Anotando o pedido de outra mesa daquele restaurante, a jovem morena voltava aos arredores da cozinha freneticamente para deixar aquela comanda e se apossar dos pratos de outros clientes. Essa era Santana Lopez, uma garçonete de 20 anos que pegava o máximo de turnos extras que podia para ajudar os pais a pagar sua faculdade de Linguística e arcar com os custos de suas consultas pré-natal no hospital. Isso mesmo, consultas pré-natal. Estava grávida. E, há mais ou menos umas duas semanas as coisas pareciam complicar ainda mais em sua vida, visto que foi exatamente o tempo que levou para sua barriga ficar evidente aos olhos alheios.
Agora Santana estava de quatro meses de gravidez, beirando os cinco. E sim, ela mentiria se dissesse que os olhares não a incomodavam, porque era justamente isso que andava a tirando do sério ultimamente. As pessoas miravam em sua barriga antes mesmo que em seu rosto por toda parte da cidade, fosse pelas ruas de San Francisco, universidade ou emprego, não importava. Alguns nem se davam o trabalho de disfarçar ou encará-la depois, era horrível. Sem mencionar os desconhecidos que a parabenizavam e davam dicas gratuitas, aleatoriamente. Mais do que nunca, ela se sentia grávida, pois era vista assim 24 horas por dia e julgada assim 24 horas por dia por quem quer que fosse. Parte do seu cérebro tacava um foda-se para tais situações, a outra parte se importava demais.
O grande problema foi que, naquele dia em específico, era a parte que se importava demais que tomou o controle, o que acabou desestabilizando-a ao longo do dia. A começar por uma senhora de manhã comentando alto com as colegas o quão nova Santana era, como os jovens hoje em dia eram irresponsáveis, e que se bobeasse ela nem conhecia o pai da criança já que estava na moda ficar com Deus e o mundo descontroladamente. Para fechar com chave de ouro, a mesma – que era cliente fixa do recinto há uns bons meses – ainda perguntou diretamente a Lopez o porquê ela estava trabalhando todos os dias, já que grávidas tinham que prezar pelo bem estar do bebê e não fazer tanto esforço daquela maneira. Controlando-se para não mandar a mulher tomar naquele lugar, ela deu um riso fraco e disse que tinha carta branca de seu médico para isso, o que foi suficiente para calá-la por aquele dia, ao menos.
Horas mais tarde, estava perto do fim de seu expediente, e ela já tinha escutado bastante. Não era comum a enorme vontade de chorar que andava sentindo, o que claramente era reflexo de sua gravidez. Malditos hormônios. Ela respirou fundo, pois não podia parar.
Doutro lado da fachada do estabelecimento, Brittany Pierce descia do carro de sua amiga, Sugar Motta, em companhia dela e de sua namorada, Marley Rose. As duas, Sugar e Marley, estavam falando a todo o momento, mas a loira não estava escutando muito, nem mesmo interagindo direito com elas, pois era algo sobre a viagem que Marley iria fazer em breve e aquela situação era meio desconfortável e também um dos motivos pelos quais ela e a namorada andavam discutindo, então optara uns dias antes em apenas balançar a cabeça sem abrir a boca para um "a" sobre tal assunto. Porque, talvez assim, o relacionamento delas voltava a paz que costumava ser. Bom, a verdade é que esse nem era de longe o motivo maior para as brigas, mas ela acreditava ser um relacionamento que valia a pena insistir, afinal de contas, eram três anos juntas desde a faculdade, e quatro de convivência.
Seus pais também se conheceram na faculdade, e eram felizes, do jeito deles, há mais de trinta anos. Bem diferente de relacionamentos de ensino médio, cujo a maioria acaba no momento em que vão para universidades distintas ou deixam de ir, enfim... Só tinha que desvendar qual era o segredo. Seus 23 anos ainda não haviam a dado tal sabedoria. De qualquer forma, tornou os pensamentos no seu trabalho, ao passo que atravessavam as portas do restaurante e procuravam por uma mesa disponível em meio ao horário tumultuado de janta.
Fazia quase seis meses que Brittany trabalhava para um pequeno estúdio de quadrinhos, o Glee Comics. Era o segundo desde que se formara na faculdade, a experiência do primeiro fora desumana, uma vez que era uma editora grande e seu chefe prendia os estagiários e funcionários recém-formados mais tempo do que o necessário no lugar, utilizando-se de puffs, café de graça e outras coisas legais, que serviam apenas para ludibriá-los. No fim do expediente, saiam de lá com dor nas costas, tendinite e olheiras. Portanto, a decisão de se demitir foi fácil, fácil, mesmo que isso significasse ficar desempregada por dois, ou três meses. Quem não gostou nada de saber foram seus pais, o que não era nenhuma novidade, já que não apoiavam nem mesmo a escolha que Brittany teve de cursar Ilustração ao invés de Economia, Administração ou sei lá o que, quem diria se demitir do primeiro emprego após conseguir ser selecionada em meio a tantos outros estagiários para se tornar funcionária efetivada. Marley foi outra que a repreendeu, para combinar com os sogrinhos. Bom, ao menos, havia uma escolha que seus pais a apoiavam, seu relacionamento com a Rose, se davam tão bem que tal feito era impossível de se repetir.
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Nós - Brittana
RomanceDuas jovens se conhecem em um momento um tanto quanto conturbado, suas vidas cheias de nós para resolver. Relacionamentos, família, trabalho e... Uma gestação não planejada. Quando alguém do círculo de amizade de Brittany se exalta para falar com aq...