é seu ponto forte. — Bem, então se é assim, pode deixar que eu cuido dela. — Meu professor sorri gentilmente ao mesmo tempo que tira a mão da inspetora de cima de mim.
— Mas, Sr. Ravens… — Ela é interrompida na mesma hora.
— Ah não, não se preocupe. Lucy estava na minha aula, é responsabilidade minha, então eu deveria perceber o que ela estava lendo. A senhora pode deixá-la comigo.
— Hum... — A senhora nervosa por ser contrariada passa lentamente, quase rastejando, os olhos por mim e por Rutts com uma afiada desconfiança no olhar. — Ok. Qualquer coisa a sala do diretor é no andar de baixo. — Após dizer isso a inspetora sai e, ao virar o corredor, Rutts, que estava fazendo o papel de professor bravo e sério, relaxou e se virou para mim.
— Você só pode estar maluca de ler um livro desses aqui nessa escola!
— Eu precisava descobrir uma coisa.
— Que coisa? Eu posso ajudar.
— Isso. — Rutts se curva em minha direção para ficar da minha altura e eu mostro o símbolo no livro. No mesmo instante seu maxilar se enrijeceu ao franzir o cenho. A expressão em seu rosto era tão séria, pensei que estava mostrando algo proibido. Ao retomar sua postura natural em alguns segundos, após colocar sua garrafa embaixo do braço, limpou seus óculos na sua camisa social de manga longa azul-marinho enquanto soltou um longo suspiro, como se esse fosse um assunto que o cansasse.
— Onde você viu esse símbolo? — Seu tom de voz austero e imponente parece esconder muito bem um nervosismo genuíno tão intenso que poderia deixá-lo sem dormir por várias noites.
— Estava tatuado no braço do cara que atropelou Ivan… — Nesse momento pensei se deveria falar da menina da minha sala que também tem essa tatuagem. A escola nunca aceitaria ter uma aluna menor de idade com uma tatuagem, principalmente uma que não é algum símbolo religioso. Mas tenho certeza que o Rutts não contaria para alguém. — Também tem uma menina na minha sala, a loira de cabelo volumoso.
— Que merda... — resmunga. — Preste bem atenção no que eu vou te dizer. — Ele se curva para mim e coloca a mão em meu ombro. — Faça o seguinte, vá até à biblioteca Municipal aqui perto e diga para a bibliotecária que você quer ler sobre a história da cidade, ao dizer isso você vai, discretamente, mostrar isso aqui e ela vai te guiar corretamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Irmãos da Rosa
Viễn tưởng"Até a rosa mais bela traz, em sua base, os piores espinhos" Na simplicidade de sua pacata cidade Escocesa, Lucy se vê diante de um desafio, um menino misterioso e sério que subtamente entra em sua vida e a confronta com o caos. Junto à esse caos co...