Construir

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Ando apressada, meu sapato em contato com o chão produz um barulho engraçado, seguro a alça da bolsa marrom com força. As pessoas ao meu redor estão assim como eu, com pressa, mas como dizem os mais velhos. A pressa é inimiga da perfeição.

Sinto um tropicão meu ombro dói e a bolsa cai no chão, me abaixo vendo a maioria dos meus pertences espalhados e meu celular mais afastado. Guardo tudo e quando vou pegar o aparelho alguém é mais rápido.

ㅡ Aqui.... – a voz grave se fez notável.

O homem devia ter a minha idade ou quem sabe é mais velho, ele me ajudou a levantar. Ficamos parados no meio da calçada, as pessoas indo e vindo de um lado para o outro, à avenida estava movimentada.

ㅡ Obrigado. – pego o celular e aperto os olhos, ele estava todo trincado. Que maravilha.

ㅡ Eu não machuquei você......? – o homem esperou pelo meu nome.

ㅡ Ana! – respondo com um sorriso. ㅡ E não, não machucou. – reparo na forma como ele me olha, meio que me investigando. ㅡ Obrigada mais uma vez, mas eu preciso....

 ㅡ Se quiser eu compro outro. – nego.

ㅡ Não é necessário mas valeu. – falo rápido, ele parecia simpático. ㅡ Tchau!

Aceno e me ponho a caminhar teria uma reunião em vinte minutos e meu celular já era, pelo menos o homem foi gentil em me ajudar e se oferecer para comprar outro aparelho. Entro no grande prédio, vou para minha sala e começo a separar tudo que vou utilizar na reunião. Já na sala apresento a logo da nova campanha para o cliente.

Saiu da reunião animada, é sempre assim, me encanta ver a surpresa e a satisfação de cada cliente. Quando o experimente termina deixo a agência ansiosa e com o frio gostoso na barriga, é um tantinho bobo eu sei, porém estou tão feliz. Acordei mais cedo na manhã de hoje, Thiago ainda dormia com a mão na minha cintura, tão calmo como só ele. Meu coração deu uma volta completa diante da cena mais linda e mesmo que ao redor tudo fosse caixas e mais caixas e até um guarda roupa vazio, era nossas vidas e escolhas. Nossa história.

Ao pegar a condução pra casa da minha mãe penso em todos os meses e parece loucura todos os acontecimentos, ao mesmo tempo é tão natural, tinha mesmo que acontecer. Desço no ônibus e ando alguns quarteirões, procuro a chave na bagunça organizada que é minha bolsa e abro a porta, não é porque não moro mais aqui que iria desfazer da minha chave. A primeira coisa que noto é o chorinho da Julia, minha irmã a ninava de um lado ao outro e cantava um cantiga infantil.

ㅡ Até hoje não entendo. – Bia notou minha presença e sorriu meio perdida na minha fala. ㅡ Quem está fazendo o neném dormir se o pai foi pra roça, a mãe foi trabalhar e a cuca está vindo pegar o neném? – a lógica dessa canção é e mesmo inusitada e o mais estranho é que sempre funciona.
 
ㅡ Pelo menos não é o boi da cara preta. – nisso eu tenho que concordar.

A pequena não estava nem um pouco inclinada a dormir, pego-a no colo com todo o cuidado do mundo. Júlia a cada dia se parece mais e mais com os pais, uma mistura perfeita. Minha pessoinha.

ㅡ Tem algo nela que lembra a mamãe não acha? – Bia deixou claro seu ponto. ㅡ A personalidade.

ㅡ Ela tem o brilho da dona Alice. – toco o nariz arrebitado da bebê. ㅡ A serenidade também. – brinco. ㅡ Faz um favor pra mim? Liga pra o Thiago e diz que meu celular já era. 

Bia fez o que pedi, dou a mamadeira para a bebê mais linda do mundo. Converso com ela um papo só nosso, tenho absoluta certeza que de Júlia me entende.

ㅡ Já avisei ao Thiago. – Bia voltou e sentou do meu lado no sofá. ㅡ Como foi a primeira noite na casa?

ㅡ Boa, dormir feito um bebê. – ela me olhou horrorizada. ㅡQue?

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