Capítulo 26_Quarteto fantástico

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Desde a Carla, uns meses passaram sem que eu namorasse ninguém. Eu era feliz, saía com algumas garotas, ficava, tinha alguns rolos, mas simplesmente não procurava nada sério. Dani e eu formávamos uma boa dupla. Ela havia começado a namorar o Eusébis, que chamávamos de Zé, e ele era um cara bacana, nos dávamos bem.

Mais ou menos um mês depois que Dani e Zé começaram a namorar eu conheci Laura. Nós fomos os três para o cinema Para o lançamento de "Quem quer ser um milionário". Antes do filme começar Dani e Zé trocavam beijos melosos coxichando. O cinema estava lotado. Eu soltei um suspiro aborrecido. Alguém ao meu lado fez o mesmo som imitando-me. Olhei para o lado e havia uma garota muito ruiva, me olhava sorrindo e demonstrando que estava na mesma situação pois, aparentemente suas amigas sentadas ao seu lado, tratavam-se da mesma forma que Dani e Zé.

--Também de vela? – Ela sorriu.

--Exatamente. Sou Laura e você?

--Pepê. - Deu-me dois beijinhos no rosto. – E aqueles ali melosos são a Dani e o Zé.

--Aquelas dentro da boca uma da outra são a Su e a Didi. – A luz se apagou, o filme ia começar. Cochixei para ela.

--A propósito, estou com esses héteros mas também sou gay! – Falei sorrindo.

--Ah é? Eu estou com essas gays mas também sou hétero! – Respondeu rindo e eu perdi a graça.

--Mesmo?

--Claro que não! – Ela riu. – Mas precisava ver sua cara!

Até o fim do filme já estávamos de mãos dadas, até o fim daquela noite já estávamos aos beijos, até o fim da semana já estávamos transando e antes do fim do mês já éramos namoradas.

Era um dia de semana sagrado. Quarta feira. Era dia de futebol e nosso time estava com tudo! Cheguei em casa e fui direto pro banho. Tinha passado a manhã na faculdade e o resto do dia pilotando uma moto trabalhando como motoboy. Depois do banho eu discutia com Zé. Tentávamos determinar onde pendurei a meia da sorte no jogo passado, pois segundo nossa superstição devia estar exatamente no mesmo lugar. Ele dizia que estava no lado direito da TV e eu dizia que era no lado esquerdo quando Dani chegou carregando cerveja e duas caixas de foguetes.

--Era no lado esquerdo! – Ela determinou! – Vou pro banho. Disse dando um selinho no Zé e um beijo na minha cabeça. Ele jogou uma almofada em mim.

--Ela sempre concorda com você! – Joguei de volta.

--Cala a boca chorão! Pega mais cerveja pra gente.

O fato é que nos dávamos muito bem. Eu namorava Laura a mais de um ano, fazia quase o mesmo tempo que Dani namorava o Zé.

A Laura era perfeita. Eu conhecia a mãe dela, sua melhor amiga, seu cachorro, e Dani a aprovava totalmente. Ela era médica residente em um Hospital da cidade e seus horários eram diferentes dos meus. Ela saía do trabalho duas horas da manhã, e não tinha folga nos fins de semana, mas almoçávamos juntas quase todos os dias e folgávamos juntas toda segunda feira.

Éramos dois casais que se davam muito bem e costumávamos nos chamar de quarteto fantástico.

--Ai lindo esse negócio fede! – Dizia a Dani para o Zé que vestia uma máscara de gorila.

--Linda eu tô com essa máscara desde 2006 e o meu time só ganha! Não vou lavar!

--Ai que nojo! Isso tá podre! – Eu disse rindo.

--Com certeza! Nem chega perto de mim não! – Dani reclamou.

--Vocês lavaram suas camisetas?! Isso é uma desonra! – Zé reclamava indignado. – Se o Inter perder a culpa é toda de vocês! – Nisso a campainha tocou e Dani levantou atender.

--Surpresa boa! – Ela disse beijando a bochecha de Laura que se jogou no sofá comigo me beijando e cheirando meu pescoço.

--Oi amor, que aconteceu? – Perguntei. Zé quem respondeu.

--Ela matou todos os pacientes pra tirar a noite de folga! Médica psicopata! – Laura encheu ele de tapas. – Aai não agride não que ainda não esqueci que você tentou tirar meu rim!

--Tirar seu rim?! Você consegue colocar um espeto atravessado nas costas e diz que eu tentei tirar seu rim?! Não devia ter te costurado seu... Seu... Fedido! Eca! Você tá fedido! – Ele colocou uns espetos no banco de trás do carro, depois ficou bêbado e se jogou por cima com a Dani no colo e atravessou o espeto na carne das costas. Como estávamos em um sítio Laura improvisou, deu pontos sem anestesia e fazia um ano que ele reclamava. Ela deu uma cheirada pro lado dele fazendo cara feia. – Nossa Dani! Lava esse cara com desinfetante! – Virou-se para mim. – Amor, troquei umas horas hoje e vim te buscar pra sair comer alguma coisa. Depois a gente pode ir lá pra casa. O que acha? – Nos olhamos eu Dani e Zé naquele mesmo momento. E falamos ao mesmo tempo.

--Negativo! – E começamos a rir. Ela não entendeu.

--Ué porque gente? O que foi isso?! – Expliquei.

--Amor hoje é dia importante de futebol! E em partida importante nossa regra é que ninguém pode levantar durante o jogo, pra nada, e se alguém tenta a gente diz em coro "negativo" entendeu? É a primeira partida da final da Libertadores hoje! Fica e torce pro Inter com a gente! – Ela respondeu muito calma e naturalmente como se dissesse as horas.

--Não, sou Gremista. – E o que eu ouvi foi aquelas vozes graves em câmera lenta como se ela dissesse "Sooooooouuuugreeeeeemiiiiissssstaaaa"! Dani levantou e levou as duas mãos na cabeça derrubando sua cerveja. O Zé caiu do sofá no chão levando a mesa de centro onde tentou se segurar, e eu me afoguei com minha cerveja e tossia roxa sem conseguir respirar.

--INFILTRADA! Uma infiltrada! Como não sabíamos disso?! – O Zé reclamava. Eu tentava recuperar o fôlego. Dani ajoelhou perto dela.

--Ruiva! Diz pra gente que você tá brincando! – Laura soltou uma espécie de suspiro de raiva e começou a mexer na bolsa. Voltei a beber minha cerveja.

--Espera... Habilitação... Não...Não... Aqui! – E pra nosso espanto ela puxou aquele retângulo azul com uma foto dela com uns dez anos.

--DE CARTEIRINHA?! GREMISTA DE CARTEIRINHA?! – Zé gritava pálido. Afoguei com a cerveja outra vez.

--Eu sabia! Sabia! Ela era muito perfeita! Onde tem Pepê tem que ter problema! – Dani dizia como se o apocalipse tivesse chegado. E eu muda!

--Gente! Mas não tô vendo onde tá o problema de eu ser Gremista!

--Não fala! Chega dessa palavra por hoje que o jogo ta quase começando! Explica pra sua mulher Pepê! – Zé dizia.

--Olha amor! Gremis... - Zé me interrompeu fazendo sinal pra não dizer. – Torcedores do seu time são sugadores de energia! Secadores! Porque são nossos maiores rivais! Nossos arquiinimigos! Ver jogo com um grem... com alguém do seu time é como você torcer pro Super Homem com o Lex Luttor sentado na sua sala! – Ela estava pasma!

--Gente eu sou boazinha! Sou amiga de vocês! Só quero ficar aqui com a minha namorada! Prometo que não vou torcer pro outro time! – Nós três nos olhamos. – Qual é! Vão me expulsar?! – Dani passou a mão no rosto e fechou os olhos suspirando.

--Ok! Mas vai no banheiro agora, e não faz nada durante o jogo que distraia a torcida. Você aceita as regras?

--Tá, tá legal! Vocês são malucos!

O jogo começou. Nos primeiros quatro minutos kleber meteu um chutaço no canto e a bola bateu na trave! Já olhamos torto pra ela, coisa que aconteceria várias vezes na partida. E, quando quase no fim do primeiro tempo o Chivas marcou contra nosso time, ela levantou e deu pulinhos pra comemorar! Se arrependeu mas já era tarde! Expulsamos ela de casa no mesmo instante. Ela me roubou um beijo e saiu rindo. Sem ela secando nosso time conseguiu virar no segundo tempo ganhando de dois a um. Sorte dela senão a coisa ia ficar feia!

A final da Libertadores era No Beira Rio em Porto Alegre e os ingressos para o próximo jogo esgotaram antes mesmo de que pensássemos em comprar, porque mesmo que pensássemos não tínhamos grana. E isso, foi o início da guerra que deu fim ao quarteto fantástico! Leia no próximo capítulo.


NOTA:

Aiai, tava tudo tão bem! Onde tem Pepê tem problema!

Ataque das Ex Namoradas Zumbí (não ficção)Onde histórias criam vida. Descubra agora