10. Emergência

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Sozinho, enquanto esperava sua mulher chegar do plantão, o Sr. Lopez preparou um lanchinho da noite para comer em frente à televisão diretamente de sua querida poltrona que, residia ao lado do sofá na sala de estar da casa. Tal ato não era aprovado por Maribel, então o paramédico só o fazia quando a esposa não estava presente, caso contrário se dirigia à mesa da cozinha para fazer qualquer refeição junto a ela sem reclamar, afinal não era de todo ruim já que nesse meio tempo eles conversavam sobre o dia que tiveram. Acontece que, naquela sexta-feira, a cabeça de Lorenzo não estava ali, no lanche ou no que passava na TV e sim em sua filha, Santana, com quem ele não falava há mais de dois meses. Nunca tinha ficado tanto tempo sem falar com a garota antes e isso era muito ruim, mesmo que sua sobrinha, Rachel Berry, periodicamente o deixava a par das coisas.

A novidade agora era que Santana havia trancado a faculdade de Linguística, sem nem mesmo pensar em consultar ou avisar o pai e a mãe antes. Não que ela não pudesse o fazer, longe disso, tinha todo o direito, a vida era sua, mas seria o mais justo visto que o casal a ajudava a pagar certa porcentagem em cima do valor do curso... E o mais importante de tudo, eram seus pais e a amavam muito. Bom, levando em conta a personalidade de Santana, Lorenzo nem se admirava tanto, já que a dos olhos castanhos era praticamente um espelho de Maribel: teimosa, orgulhosa e irritadiça.

O homem também deduzia que, com certeza, a jovem ainda estava chateada com a sugestão de aborto feita por ele e a esposa, entretanto, ambos nunca pensaram que isso a afetaria tanto assim, já que o assunto sempre foi discutido debaixo do teto deles e Santana tinha a visão completamente aberta e resolvida em relação ao tema antes de engravidar, e aí, quando aconteceu, parecia outra pessoa, extremamente sensível e explosiva quanto à possibilidade mencionada. Mesmo assim, os mais velhos insistiram, a fim de abrir os olhos da menina que não estava enxergando as coisas a longo prazo, e foi nesse insistir que erraram e brigaram feio com ela. Desde lá, estavam sem se falar. O Sr. Lopez até pensou em procurá-la um dia depois, mas optou por dá-la mais tempo e espaço para pensar, nisso as semanas foram passando uma atrás da outra e Maribel crente de que a filha mudaria de ideia no começo, perdeu as esperanças nesse período, se contentando com uma informação ou outra que recebia de Rachel e se irritando toda a vez que o marido propunha deles pedirem desculpas a Santana. Lorenzo só tomou coragem de ligar para a filha quando sua sobrinha o avisou do trancamento da faculdade – ou seja, ontem; mas até agora todas as suas chamadas e mensagens não haviam resultado em nada, infelizmente.

De súbito, o celular do socorrista começou a tocar. Ele o apanhou. Era Rachel.

— Alô, Rach?

— [Tio Lorenzo, oi!]

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, estranhando na hora a entonação da universitária. — Você parece ofegante.

— [É que eu tô tentando me trocar rápido... Pra sair. A San me mandou uma mensagem dizendo que tá indo pro hospital por causa de um sangramento repentino e dor, tontura, enfim... Não sei se ela te avisou.]

— Não... — Ela arqueou as sobrancelhas, levantando-se da poltrona preocupado. — Ela não avisou. Você conhece a figura, Rachel... Bem, não importa. Obrigado por me falar. Já tem carona até o hospital?

— [Não, ainda não. Tava pra chamar um táxi agorinha.]

— Certo. Não chama... Tô indo te buscar e vamos juntos, pode ser?

— [Claro. Vou te esperar aqui na frente do prédio.]

— Ok. Chego em dez minutos.

Doutro lado da linha, Rachel terminou de botar os calçados nos pés e assentiu.

— Beleza. Até, tio.

— [Até.]

Ela desligou o celular e, segundos depois, bateu na porta do banheiro que ficava no corredor do apartamento, dizendo a Kurt que iria sair aos berros. Então, rapidamente, a Berry o viu abrir a porta com uma toalha enrolada na cabeça e um ponto de interrogação estampado na cara. A outra estava muito afobada para o seu gosto.

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