2. Pós-acidente

463 50 40
                                    

Assim que pôde, Mercedes ressurgiu nas instalações do vestiário do Breadstix onde deixara Santana minutos antes. Queria checar se a outra estava melhor, visto toda a situação que se desenrolou tendo comentários desafortunados e queda de vinho como estopim. Bom, em resumo, para não gerar ainda mais problemas à garçonete, a gerente do restaurante tivera que negociar uma solução diretamente com Sugar. O que significava que, todo o salário da Lopez naquele dia seria descontado, para o reembolso do incidente à freguesa. Pois é... Eram as regras. Nem de longe a melhor saída, mas ainda assim, conseguia ser menos pior do que a reclamação formal que a Motta ameaçava fazer. Sua roupa de grife tinha custado muito caro, e não pouparia palavras para demonstrar sua revolta.

A verdade é que Sugar só não seguiu em frente com àquela ideia em razão de sua melhor amiga, Marley Rose, que ficou ao seu lado incentivando-a a meramente aceitar a resolução oferecida pela Jones, para poderem ir embora numa boa e logo, porque senão, cumpriria com suas palavras sem nem pensar duas vezes. Era uma mimada chiliquenta, desde sempre. Marley enxergava isso na amiga, mesmo que Brittany duvidasse, o fato é que, Sugar nunca deu as costas a Rose e a fazia bem, e todos, absolutamente todos neste mundo tem defeitos. Ser mimada naquele nível era o de Sugar, aí vai do que é possível ou não tolerar da personalidade de cada um. Para Marley aquele traço era tolerável, mas para a Pierce não. De qualquer forma, a vida precisava continuar.

Santana teve as atenções voltadas a porta do vestiário, quando Mercedes se colocou dentro do perímetro. Então, ali do banco onde se encontrava, a latina rapidamente levou as costas de uma das mãos aos olhos, limpando as lágrimas que permaneciam escorrendo por suas bochechas. Resquício de um choro de ódio, tristeza e mais. Não estava fácil. Nunca pensou que lidar com aqueles comentários, olhares e julgamentos seria tão difícil como estava sendo. Nunca pensou que os hormônios a mil fariam ela sentir o que estava sentindo, na intensidade em que estava sentindo. Parecia tudo em dobro. Ou melhor, era tudo em dobro. Pior do que passar pela adolescência, pior do que tudo o que já passou em vida. Mesmo que 20 anos não fosse tanta vida para contar.

Além disso, já fazia praticamente dois meses que não falava com seus pais, Lorenzo e Maribel, e de vez em quando se pegava imaginando como sua vida estaria agora, caso ela tivesse acatado a sugestão deles de não seguir em frente com aquela gravidez. Provavelmente, não teriam brigado e ela ainda teria contato com eles. E talvez, os dois tivessem razão, uma vez que trabalhavam há anos na área de medicina e tinham familiaridade com casos iguais ao seu, por isso temiam que a filha largasse os estudos em consequência e depois se arrependesse.

No instante seguinte, a menina Lopez sentia-se horrível de ponderar sobre tal possibilidade, pois, apesar de não planejar aquele bebê, algo positivo em seu âmago despertou para o imprevisto assim que descobriu a existência de uma vida sendo gerada dentro de si. Algo que não conseguia explicar, e que possivelmente fosse influência dos hormônios, porém, não descartava o fato de existir ali, em seu mais profundo subconsciente. Desse modo, optou por manter a criança.

— Elas já foram embora... — Mercedes disse, aproximando-se de onde Santana estava. — Entramos num acordo.

— Sei bem o que isso significa.

— É, a gente sabe que é uma merda. — Ela se sentou ao lado da Lopez. — Mas, você não vai perder o emprego no que depender de mim e convenhamos que pegou bem feio pra fulaninha o escândalo que ela deu, duvido que a garota volte a dar o ar da graça por aqui tão cedo.

— Obrigada pelo apoio, Cedes... Mesmo. Espero que esteja certa. Foi muito difícil não pular na cara daquela fresca.

— Deu pra ver. Mas, algo te desestabilizou bastante um pouco antes disso, não foi?

Nós - BrittanaOnde histórias criam vida. Descubra agora