Não mais o mesmo

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O sábado amanheceu como sempre nublado e me dei ao luxo de dormir ou pouco mais, isso significa que eu apaguei de tanto cansaço. Levanto escutando uma melodia antiga soar baixinho pela casa, procuro saber as horas e caço uma camiseta indo pra cozinha já que estou morrendo de fome.

Era de lá que vinha a música, papai adorava os discos de vinil e a canção na voz do Tom Jobim embalava o simples momento dos dois, mamãe lavava a louça enquanto papai secava.

ㅡ Bom dia. – interrompo o momento de descontração dos dois.

ㅡ Oi filho. – mamãe nem se virou ao para falar comigo. ㅡ O café tá na mesa.

Puxo uma das cadeiras e sento, mamãe gostava que fizéssemos as refeições na mesa e todos juntos sempre que fosse possível já que meu pai trabalhava de madrugada. Espero os dois terminar a tarefa.

ㅡ Seu pai não tem plantão hoje. – ela colocou as xícaras sobre a mesa antes de se acomodar. ㅡ Que tal jantar fora? Faz tempo que não saímos os três juntos.

ㅡ Pizzaria ou rodízio? Talvez até sushi. – papai falou enquanto mastigava.

ㅡ Vou ter que furar. – mamãe me olhou feio. ㅡ Vou sair com a Ana.

ㅡ Ana é a garota que fez você passar do seu ponto? – sua careta era impagável, talvez eu devesse até tirar uma foto e mandar emoldurar. ㅡ Conta logo!

ㅡ Maria! – papai veio ao meu socorro. ㅡ Deixa o garoto.

ㅡ Maria nada. – ela o repreendeu. ㅡ Eu lá coloquei filho no mundo pra contar as novidades pela metade? – ela tinha aquele olhar mandão enquanto bebericava seu café.

Papai desistiu de tentar falar alguma coisa e eu tentava ao máximo não rir da curiosidade da minha mãe, do jeito que ela era é bem capaz de jogar o pano ou até o prato na minha cabeça. Conto com riqueza de detalhes e ela vai deixando um comentário aqui e ali.

ㅡ Uma garota especial. – papai deixou sua opinião a mostra. ㅡ Estão namorando?
 
ㅡ Não pai. – escuto minha mãe bufar inconformada do outro lado da mesa. ㅡ Só estamos deixando rolar.

Não foi uma decisão que colocamos em palavras, só queremos estar um com o outro e vivenciar mais desse sentimento que surgiu tão naturalmente.

ㅡ Falou com a Bia? – mamãe trouxe o assunto a mesa. ㅡNão vi mais ela depois daquele dia.

ㅡ Também não vi mais ela mãe. – corto a fatia do pão. ㅡ Acho que ela vai ficar bem.

Era questão de tempo para tudo se assentar na cabeça da garota, ela já havia dividido seus tremores e preocupação e agora só precisava sentir segura e Ana lhe proporcionou isso, o que me trouxe felicidade e um orgulho inexplicável. Eu sabia o quanto essa aproximação foi difícil especialmente para ela.

Depois do café as horas passaram e nesse meio período adiantei umas pendências do estágio e aproveitei para passar um tempo com meu pai e lá pelo começo da noite me arrumo. Achei que estaria nervoso, mas a calmaria me acompanhou em todo o trajeto e como eu estava uns minutos adiantado a espero em frente ao restaurante.

Quando a vejo caminhando entre as pessoas na calçada do outro lado da avenida, tudo a sua volta começou a se mover lentamente, principalmente meu coração. Ela parou na faixa á espera do sinal ficar verde para os pedestres completamente alheia ao fato de eu estar aqui do outro lado hipnotizado, sua roupa ressaltava cada curva do seu corpo e o cabelo volumoso balançava junto com a brisa trazida pela noite.
 
O sinal ficou verde fazendo com que Ana redobrasse a atenção na hora de atravessar a rua, foi nesse mesmo momento que seus olhos captaram minha presença e o sorriso somado ao rubor tomou conta do seu rosto, ela parou na minha frente com o seu habitual silêncio envergonhado que me permitia visualizar a enxurradas de emoções preencher cada parte do seu corpo.

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