O celular anuncia através da musiquinha ritmada e estressante uma ligação, coloco no silencioso e foco minha concentração na apostila. Seria uma grande e ousada propaganda e eu estava tão animada pela diretora da agência ter aprovado e me colocando a frente desse projeto. Desvio meu olhar do papel por um instante, a sala ampla se encontrava quase vazia tendo somente eu e um senhor que também aguardava, em meia hora Daisy sairia da consulta semanal. A terapia estava fazendo tão bem a minha amiga, pouco a pouco ela encontrava um equilíbrio e fazia as pazes com seu corpo, mente e alimentação.
Pego meu celular para enviar um e-mail, duas chamadas perdidas e cinco massagens no WhatsApp. Vencida pelo cansaço escuto cada uma, papai de novo com a insistência em me ver, respondo uma delas pedindo que me encontre e na meia hora seguinte termino minhas anotações.
ㅡ Ana! – levanto a cabeça encontrando a Daisy parada. ㅡ A sessão acabou, vamos?
ㅡ Como foi a consulta? – pergunto guardado meus pertences e logo saímos do consultório.
ㅡ Foi bom. – passamos a caminhar pela alameda. ㅡObrigada!
ㅡ Já falei eu não precisa agradecer. – minha amiga revirou os olhos azuis. ㅡ O bom é que eu não preciso mais te arrastar.
ㅡ Eu tenho que concordar. – fomos para onde ela tinha estacionado o seu carro.
ㅡ Isso chama evolução. – brinco fazendo-a sorrir. ㅡ Agora senhora Daisy pode desenrolar essa história de beijar o Pietro.
Ela ficou visivelmente vermelha, entro no carro fazendo ao máximo esforço para não rir do seu constrangimento. Daisy deu partida ainda calada e eu espero tranquila, tudo que envolve nós duas, as brigas por conta do seu problema e os meses só serviram para fortalecer nossa amizade e para conhece-la verdadeiramente.
ㅡ Ficamos. – meu sorriso se expande. ㅡ Pietro me olha de uma forma tão única.
ㅡ Isso porque ele está apaixonado. – abaixo o vidro do carro. ㅡ Enrolado também.
Na verdade enrolado era só um modo engraçado de se referir ao fato do Pietro ser cauteloso com os sentimentos da Daisy, ele sabia desde que descobrimentos sobre a bulimia que a loira precisava mesmo era de um amigo e ele se tornou tudo que ela necessitava, a ajudou a subir cada degrau e a derrubar cada barreira. Os dois se completavam, Daisy foi para o Pietro nesses últimos meses a luz que o guiaria nessa floresta onde as árvores e folhas simbolizavam sentimentos ruins. O abraçou quando ele se despedia do Victor e o fez rir e chorou com ele quando só tinha espaço para lágrimas.
ㅡ Você podia me deixar orgulhosa. – Daisy ficou sem entender. ㅡ Se beijaram e o que mais? Vai amiga diz que tem mais. – suplico.
ㅡ Pode se orgulhar então. – ela manobrou o carro virando a esquina. ㅡ Chamei o Pietro para um encontro.
ㅡ Senhor muito obrigado é agora que esse casal sai. – não perco a oportunidade de zoar com sua cara.
ㅡ Não começa. – faço uma dancinha com a mão só pra irritar mais. ㅡ Idiota, vai ficar a onde?
Peço que me deixe perto de uma cafeteria e conto a razão para ir lá, Daisy perguntou se eu queria que ela me esperasse mas nego antes de agradecer o gesto e sair do carro. Caminho até o café e acabo recebendo uma mensagem da Pixie convidando eu e o Thiago para jantar na sua casa no sábado, confirmo e entro no espaço. Papai estava acomodado numa mesa, a xícara de café sobre o pires e o olhar de sempre, paro na sua frente pra em seguida sentar e quando encaro seus olhos o silêncio sobressai e incomoda, espero que ele inicie a conversa, o que não acontece.
ㅡ Porque queria me ver? – acabo eu mesma dando início ao diálogo.
ㅡ Pra saber como vocês estão Ana. – tento relevar o tom de cobrança. ㅡ Queria saber sobre a Bia também.
ㅡ Você sabe muito bem como estamos. – respondo com calma.
ㅡ Sua mãe está exagerando ao me afastar da minha filha. – ele bebericou o café.
ㅡ Não está. – contradigo e seu olhos chamuscam furiosos. ㅡAté porque essa também é uma decisão da Bia.
Bia de fato queria uma certa distância não por medo ou ódio, ela amava meu pai assim como eu também o amava. Mas ele não mudaria suas atitudes e muito menos faria algum esforço. Papai ainda acreditava que minha mãe é responsável por toda essa situação. Quando na verdade ela mais um vez fez diferente nos chamou para uma conversa franca expôs sua opinião e respeitou a nossa em querer nos manter o mais afastada possível.
ㅡ Na minha opinião estão fazendo uma tempestade. – papai estava nervoso, as narinas inflamadas.
ㅡ Não ligo se essa é sua opinião ou não. – interrompo o diálogo quando um atendente aparece, peço um suco de laranja o vendo se afastar educado. ㅡ Porque não falou com a Bia por telefone?
ㅡ Eu falei e mais uma vez ela foi ignorante. – como se ele não tivesse dado um jeito de deixar minha irmã com raiva. ㅡ Mas e você?
Me limito a dar um curto sorriso, eu não queria discutir ou alimentar sentimentos negativos, queria me preservar e faria isso e o Mariano é meu pai apesar de tudo.
ㅡ Ultima semana de aula. – esqueço todos os nossos problemas e dilemas. ㅡ Está tudo corrido ainda mais porque a Julinha está pra nascer.
ㅡ Julinha.... – não tem com o descrever o que passa em sua mente. ㅡ Está muito perto?
ㅡ Quase quarenta semanas. – disse o óbvio, não é como se ele não soubesse fazer uma conta.
ㅡ Eu saberia de coisas como estas se sua irmã contasse.
ㅡ Você saberia se interessasse por sua neta. – sou incisiva, nem devida ter vindo. ㅡQuando Bia ligou pra você pra contar que era uma menina ou quando ela e o Manuel escolheram o nome você fez pouco caso.
Minha irmã ficou tão triste, ela estava tão feliz que não pensou muito pois queria que todas as pessoas importante fizessem parte desse momento incluindo nosso pai, os dois discutiram pelo telefone.
ㅡ Você e sua irmã estão me pintando como um monstro. – ele debochou. ㅡ Se duvidar não vão nem me deixar ir vê-la no hospital quando ela entrar em trabalho de parto.
Respiro fundo e termino de beber o suco, nunca teríamos um encontro que terminasse sem briga ou sem farpas. Como sempre ele é a vítima e nós os agressores, já estava ficando tarde o Thiago iria pra casa pra ajudar a Bia a agilizar alguma coisa no quarto dela, o melhor era ir embora.
ㅡ Não faríamos isso, agora se fosse ao contrário não poderia dizer o mesmo. – ele desviou os olhos pois sabia que era verdade. ㅡ Olha pai, esse é o momento mais especial da vida dela se for pra ser um idiota e tecer seus comentários sugiro que fique em casa. – sou honesta. ㅡAgora se for pra ficar feliz de verdade pela Bia e o Manuel e porque ama sua neta, você vai ser bem vindo. – levanto. ㅡ Preciso ir.
Vou para o ponto esperar a condução, recebo uma ligação da Pixie querendo contar uma novidade sobre seu trabalho, escuto animada e finalizo a chamada antes de entrar no ônibus, a senhorinha que vimos quando a meses atrás peguei o ônibus com o Thiago estava sozinha no último acento.
ㅡ Faz tempo que eu não vejo você porque aqui. – falo como se fossemos grandes amigas.
ㅡ Você pediu o telefone? – a mulher perguntou o que mais lhe interessava. ㅡ Minha filha mora em outro estado, fui visita-la por isso sumi. – definitivamente éramos amigas. ㅡ A propósito me chamo Helena.
ㅡ Ana. – me apresento. ㅡ E não eu não pedi o número. – a senhora ficou levemente triste. ㅡ O Thiago foi mais rápido.
ㅡ E o que aconteceu depois? – a curiosidade estampada no rosto. ㅡ Adoro histórias de amor.
ㅡ Eu também....
Resumo toda a nossa história já que o percurso era curto, falo sobre o primeiro beijo e sobre o encontro no restaurante. Sobre como silenciosamente deixamos tudo acontecer naturalmente, que a cada dia e a cada descoberta eu me apaixonava ainda mais e agora o amo como nunca achei que amaria alguém e que nos completamos nos pequenos detalhes e nas diferenças.
ㅡ Tenho que ir criança. – os olhos dela estava marejados por conta do encantamento. ㅡ Ansiosa para o novo capítulo, vou contar pra minha neta aquela que estava comigo. – a senhora deu o sinal. ㅡ Ela disse que shippa vocês.
ㅡ Tchau Helena....
Num passado recente um dos meus maiores sonhos era chegar em casa, sentar no sofá ou na cadeira perto da mesa na cozinha e conversar com minha mãe e a Bia, sem amarras e sem peso. Só uma família e quando me juntava com o Airton e a Maria para um jantar ou um momento comum, eu me pegava imaginando se alguma vez a cena seria contrária.
Tantas vezes Thiago chegou na sua casa e me encontrou com seus pais, hoje o cenário é novo e as posições invertidas. Não tinha ninguém na sala de casa, as vozes vinham da cozinha. Paro na porta admirada com a cena e só agora compreendo a razão dos olhos do Thiago adquirirem um brilho ímpar toda vez que me via com sua família.
Mamãe estava de pé na pia com uma taça de vinho, Bia sentada na cadeira com as pernas cruzadas na posição de índio e o Thiago na ponta, sua taça pela metade ao lado de uma pilha de roupinhas cor de rosa.
ㅡ Filha. – mamãe chamou assim que me viu. ㅡDemorou.
ㅡ Foi mal mãe. – desvio meus olhos do Thiago. ㅡ Papai ligou e insistiu pra me ver. – desencosto do batente, entro na cozinha e em vez de me acomodar na cadeira sento no colo do Thiago que me recebe com um beijo.
ㅡ Como foi? – mamãe questionou como sempre.
ㅡ Nada novo mãe. – é o que limito a dizer. ㅡ Nem vale a pena comentar.
ㅡ Saudade de você. – Thiago sussurrou no meu ouvido.
Fito seus olhos, minha mão acariciando os fios de cabelo e descendo para contornar o formato da barba. Investigo sua fisionomia, a dor de perder um ente querido se mistura com a honestidade do seu olhar.
ㅡ Te amo. – beijo rapidamente sua boca. ㅡ Começou sem mim. – finjo estar brava o que faz minha irmã suspirar como se tivesse irritada.
ㅡ O Thiago dobra roupinhas de bebê melhor do que nós duas. – Bia ralhou mostrando a língua para o Thiago.
ㅡ Nem é tão difícil. – ele constata, peço um gole do seu vinho e agradeço com mais um beijo. ㅡ Agora só falta guardar.
No quarto ajudamos a Bia que queria pendurar algumas molduras com desenhos feitos por ela mesma, conversamos um pouco enquanto o Thiago abria furos com auxílio da furadeira, depois jantamos, Thiago tinha tanto assunto em comum com minha mãe ambos se devam muito bem. Os deixo a vontade e vou assistir minha última aula online, não vejo a hora passar e pego no sono.
ㅡ Que horas são? – pergunto ainda sonolenta.
ㅡ Meia noite. – Thiago tirou a camisa e deitou na cama. ㅡIsso é bom. – sua mão brincava com o bico do meu seio, ele me deu um beijo perto do queixo. ㅡ Nem contei pra você que eu vi a senhorinha do ônibus. – ele riu baixinho. ㅡ O nome dela é Helena.
ㅡ Bonito nome. – mais um beijo. ㅡ Contou toda a nossa história?
ㅡ Lógico! – minha voz sai um pouco alta. ㅡ Não. Me. Tortura. Assim! – falo com dificuldade.
Thiago me puxou para seu colo tirando o meu sutiã, sempre seria assim avassalador, envolvente. O tesão está no seu olhar lânguido, nas mãos quentes em contato com meu corpo. Na sua língua que contornava e lambia, no sussurro rouco e em cada palavra provocativa que me faz vibrar. Suas reações me deixava inebriada e sedenta por mais.
ㅡ Amo você.... – Thiago disse ao pé do ouvido.
Fecho os olhos só curtindo o momento a tranquilidade e o carinho no cabelo.
♡♡♡♡♡♡
ㅡ Eu chamei os dois pra jantar e adivinha? Vão sair sozinhos. – Luan estava bravo.
ㅡDeixa os dois. – Thiago defendeu.
Os dois estavam na sala tomando uma cerveja e discutindo aleatoriedades, ajudo a Pixie no preparo da comida o aroma estava divino.
ㅡ Eles estão namorando não é? – Pixie transferia a comida pra um refratário.
ㅡ Pietro me disse que ia pedir hoje. – conto em tom de segredo.
ㅡ FINALMENTE! – a morena gritou.
ㅡ Está tudo bem aí? – a voz do Thiago soou alarmada.
ㅡ ESTÁ SIM! – dessa vez sou eu que grito. ㅡ Pixie!
ㅡ Que? – ela riu da minha cara. ㅡ Menti? – pondero um pouco, essa garota é impossível.
ㅡ Besta! – arrumo os pratos.
ㅡ Vem, vou abrir um vinho pra comemorar oficialmente o fim das suas aulas. – ela foi até a geladeira.
ㅡ Graças a Deus...
Quarto garrafas de vinho depois estávamos todos com o riso solto, a música tocava baixinho, Thiago ao meu lado e todos espalhados no tapete do chão. Pixie contava nossas artimanhas da época do colégio.
ㅡ Ana sempre foi uma boa mascotinha. – Luan já falava coisa com coisa. ㅡ Vivia querendo pular o muro.
ㅡ Só eu? – eu também já estava bêbada. ㅡ Thiago até hoje não sei porque sou amiga deles. – encosto a cabeça no seu peito. ㅡ Sempre ficava de vela, os idiotas me arrastavam pra tudo quanto é lugar.
ㅡ Por isso você é uma mascotinha linda? – Thiago entrou na brincadeira.
Gargalho inconformada e feliz ao notar o quanto ele estava melhor e mais leve, de alguma maneira a vida segue seu rumo e cabe a todos acompanha-la sempre dando o melhor.
ㅡ E agora somos nós que ficamos de vela quando vocês estão juntos. – Pixie tomou todo o conteúdo da taça. ㅡAna meu amor. – ela estava doidinha. ㅡ O que acontece quando o Thiago aparece?
ㅡ Todo mundo faz puf e aí só tem nós dois. – as palavras fluem com facilidade.
O papo se estendeu madrugada a dentro e acabamos ficando por lá mesmo. O resto do fim de semana passou voando, fico em casa e o Thiago na dele, mas toda vez que dormíamos juntos o sonho infantil martelava na minha cabeça...
Desisto de tentar dormir a cama parecia grande demais e a noite solidária e estranha, eu não conseguia encontrar uma posição confortável. Levanto em busca de um copo de água, o relógio marcava uma da manhã, a luz vinda da sala chama a atenção. Mamãe usava a luz da TV como luminária e o som era quase nulo, ela gostava de ficar confortável no sofá com sua manta e um bom livro.
Ao me ver ela ergueu a mão quase na altura do ombro e fez um movimento convidativo, a ternura nos olhos, o pequeno sorriso e ela colocando o livro do braço do sofá é como ter cinco anos de novo. Minha reação é a mesma de quando eu tinha essa idade, ando apressada até estar pertinho para deitar com a cabeça no seu colo.
ㅡ A Bia ainda está com dor? – pergunto com os olhos fechados.
ㅡ Um pouco, o Manuel está com ela no quarto mas as contrações ainda estão bem espaçadas. – disse baixinho. ㅡPor isso não consegui dormir? – eu estava preocupada mas essa não é a razão.
ㅡ A cama é grande demais. – mamãe riu. ㅡ Eu sou espaçosa, durmo toda atravessada é o que o Thiago costuma dizer. – respiro apreciando o carinho, era bom estar assim. ㅡ Nos dias em que acordo cedo gosto de observa-lo dormir, Thiago é sereno e calmo. Quando estamos juntos tudo parece no lugar.
ㅡ E agora não. – mamãe sempre foi perspicaz. ㅡPorque?
ㅡ Ele não está e eu não gosto mais de me despedir. – despejo de uma vez vendo ela escutar com atenção. ㅡ Não era assim antes. – essa necessidade veio devagar com o tempo e o conhecer.
ㅡ Ainda mantém aquele sonho de criança. – não era uma pergunta, inclino a cabeça só o suficiente para fitar o olhar de quem conhece a vida e seus desdobramentos. ㅡ Nunca esqueci.
ㅡ Não acha precipitado? – peço sua opinião.
ㅡ Quando a necessidade de uma mudança e de viver uma nova experiência surge assim tão naturalmente como agora. – sua fala transmitia paz. ㅡNão importa se é cedo ou se é precipitado, o que importa é a certeza que você carrega aí.
ㅡ Amo você mãe.
É só o que consigo pronunciar, ela me apoia, está comigo e meu coração salta do peito. O mesmo olhar de antes, de quando pedi pra ter aula de piano o olhar de quando eu afirmei que nunca mais faria a besteira de usar drogas. Um olhar orgulhoso.
ㅡ Vem, vamos dormir que a madrugada vai ser longa. – mamãe se referia a Bia, faltava pouco agora.
Adormeço no sofá, algumas horas depois acordo com minha mãe chamando, bem que ela disse que uma noite longa. Três e meia da manhã as contrações da Bia aumentaram consideravelmente, pegamos o carro. Mamãe com sua calma de sempre, Bia a ponto de ter um colapso e o Manuel coitado, não sabia como ainda tinha a mão esquerda já que minha irmã apertava com tanta força.
ㅡ Eu não vou conseguir Ana. – Bia suava, as mãos trêmulas e os olhos fechados.
ㅡ Claro que vai. – a conforto sentido meu coração bater mais forte é sempre assim quando Bia busca por meus cuidados. ㅡ Vai ser molezinha.
ㅡ Não me faz rir. – ela respirou fundo. ㅡ To com medo Manuel.
ㅡ É a garota mais forte que existe. – Manuel tentava transmitir calma, recebo uma mensagem do Thiago dizendo que está a caminho.
No hospital Bia é atendida, Mamãe acompanha os dois. Parece aterrorizante, ligo para Lúcia que logo afirma está vindo, ando de um lado para o outro. Tudo iria dar certo minha maninha é forte e destemida, sua gravidez foi cheia de altos e baixos e eu torcia para esse momento ser inesquecível e sem complicações.
ㅡ Ana! – viro, Thiago atravessava uma das portas automáticas. ㅡ Já nasceu?
ㅡ Ainda não. – procuro me refugiar nos seus braços. ㅡVai dar tudo certo né?
ㅡ Claro que vai meu amor. – o beijo era como uma confirmação. ㅡ Se acalma um pouco.
Thiago tocou meu rosto, era reconfortante. Mamãe voltou meia hora depois, Bia já tinha entrado na sala e estava em trabalho de parto. O sorriso da mamãe é tão lindo, tento fazer como ela, sorrir, mas é uma tarefa tão difícil.
Segundos que se transformaram em minutos, meu coração para e a dor sufoca. O formigamento nas pontas dos dedos é o aviso de que tem alguma coisa errada, a aflição domina e sinto ganas de atravessar a porta que nos separa e invadir cada quarto em busca dela.
ㅡ Ana.... – a voz do Thiago me trás para a realidade, ele sabia que tinha algo errado. ㅡ Sua irmã vai conseguir.
ㅡ Minha irmã consegue tudo que quer. – minha voz soa tão firme e esperançosa.
ㅡ Ela puxou você e sua mãe. – Thiago olhou para minha mãe, faço o mesmo e sei o que é preciso.
A determinação se mistura com a dorzinha chata que me deixa em alerta, tento acalmar a todos especialmente minha mãe. Deixo o Thiago com ela quando meu coração se rasga, horas e mais horas.
Vamos maninha, você consegue é capaz de tudo.....
Um mantra, uma oração, fé, de o nome que você quiser. Repito e repito, encosto na parede ao lado da porta com a placa escrito restrito. Fecho os olhos, eu só queria está com minha irmã, eu estava em pensamentos.
Meus batimentos aceleraram quando pouso meus olhos no Manuel, ele está diferente como só agora se tornasse pai em todos os sentidos da vida. Me apresso antes de qualquer um, ele chora copiosamente e tudo. Tudo deixa de existir.
ㅡ Sua sobrinha é linda Ana. – Manuel começa, o abraço e isso faz com que ele perca o resto da força, mas eu ainda tinha. ㅡ Quase as perdi. – escuto o choro da minha mãe. ㅡ A pressão subiu e uma hemorragia.
ㅡ Está tudo bem agora. – no meu íntimo eu soube que antes não estava, fico forte. Mesmo querendo chorar.
Abraço minha mãe, ela estava alterada e aflita. De novo esqueço a dor e o medo que senti, Thiago a todo momento não tirou os olhos de mim. Ele sabia o que estou fazendo.
Mamãe e Lúcia são as primeiras a entrar para ver a pequena e minha maninha. Por mais que a sala estava repleta de pessoas desconhecidas não ligo. Não importo com mais nada. Thiago está aqui, ele está aqui com a mão parada no ar pronto como sempre. Meu amor a pessoa que me conhece.
ㅡ Está tudo bem agora. – voz calma e olhar que irradia amor. ㅡ Vem....
Choro, o medo agora me domina e não dou a mínima se pareço fraca. Em seus braços a dor vai desaparecendo, sua voz no meu ouvido vai me dando energia e agora sorriu. Tudo está bem.
ㅡ Eu devia ter entrado primeiro. – faço um bico agora contrariada.
ㅡ Pensa assim, a última visita é a mais longa.
ㅡ Somos espertos. – Thiago concordou. ㅡ Vamos pra casa comigo? Quero tomar um banho.
Thiago concordou fomos para casa, tomo um banho enquanto Thiago prepara algo para comer. Ao retornar para o hospital passamos na recepção e aguardamos minha mãe descer para que pudéssemos entrar. Falo um pouco com ela e depois fomos para o quarto. Três camas estavam desocupada restando uma no canto.
Nunca vi minha irmã brilhar como agora apesar de estar pálida, eu queria ir até o seu encontro e saber como está ainda mais depois de notar a bolsa de sangue interligada ao acesso no braço. Não consegui, eu só tinha olhos para a bebezinha deitada no minúsculo berço de acrílico. Solto a mão do Thiago quando vejo a Bia pagar a Júlia.
ㅡ É linda né. – ela a colocou no meu colo.
ㅡ Perfeita. – passo a ponta do dedo no seu rostinho delicado e enrugado. ㅡ Parece muito com você. – a bebê abriu os olhos. ㅡ Os olhos são do Manuel. – uso a mão livre pra fazer um carinho na Bia e levanto da cama com a Júlia. ㅡ Oi eu sou a Ana sua tia favorita tá. – falo como se ela pudesse entender, talvez consiga já que fechou os olhos por um longo momento. ㅡ Se o Alex e a namorada dele falar que são eles não acredita.
ㅡ Ana! – Manuel e o Thiago riram abertamente.
ㅡ Eu tô falando sério. – reviro os olhos, todo mundo pensa que é uma brincadeira. ㅡVocê é linda e eu tô com um pouco de ciúmes de você. Só eu posso ser a tia favorita. – penso por um segundo e trago a Júlia para mais perto. ㅡ Tá bom, tem o seu tio Victor. Essa roupinha aí quem deu foi ele, vou deixá-lo ser o favorito também. Mas só ele. – falo tão baixo, minha boca se move minimamente. ㅡSegredo nosso.
Levo a Júlia e entrego pra o Thiago que me olha tão intensamente, não é novo mas provoca tantas sensações que sinto que posso explodir. Nada mudou mas tudo está diferente.
ㅡ O Manuel foi incrível. – escuto a voz da minha irmã, mas não deixo apreciar o a cena linda que é o Thiago ninando a Júlia. ㅡ Eu queria você comigo e achei que não conseguiria. – seguro sua mão.
ㅡ Eu estava com você Bia. – garanto.
ㅡ Eu sei. – ela sorriu. ㅡ Em cada momento, na hora da dor e no medo de morrer ou perde minha filha era como se eu escutasse você dizer....
ㅡ Que você consegue tudo que quer. – termino a sentença. ㅡ É verdade.
Paparicamos um pouco mais a Júlia, tiro mil fotos e conversamos baixinho para não acorda-la. Nos despedimos quando o horário termina, já estava anoitecendo quando saímos do hospital.
ㅡ Quer que eu deixe você na sua casa? – estávamos no carro.
ㅡ Não! – busco por uma música. ㅡ Quero dormir agarradinha com você hoje.
ㅡ Só hoje? – todos os dias penso, mas fico em silêncio.
Na sua casa mostro todas as fotos que tirei pra Maria que fica encantada, passamos um tempo conversando até o Airton ir para o trabalho. Tomo um banho e visto uma das mil peças de roupas que tenho aqui, Thiago tinha dado uma passada na casa do Pietro.
Procuro meu celular, queria ligar pra Pixie contar da Julia e enviar todas as fotos, droga eu e minha mania de deixa-lo em qualquer lugar. Reviro o lençol da cama, dou uma checada na escrivaninha mas paro, é melhor não mexer nesses documentos. Suspiro resignada, é bem provável que eu o tenha deixado na pia quando fui tomar banho.
ㅡ Um furacão passou por aqui. – Thiago entrou no quarto, olho em volta percebendo a bagunça.
ㅡ Viu meu celular? – ele deu um sorriso contido.
ㅡ Esse? – Thiago tirou o aparelho do bolso da calça, fico emburrada e isso o diverte.
ㅡ Deixei onde dessa vez? – vou até ele e pego o celular, depois eu ligo pra minha amiga.
ㅡ Na sala perto da TV. – é bem a minha cara fazer essas coisas.
ㅡ Obrigada!
Thiago fechou a porta e tirou a camiseta revelando aquele peitoral magnífico, me aproximo contornando os traços da pele quente. Seu coração bate mansinho ao contrário do meu que é pura loucura.
ㅡ Sabe o que eu mais amo em você? – seu queixo estava apoiado na minha cabeça e sua mão apertava levemente minha cintura.
ㅡ O que? – encosto a cabeça no seu peito e sinto a respiração pacata como a brisa do mar.
ㅡ Suas particularidades como por exemplo perder o celular em todos os lugares, ter mania de limpeza e ser tão bagunceira. – foco vermelha. ㅡ Ou quando você solta uma frase engraçada do nada.
Thiago deu um passo pra trás possibilitando com que eu pudesse ver seus olhos, novamente o mesmo lugar conhecido que transforma meu sentimentos em uma avalanche. Thiago é expressivo. ele não cala e não tem medo de se entregar. De colocar seu coração nas minhas mãos pois sabe que cuidarei com todo meu amor.
ㅡ Lembra quando falamos sobre futuro? – ele piscou confirmando. ㅡ Aí você falou que vivia o presente mas que isso não o impede de sonhar com um.
ㅡ E não impede. – olhar bonito que desperta uma timidez desconhecida. ㅡ Eu gosto de deixar você assim encabulada, o futuro é misterioso então nunca soube o que esperar dele e quando me apaixonei e passei a amar você ele ainda continuou assim, incerto.
ㅡ Não é mais? – desisto de controlar meus sentimentos.
ㅡ Ainda é. Mas posso dizer que quero um futuro com você e o que temos até agora não.....
ㅡ É o suficiente. – admito sem medo, natural como nós dois.
ㅡ Eu amo você Ana, quero tudo. O passado e o presente. Tudo. – sorrio. ㅡ Todos os sonhos, aquele infantil.
ㅡ Te amo. – o beijo. ㅡ Não quero me despedir de você, só namorar não quero mais. Quero você.....
Não é cedo, não é precipitado e nem imposto. São duas pessoas que se conheceram, se apaixonaram e que se amam, é a certeza. Um passinho ou melhor mais um capítulo, uma aventura na nossa história de amor.Olha só quem resolveu dar as caras, mais um capítulo pra vcs....
H.A é como sempre digo uma história do dia a dia, escrever pra mim é novo, recente, escrevia muito pouco quase nada e a história de Thiana despertou, aflorou esse meu lado.
Queria desabafar, usar as palavras como um ponto de paz. Não ando bem, estou em um momento delicado da vida e tem muito haver com meu íntimo do que com o que está por fora em si.
Poucas coisas me fazem bem, trabalhar. O que é irônico. Escrever e ter um tempo com minha metade, falar com ela rir do seu jeito maluco e inteligente é o que me faz bem que não me deixa surtar de vez.
Dar vida, sentindo aos personagens é o que me move que não me deixa cair.
Não gosto de me expor, mas sei que é preciso. Só queria dizer que H.A vai continuar e até o fim, que ainda estou escrevendo lentamente (oq eu odeio) mas estou. Gosto de ser honesta, pensei em desistir apagar cada palavra. Todo um trabalho, não fiz não vou fazer.
Escrevo pra todas vocês, mas principalmente pra mim. Cada palavra e ensinamento é pra mim tbm.
Talvez demore um pouco, ando com dificuldade pra escrever, as vezes dói e é como se uma voz pedisse pra parar. Já outras tenho um surto de criatividade e as palavras simplesmente saltam.
Peço um pouco de paciência comigo, com a história que não vai ser tão longa.
Vou contar algo que sempre me encanta, é como se o universo soubesse que preciso de ajuda, apoio. Sempre que tô mal meu celular apita, uma notificação aparece. É sempre uma mensagem ou comentário de vocês, das minhas amigas. Da minha metade (a garota não dorme, não descansa e vai a luta por seus sonhos e sempre. Sempre têm um tempo, ou melhor todo o tempo do mundo) um lembrente pra não desistir.
Acho que falei demais, espero que curtam o cap fiz com amor.
Fui......
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Histórias de amor
RomanceEncaro o olhar pidão de Alice e depois meus olhos vão até a janela aberta, era uma manhã pacata e a claridade do sol iluminava o interior da sala através dessa mesma janela. Me perco um pouco na sua pergunta, drama? Eu não sabia que tipo de drama el...