16. Visita de grego

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— Britt?

Sam chamou, notando a total desatenção da amiga em sondar aquela vizinhança. Era sexta-feira à noite e todos os últimos acontecimentos continuavam borbulhando na mente da loira e o pior de tudo é que... Sentia-se culpada. Culpada por perder o celular, culpada por não conseguir falar com Santana, culpada por seus pais estarem irritados com ela e outras trocentas coisas. Estava difícil fingir o contrário.

O sentimento de fuga crescia mais e mais... Se ao menos o ato de desenhar resolvesse tudo, seria incrível. O problema é que os diversos ruídos em sua comunicação com as outras pessoas pegava-a de jeito, quando mais nova nunca se importou tanto por justamente se perder em desenhos... Agora nenhum desenho que fizesse no mundo conseguia desviar sua atenção do foco principal, ou seja, sua relação ou a falta dela com os outros.

Ela que tanto quis fugir de conflito, sempre acabava em um. Ela que costumava sorrir com um único raio de sol, parecia presa sob um eterno céu acinzentado. Ela que nunca quis se afetar por coisas externas, buscava aprovação de todos inconscientemente, especialmente de seus pais. Seria até engraçado, se não fosse totalmente caótico.

— Tá tudo bem? — O Evans continuou. — Você parece meio longe.

— É porque eu tô mesmo. — Ela suspirou.

— Aconteceu alguma coisa?

— Várias... Mas, eu não tô a fim de falar sobre isso agora se não se importa.

— Claro, eu entendo. Tranquilo, Britt... — Sam sorriu, compreensivo. — Quer ir pra casa?

— Não. Acho melhor continuarmos olhando, isso não pode esperar. Você sabe.

— Tá bom, mas se sentir vontade de ir embora é só me falar. Ok?

— Uhum.

A partir daquele momento, a Pierce forçou sua cabeça a voltar ao aqui e agora. Tinha que se atentar de verdade àquela vizinhança, como fez com todas as outras. Assim, na semana seguinte, visitaria os apartamentos que ela, Sam e Kitty selecionaram anteriormente através de anúncios da internet e, enfim, escolheria um novo lar. Mesmo que se tratasse de aluguel. Bom, isso nem de longe era um problema... Brittany saberia o que realmente é morar sozinha e se virar por conta própria, sem os pais ou uma namorada. Em um misto de pavor e ansiedade, se agarrou a coragem que voltara a aparecer. Não podia abrir mão dela... Jamais. Sua motivação tinha que ser o próprio desejo de ver as coisas mudando para melhor, por mais que não agradasse a algumas pessoas.

(...)

— Que tanto você olha pra esse celular, hein? — Rachel quis saber.

— Ah... Nada demais, anã. — Santana mentiu, desconversando. Levantou-se do sofá e viu sua prima fazer o mesmo. — Enfim, tô indo dormir. Boa noite.

— Ok. Boa noite.

Elas se abraçaram e a latina partiu para seu quarto, rapidamente. Já na cama, voltou a fitar a última mensagem que mandara a Brittany. Um dia de vácuo era normal, quem nunca... Mas, quando passava disso começava a ficar estranho. Tinha acontecido algo. Talvez, a loira estivesse ocupada demais para respondê-la. Ou então viu, não podia na hora, deixou de lado e esqueceu. Ou talvez, meramente não tivesse mais interesse em falar com ela mesmo.

Eram muitas hipóteses e Santana reconhecia que a última era a mais plausível... Muito provavelmente a Pierce ficou com dor na consciência por toda a situação envolvendo Sugar há duas semanas e, de alguma forma, quis compensá-la se retratando no lugar da amiga, por isso a devolveu uma quantia consideravelmente maior do que aquela que foi descontada de seu salário e veio vê-la nos dias seguintes, chegando até ao ponto de levá-la ao hospital quando precisou e, claro, aceitar o número da Lopez quando sua prima decidiu passá-lo à loira. Talvez, depois de constatar sua melhora quando se esbarram no shopping na última terça-feira, Brittany resolveu mandar mais algumas mensagens, só para não sumir de uma hora para outra. E então, parou de vez. Afinal, não tinham vínculo algum. Mal se conheciam.

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