𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 32 - 𝕾𝖚𝖇𝖘𝖙𝖎𝖙𝖚𝖎𝖈𝖔𝖊𝖘

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"E o coração se tornou pedra. Ganhou o tom cinza do desespero e a baixa temperatura da alma vazia que habita um corpo machucado. Quebre-me os ossos, rasga minha pele. Faz a dor da carne ser maior que a dor do espírito. Dá som os gritos silenciosos que ecoam madrugadas adentro."

Lucy Vaughan

Meu coração acelera e minha respiração começa a falhar. Minha visão se torna turva e minha mente faz tudo rodar. Me apoio na escrivaninha de madeira escura mal feita que faz pequenas farpas furarem minha mão esquerda, mas essa dor não me incomoda.

Mais uma mentira.

Mais uma vez eles me enganaram.

Fui traída por todos.

Me afundo em pensamentos banhados em ódio e revolta até ouvir a porta se abrir com força atrás de mim. Meus olhos de canto me revelam uma imagem apreensiva de minha tia, que parece estar percebendo aos poucos o que está acontecendo.

   — Lucy, querida... — Levanto a mão para interrompe-la.

   — Não ouse usar essa sua boca imunda e mentirosa para proferir o meu nome! Você só vai usa-la para me explicar que merda é essa, e seja breve! — Ergo a mão direita com a maldita carta, que agora já está extremamente amassada pela minha raiva. Ela se cala com medo do meu estado atual e pensa em como dizer a primeira palavra, e creio que ela não vai ser louca ao ponto de querer me dar uma bronca ou algo do tipo. Eu a espero se sentar na cama e respirar profundamente, fazendo fogo da vela que estava na sua mesa de canto me mexer e fazer sua sombra tremer.

   — Há 23 anos, quando eu tinha 16 anos, eu entrei para o exército a mando do meu pai, seu avô. Ele era general e considerava uma vergonha pensar que nenhuma das duas filhas seria um soldado, então fui colocada nos treinamentos, onde conheci Rutts... seu pai. — Um nó em meu estômago se forma e minhas mãos começam a suar. Não tinha me atentado a esse detalhe na carta, mas pensando agora, faz sentido eu ter o mesmo poder dele, tenho o sangue dele correndo pelas minhas veias. — Tudo ia bem, eu e Rutts já tínhamos 5 anos de namoro, e estávamos bem, mas ai chegou o dia do casamento de Renne com a irmã de Rutts.

Flashback on – Maggie Vaughan

   — A festa está divina! — É incrível como Vanessa sempre se encanta com as decorações dos eventos mesmo tendo crescido aqui.

   — De fato, está tudo muito luxuoso, exatamente o que era esperado para o casamento do único filho do Rei. — Minha mãe, exemplo de classe e requinte para todas as mulheres do reino, se senta elegantemente em uma das cinco cadeiras douradas com forro branco linho que está em uma das várias mesas que ocupam o salão principal. — Vanessa, endireite sua coluna, damas não podem ficar corcundas. — Ordena minha mão, enquanto ajeita os cabelos castanhos claros presos em um coque classudo que forma um volume na parte de trás da cabeça.

   — Como será que Hope estará? Quando eu a vi semana passada ela já estava com um barrigão. Não é arriscado para o bebê que ela use vestido de noiva e salto? — Pergunto enquanto me sento.

   — Não há nenhum risco. — Sinto grandes mãos pousarem sobre meus braços e logo reconheço o anel com imagem de rosa. Rutts se inclina para frente e eu alongo meu pescoço para que possamos dar um selinho discreto. Ele permanece de pé enquanto continua a conversa. — Minha mãe foi com Hope na primeira prova do vestido e me disse que ele foi feito sobre medida para que minha irmã e o bebê não fiquem desconfortáveis, e o mesmo vale para os sapatos.

   — Ela será a noiva mais linda de todo o reino! — Exclama minha irmã, que logo leva uma reprimenda breve de minha mãe, que a manda falar mais baixo.

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