Capítulo 11 - O Beijo do vampiro

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Depois daquela noite, as coisas já não eram as mesmas entre a gente. Silêncios e olhares surgiam toda vez que estávamos a sós. Já não falávamos de garotos, e as noites em que dormíamos juntas eram longas, quentes e torturantes, ao menos pra mim.

Meses se passaram. Naquela semana em particular estávamos empolgadas planejando os últimos detalhes da minha festa de treze anos. A festa de treze anos dela havia acontecido três meses antes, num salão de bailes de um clube chiquérrimo, cheia de gente velha, com música chata e comida fina e sem graça, como a mãe dela planejou.

Meu pai perguntou o que eu queria na minha festa de aniversário, e permitiu que planejássemos uma festa à fantasia na garagem de casa que era bem grande, com músicas da época, pizza, cachorro quente, sorvete e outras besteiras. Apenas proibiu bebida, mas óbvio que sempre tinha alguma coisa clandestina, como as várias latas de cerveja que estavam camufladas no freezer da garagem embaixo dos refrigerantes, e algumas garrafas de Bacardi, vinho e outras bebidas do tipo que estavam dentro do armário de ferramentas!

Convidamos somente a galera da escola, que certamente trariam outras pessoas, mas todos mais ou menos da nossa idade. Meu pai resolveu que ia viajar pra serra pra não interferir na bagunça, me deixaria sob supervisão apenas das duas empregadas. Ele era muito bacana e entendia que eu estava crescendo e precisava de espaço.

Minha fantasia era de pirata. Chapéu de Capitã, espada na cintura, e até mesmo tapa olho. A linda não quis me dizer qual era sua fantasia, dizendo que ia me fazer surpresa.

A festa havia começado. O Vinny cantava "Meche a cadeira" nas caixas de som, e o pessoal dançava animado. Outros bebiam conversando no gramado.

Eu, com uma amiga da escola chamada Denise e outras pessoas que conversavam em minha volta animados, sentia que tudo estava completamente errado. Ela não estava ali. Linda havia desaparecido.

Depois de mais de uma hora de festa, que pra mim não era mais festa, resolvi ligar pra ela. Fui até o gramado e puxei meu primeiro celular, que havia acabado de ganhar. O primeiro com câmera do mercado, a Linda também havia acabado de ganhar um desses, só que o dela estava desligado.

Liguei pra casa dela. Uma empregada atendeu, e disse que seus pais estavam viajando, que ela saiu com a prima no início da tarde e não disse onde iam.

Saiu com a prima. "SAIU COM A PRIMA?" Dispensou minha festa pra sair com a prima?! Eu estava indignada! Ela era minha melhor amiga! Pra mim até mais que isso! Me dispensou por causa daquela sonsa da prima dela que era mais velha que a gente três anos!

Foi nesse momento que a Denise veio me chamar e me puxou pela mão, correndo pra dentro da garagem. A cena era que todos riam enquanto os garotos dançavam na boquinha da garrafa. Nisto alguém já me alcançava um copo de bebida. "O que é?" perguntei olhando o copo em minha mão. "FODA-SE!" Respondeu a pessoa sorrindo, gritando pra ser ouvido acima do som e virando um gole de seu próprio copo. Era isso mesmo! "Foda-se" o que era! Virei em um gole e aquilo desceu rasgando. Era só o primeiro copo, de muitos que eu nem conseguiria contar, pois bêbados contam muito mal!

Eu dançava. As luzes coloridas piscavam. E tudo girava em torno de ódio, raiva, mágoa, tequila, vodca, cerveja e vinho. Foi quando a Denise apareceu na minha frente, cochichando em meu ouvido. Depois de vários "Hã" da minha parte ela gritou:

-- EU DISSE, QUE O MARCO, PEDIU PRA FICAR COM VOCÊ! -- O Marco? Ideias malvadas surgiram em minha mente! O Marco era primo da Linda, sempre foi louco por mim, e eles simplesmente se odiavam, de nem se falar.

-- ONDE ELE TÁ? – Perguntei, e ela me apontou um Conde Drácula muito fajuto. Tudo aconteceu muito rápido. Eu caminhei até ele, segurei-o pelos colarinhos e o beijei. Beijo, beijo mesmo, de língua e exagero completo, no meio da festa toda! Meu primeiro beijo. O beijo do vampiro! Um horror! Minutos depois Denise segurava minha cabeça, enquanto eu vomitava no gramado!

Acordei sem saber onde estava, meu corpo doía, minha cabeça doía. Acho que até meu cabelo doía. Depois de dois Engov, uma canja de galinha e um copo de Coca que a empregada me fez tomar, decidi que eu ia na casa da Linda, despejar toda minha raiva na cara dela! Ela ia ouvir umas coisas!

Peguei minha Tchau (uma mobilete estranha que era moda na minha adolescência) e rumei pra casa dela. Toquei a campainha mais de dez vezes, e já estava pensando em ir embora quando a porta se abriu.

Pelo jeito a noite dela tinha sido boa, pois eram três da tarde e ela abriu a porta com uma máscara de cobrir os olhos pra dormir e as mãos espalmadas pra frente perguntando:

-- Quem taí? – Me exaltei:

-- QUEM TAÍ? PELO JEITO SUA NOITE FOI MUITO BOA! ACHEI QUE VOCÊ PODIA ATÉ TER UMA DESCULPA, MAS TO VENDO QUE ME ENGANEI! EU VOU EMBORA! – Ela avançou na minha direção com as mãos espalmadas me procurando e segurou meus braços.

-- Espera! Deixa eu explicar! – Eu estava indignada!

-- VOCÊ PODE AO MENOS TIRAR ISSO DA CARA PRA FALAR COMIGO? – Ela olhou pros lados como se pudesse enxergar de olhos vendados.

-- Não tem nenhuma empregada por perto?

-- Não. – Ela me puxou pelo braço que segurava nos sentando no sofá e, ainda vendada respondeu:

-- Eu queria fazer uma surpresa pra sua festa. Comprei uma fantasia de Madonna, mas na hora que minha prima me colocou os cílios postiços... – Então ela retirou a máscara.

-- Meu Deus! O que foi isso!? – Os olhos dela estavam totalmente inchados e colados, e parecia que a pele em volta deles estava descascada e muito vermelha e estava tão inchado que ela não podia ver.

-- Eu tive alergia à cola dos cílios postiços. Minha prima me levou pro hospital da periferia. Ela tem um ficante enfermeiro lá, e se eu fosse em qualquer outro lugar eles iam chamar meus pais, e você sabe como eles são. Me desculpa! Queria te ligar do hospital, mas meu celular tá sem bateria e não sei onde foi parar, também acabei decidindo não estragar sua festa. Não queria te preocupar. – Uma culpa tremenda me tomou. Ela nunca ia me perdoar quando soubesse o que eu fiz! Mas eu tinha que contar, ou ela saberia por outra pessoa, e então eu não poderia nem me explicar. Comecei a gaguejar:

-- Nã-n-não eu ente-tendo, não tem que s-se descul-p-par. Ac-conteceu uma cois-sa ontem – sussurrei – Eu f-fiquei com o Marco.

-- O que? Não entendi. – Aumentei a voz, mas mesmo assim eu já estava de cabeça baixa.

-- Com o Marco. Fiquei com o Marco! – Ela empalideceu e franziu o lábio fazendo boca de choro, apesar de seus olhos estarem incapazes de chorar. Soltou minhas mãos que segurava e ficou de pé.

-- Penélope, sai da minha frente! – Ela estava realmente alterada. Eu sabia, desde o momento em que estava bêbada, que ela ia ficar muito puta quando soubesse!

-- Olha, eu não sabia que você ia ficar tão puta quando soubesse! – As vezes quando estou nervosa eu minto ué! – Sei que você detesta o Marco mas... – Ela me interrompeu mais alterada ainda, e mesmo com os olhos daquele estado lágrimas começaram a correr.

-- O MARCO?! FODA-SE O MARCO! VOCÊ NÃO ENTENDE NÃO É?! OLHA, EU TÔ FELIZ DE MEUS OLHOS ESTAREM ASSIM, PORQUE EU NÃO QUERIA ESTAR VENDO SUA CARA AGORA! POR FAVOR, SAI DA MINHA FRENTE AGORA, NÃO ME PROCURA MAIS, SÓ ISSO QUE EU QUERO! – Fiquei olhando pra ela, não sabia o que fazer, as lágrimas banhavam meu rosto, mas ela não podia ver. Endureci a voz pra que ela não percebesse o quanto eu estava chorando.

-- Ok, se é assim que você quer! – saí pela porta em prantos.

Eu não sabia, mas no momento em que eu saí por aquela porta uma guerra estava prestes a se formar!

Ao chegar em casa meu pai me esperava no sofá da sala.

-- Então filha como foi a festa? – Ele disse sorrindo.

-- Eu quero morrer! – Eu disse chorando, enquanto me jogava nos braços dele, onde passei boa parte da tarde, sem precisar explicar nada, aos prantos.

Dramático né? Mas o próximo capítulo não termina de forma tão triste! Segue com a história!

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