Existem inúmeros adjetivos que podem descrever quem sou nesse momento, uma filha ingrata e mal educada é só alguns deles. Tudo sempre começa com uma frase errada e com um olhar torto, então eu me sinto ameaçada e ataco para me defender. Mas acontece que não nunca foi preciso me defender, todo esse ciclo vicioso começou por minha conta ou melhor, por conta do que fizeram com minha cabeça e no final quem impôs a distância foi eu.
Agora parece tarde demais para voltar a ser o que éramos antes.
Bia saiu daqui feito um furacão e eu não podia culpa-la, não depois de ter magoado minha mãe com palavras tão pesadas, palavras essas que escutei por muito tempo. Meu subconsciente não duvidava do seu amor, mas meu coração sempre me prega peças mesmo depois de anos.
Diversas vezes meu pai disse que mamãe que destruiu nossa família, sempre afirmando que não estávamos mais juntos porque ela não queria ou que Bia não ia vê-lo junto comigo porque ela não permitia. Eu nem sabia contar quantas vezes meu pai olhou pra mim ou comentou com um conhecido a distinção que minha mãe fazia entre nós duas, que ela preferia a Bia.
Quando uma mentira é contada tantas vezes ela se torna uma falsa verdade.
Mesmo depois da discussão mamãe tentou falar comigo e se aproximar, e como sempre o que eu fiz? A repeli. Não que eu quisesse fazer isso, a verdade era que eu sentia falta do seu abraço e do seu afeto. Sentia falta de chegar com uma partitura pendurada na mão e chama-la para me ouvir tocar, só para vê-la revirar os olhos e dizer que os vizinhos reclamariam do barulho. Eu não tinha o que tanto ansiava e a culpa era única e exclusivamente minha.
Mal percebi a tarde passar ao limpar a casa no absoluto silêncio o que era uma novidade pois odiava fazer qualquer serviço doméstico sem música. Depois coloquei a roupa suja na máquina de lavar e fui assistir minha aula confortavelmente no meu quarto que precisava urgentemente de uma arrumada, mas nem ânimo eu tinha pra isso.
Vou para a sala no começo da noite e procuro entre os canais de tv algum filme que seja interessante, minha mãe ainda não havia chegado e no decorrer do tempo mal presto atenção no filme. O barulho da fechadura da porta chama minha atenção e ao virar a cabeça vejo minha irmã passar pela porta cambaleando, os cabelos estavam levemente bagunçados e eu podia apostar que era porque ela ficava passando a mão, Bia fazia muito esse movimento quando ficava nervosa.
ㅡ A mamãe ainda não chegou? – Bia forçou sua voz sair normal e depois jogou sua jaqueta em um dos sofás.
ㅡ Não. – é a única palavra que me limito a disser fazendo com que Bia suspirasse e levantasse do sofá que mal tinha sentado. ㅡ Deveria ir tomar um banho Beatriz. – era óbvio que ela se encontrava bêbada. ㅡ Onde estava?
ㅡ Preocupada comigo maninha? – costumávamos nos referir assim quando éramos pequenas. ㅡ Estava me divertindo, não que isso seja da sua conta.
Respiro fundo encarando o controle em minha mão, tudo bem que eu merecia depois do que falei hoje cedo. Cada sílaba que ela pronunciou estava recheada de amargura, nunca a vi assim e essa atitude não era do seu feitio.
ㅡ Eu estou preocupada com você. – minha frase a desarmou um pouco e quando procurei fitar seu rosto a vi engolir em seco e desviar os olhos desfocados por conta da bebida que ela consumiu.
Por alguns milésimos de segundos Bia se perdeu em seus próprios pensamentos e ao contrário de mim que sempre fui capaz de camuflar minhas emoções, ela era transparente em relação às suas e demonstrava querer compartilhar o que a assustava, mas quando Bia fechou os olhos buscando se acalmar, soube na hora que o que quer que fosse, ela não compartilharia comigo.
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Histórias de amor
RomansaEncaro o olhar pidão de Alice e depois meus olhos vão até a janela aberta, era uma manhã pacata e a claridade do sol iluminava o interior da sala através dessa mesma janela. Me perco um pouco na sua pergunta, drama? Eu não sabia que tipo de drama el...