Desabafo

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O clima não era dos melhores e a mulher que segurava a maçaneta da porta olhava pra mim com curiosidade e tentava amansar a todo custo suas emoções, o que não impedia que eu distinguisse com facilidade cada uma delas, ela estava cansada não fisicamente e sim mentalmente. Embora seus olhos estivessem avermelhados a mulher de cabelo preto e curto não escondia o fato de me analisar da cabeça aos pés. A julgar pelo meio sorriso que ameaçava surgir em seu rosto cansado ela tinha simpatizado comigo.

As duas se parceria muito, não os traços do rosto e menos ainda o cabelo. O que ambas compartilhava era o sorriso e os olhos enevoados e intensos que escondiam uma grande tristeza, Ana estava uns passos atrás da mulher que abriu a porta complemente desestabilizada e a ponto de sucumbir a mágoa e a culpa que tanto carrega. Meu primeiro intuito foi entrar de vez na casa e lhe assegurar que tudo ficaria bem sem nem ter certeza.

ㅡ Você deve ser o Thiago. – a mulher fechou a porta assim que eu entrei. ㅡ Sou a Alice mãe da Ana.

ㅡ Tudo bem? – perguntei apenas por educação já que era óbvio que não estava nada bem por aqui. 

Não penso muito e ando até a Ana que ainda estava presa em um silêncio mórbido, minha mão desceu do topo da sua cabeça até a bochecha fria onde deixei um afago que a fez fechar os olhos por um breve momento.

ㅡ Está pronta? – beijo rapidamente seus lábios.

ㅡ Não! – ela abriu os olhos possibilitando que eu enxergasse toda a confusão refletida ali. ㅡ Perdi a noção do tempo. – Ana fitou a mãe. ㅡ Espera um pouquinho?

ㅡ Todo o tempo do mundo. – minha fala foi o suficiente para arrancar um sorriso seu, pequeno mas era um começo.

Ana balançou a cabeça e seguiu pelo corredor, suspiro olhando em volta, era uma casa modesta e bem decorada que mesclava um pouco da personalidade das três moradoras. Alice ainda estava no mesmo lugar e por alguma razão eu sabia que ela precisava de cuidados.

ㅡ Você está bem? – Alice desviou os olhos duvidando que a pergunta fosse para ela.

ㅡ É melhor sentar. – indicou um dos sofás. ㅡ Ela vai demorar.

Sento em uma das acomodações enquanto a mais velha seguia fingindo que não ouviu a pergunta, pego meu celular checando uma mensagem e o guardo no bolso. Alice pegou um livro folheando as páginas, o silêncio entre nós dois não era ruim e sim carregado de apreensão. Dava para ver de longe o amor que era destinado a filha mais velha e esse sentimento trazia como companhia dor, culpa e muita saudade.

ㅡ Sinto muito pelo que você viu ou ouviu antes de entrar. – Alice estava bem desconfortável.

ㅡ Não se preocupe. – a tranquilizo, todas as famílias tem desavenças. ㅡ Você ainda não respondeu se está bem ou não.

ㅡ Já estive melhor, eu só... – ela parou ao se dar conta do que estava fazendo. ㅡ Onde vão? – mudou de assunto mostrando o quanto as duas repetem padrões.

ㅡ Vamos dar uma volta por aí. – Alice devolveu o livro no lugar claramente nervosa e meu coração apertou. ㅡ Eu vou cuidar dela Alice. – prometo antes mesmo dela pedir o que a deixou extremamente chocada.

ㅡ Obrigada. – foi só o que ela conseguiu pronunciar.

Ana apareceu vestindo um shorts jeans e uma camiseta, a jaqueta pendurada na bolsa e o cabelo solto que sempre ressaltava sua beleza. Me despeço da Alice e Ana somente acena fazendo de tudo para não encarar a mãe. Andamos pela rua do seu bairro, o plano inicial seria passear em um parque próximo e curtir a tarde juntos. Ana estava aérea demais e o que ela necessitava agora era de um lugar calmo.

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