A chuva deu uma trégua se transformando em pequenas gotículas não penso e faço tudo no automático, visto uma roupa qualquer, carteira e sapatos. Ana imita meus movimentos e juntos deixamos o quarto, a voz da minha mãe soava como um zumbido incompreendido no meu ouvido, meu coração falha e meus olhos ardem, não vou chorar. Não é verdade.
O carro estava lá fora, Ana e mamãe dão a volta entrando, um minuto, eu só precisava de um minuto. Meu pai estava ao volante tentando consolar minha mãe e ao encarar a rua, a água escorria pela lateral até chegar no bueiro e mais adiante um carro cortava o silêncio da noite ao dobrar a esquina. Era o Pietro.
Eu queria correr e desaparecer, gritar. Uma mão me mantinha firme e proporcionava força, passamos pela costumeira rua onde nos reunimos desde a infância. Sinto um nó na garganta, o portão escancarado, as luzes acesas e os vizinhos enxeridos mostravam que poderia ser verdade.
ㅡ Não é verdade Ana! – cada partícula de dor e esperança explícita. ㅡ Não é.
ㅡ Não é! – sua voz vacilou e a sua mão que me sustenta subiu até meu rosto.
Caminho longo, lento e desconhecido os sinaleiros vermelhos ficaram para trás enquanto meu pai dirigia em alta velocidade, do lado de fora da janela os edifícios, as pessoas e os carros tornaram um amontoado de imagens em negrito para depois ganharem uma tonalidade azul e vermelha. Papai estacionou abro a porta com tudo, a realidade é assustadora e a chuva fina me desperta trazendo sua terrível verdade.
O zumbido se foi e meus olhos vasculham o lugar a medida que meus pés se movem, carros de polícia espalhados de qualquer maneira e na dianteira de encontro o poste de luz estava o carro preto. O maldito carro com a frente retorcida.
Três corpos no asfalto e um deles era o meu amigo, o grito de dor rompe o céu se espalhando pela rua. Quando por ventura perdemos nossos pais nos tornamos órfãos, quando perdemos nossos parceiros ou parceiras ficamos viúvos. Que termo usar quando um pai e uma mãe perde seu filho? Não existe termo ou nome nenhum que explique a alma acoitada da mulher que nina em seus braços o corpo inerte da sua cria.
ㅡ Thiago! – apoio meu joelho no chão e toco seu ombro esquerdo. ㅡ Meu menino Thiago. – ela fazia leves carinhos no rosto sem vida e coberto pela chuva. ㅡ Tiraram ele de mim.
Paula se levantou com toda fúria indo até os policiais que encarava a situação com indiferença para eles era mais ocorrência, não dava pra distinguir suas expressões. Alex estava em um canto mais afastado seu olhar não deixava o lugar onde Victor estava, as lágrimas caíam e mamãe o abraçava. Antônio e Lúcia tentava acalmar a tia Paula que gritava a todos pulmões que a polícia matou seu filho.
Me afasto sentindo o ar desaparecer, sento na calçada de paralelepípedo é como se tivesse um peso no peito, eu não ia chorar. Não é verdade é só um pesadelo, era verdade é o que minha mente adverte.
Abaixo a cabeça encostando no antebraço, a garoa fria incomoda e se ao menos ela fosse útil e levasse a dor embora. Sinto o calor sobrepor o frio, ela começa na palma da mão e se estende pelo corpo formando uma bolha de proteção que libera todas as lágrimas acumuladas. O soluço vem forte um rugido da alma, a raiva me consome, ele não podia ter feito isso. Victor não podia ter morrido.
ㅡ Thiago meu amor olha pra mim. – Ana tirou seu braço que protegia meu corpo de todo o mal. ㅡ Eu sinto muito!
Não tinha o que dizer ou como agir, meu pai era a pessoa que parecia em condições de fazer alguma coisa. Ele falava com um dos policiais provavelmente em busca de respostas, Manuel chorava nos braços da mãe e fico aliviado ao notar que Bia não está.
ㅡ Manuel e minha mãe não à deixaram vim. – Ana respondeu como se eu tivesse feito uma pergunta.
Volto para o calor do seu abraço sabendo que estou complemente seguro nele, choro escutando o lamento de uma família. Só choro, dói na alma, machuca a mente e só dói. Eu só precisava que a dor me deixasse em paz, eu só precisava fechar os olhos com força e tudo voltaria a ser como antes. Victor abriria os olhos e diria ser uma brincadeira idiota, uma travessura de criança. Eu o xingaria e ameaçaria e o Pietro teria que intervir.
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Histórias de amor
RomanceEncaro o olhar pidão de Alice e depois meus olhos vão até a janela aberta, era uma manhã pacata e a claridade do sol iluminava o interior da sala através dessa mesma janela. Me perco um pouco na sua pergunta, drama? Eu não sabia que tipo de drama el...