Capítulo 10 - Meu Primeiro Amor

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"Ela passou do meu lado, oi amor eu lhe falei"... Espera, a música é boa mas não foi nada assim, quem dera! Parece que até posso ver a cena, eu lá, com um abrigo Adidas azul marinho com listras, All Star surrado no pé e cabelos curtos Chanel completando minha cara de tapada no auge dos meus onze anos.

Era primeiro dia de aula, sentei na terceira carteira da fila colada na janela, e eu tava sozinha na sala, distraidona olhando pela janela com um dedo no nariz, quando ela apareceu naquela porta.

Um conselho eu vou dar a vocês, e, levem para toda a vida: Se você for pego com o dedo no nariz não tire! Porque você vai tirar e passar na roupa! É inevitável! Então faça uma porquice só e continue com o dedo no nariz!

Então, depois que eu tirei o dedo do nariz e limpei na roupa, ela sorriu e entrou, com a sua mochila modelo carteiro do Mickey ultima moda. No início ela sentou bem no meio da sala, e de vez em quando a gente se olhava, até que começamos a rir, e ela veio sentar na minha frente.

--Oi –Eu disse –Sou Pepê.

--Oi –Sou linda! – Fiquei meio sem saber o que responder para a convencida!

--Tá, é sim. – Ela riu.

-- Não, meu nome é Linda! – Ah tá! Pensei.

--Ah tá! –Eu disse. Foi assim que a gente começou uma grande amizade. Baguncinhas na sala de aula, enriquecemos companhias telefônicas com horas intermináveis de bate papos. Conversas sobre meninos, aqueles interesses bobinhos, conversas de qual garoto é mais lindo. Enfim, tínhamos outras amigas, que também estavam sempre conosco, mas éramos melhores amigas declaradas.

Não foi de repente que tudo mudou, mas essas mudanças tiveram um marco. O nome dele era Marco.

Era dezembro. Estávamos já com doze anos, quando ela foi viajar de férias com a mãe. Foram a uma fazenda na Inglaterra e ela não podia fazer ligações internacionais, pois a casa era de parentes. Eu sofri tanto, passei tantas horas pensando nela, sentindo sua falta, que não via a hora das aulas começarem de uma vez.

Na noite antes do primeiro dia de aula eu nem consegui dormir, e, às seis da manhã eu já estava na frente da escola. O tempo não parecia passar, e ao mesmo tempo estava passando da hora e ela não aparecia.

Senti uma dor no peito, como se algo me faltasse e quando o sinal tocou eu mal podia respirar. Fiquei na frente da escola, com esperança que ela aparecesse, foi a primeira vez em minha vida que matei aula. Cinco períodos com os olhos marejados, esperando, e ela não apareceu. Cheguei da escola e liguei pra casa dela, como havia feito alguns dias antes, mas ninguém atendia.

Vinte e oito dias. A minha decepção era visível, meu pai havia até conversado comigo, para saber por que eu estava tão abatida. Achei que nunca mais a veria, mas no vigésimo oitavo dia de aula, naquela manhã ensolarada ela apareceu.

Estava no início da aula de matemática, quando aquela garota linda como o sol entrou correndo na sala de aula, veio correndo até mim e me abraçou. Com a voz embargada sussurrou ao meu ouvido:

--Eu morri mil vezes de saudade! – Com os olhos marejados respondi:

--Eu também! – depois ela teve de sair da sala porque estava em outra turma este ano, e a professora a expulsou, mas eu posso jurar, que vivi oito vidas e um terço esperando chegar a hora do recreio! Algo nascia em mim. Uma ansiedade, uma força descontrolada, e um nervoso bobo quando pensava na hora que ia vê-la.

No recreio, esquecemos que haviam outras amigas, outros colegas. Todos eles estavam ali conosco, mas ela falava diretamente para mim, e eu, não ouvia absolutamente nada! Havia algo diferente, na sua boca, nos seus olhos, que faziam eu me sentir tímida, envergonhada, nervosa, e não conseguir tirar os olhos dela.

Ataque das Ex Namoradas Zumbí (não ficção)Onde histórias criam vida. Descubra agora