Capítulo 4-- Claudinha Picolé

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--Me explica! Quem rouba um carro estragado? Quem? -- O Rui respondia, mas a pergunta era mais para o universo que pra ele.

--Calma Pepê, devem ter guinchado. -- Mostrei o óbvio para ele:

--Cara, olha as marcas no gramado! Não é marca de guincho, é marca de carro. Menor que o meu até! -- Ele analisou as marcas:

--Você tem razão. E agora? Quer ligar pra polícia?

--Não cara, do jeito que está minha sorte hoje vou acabar presa. Também estou atrasada e parei em cima do canteiro em lugar totalmente proibido, vou ter que responder um monte de pergunta. Deixa pra amanhã. Me deixa em um ponto de taxi? -- Pelo que estava vendo hoje meu salário ia todo em táxi! O do mês que vem claro, pois o deste mês já era!

--Deixa disso Pê, você é quase minha irmã. Eu te levo. Você tá indo pra onde?

--Vila Cecília.

--É... Você é da família e talz, mas não pra roubarem minha caminhonete que ainda tô pagando! Te deixo num ponto de táxi no Espinhedo, mais que lá não passo!

Nesta hora fiquei com medo, pra onde será que eu estava indo? Já havia ouvido falar na má fama da Vila Cecília, mas não pensei que fosse tanto.

Aceitei a carona do Rui, e em alguns minutos eu já estava entrando em um táxi no bairro Espinhedo. Quando eu disse Vila Cecília ao taxista ele me mediu de cima abaixo, mas seguiu com o carro. Em alguns minutos parou no pé de um morro e disse:

--Pronto moça! Daqui não passa, só subindo a pé.

Mais esta agora, ele me deixou na rua certa, mas o estúdio era lá em cima, haja fôlego pra subir tudo aquilo, pensei até em desistir na metade do caminho, mas cheguei, e então entendi porque um estúdio tão longe. A vista era incrível!

O casal de modelos já estava lá, putos da vida de me esperar, e rapidamente fizemos as fotos dos dois, aparecendo toda a cidade atrás, para uma marca de óculos de sol, fizemos também algumas fotos de óculos de grau.

Este ensaio foi bom, pois além de conhecer uma vista incrível da cidade, ainda ganhei dois óculos de sol, e um de grau. Era de descanso sem grau, apenas antirreflexo, e adorei, tanto que já saí com ele.

Desci o morro e parei em um boteco para matar a sede, mas infelizmente só tinha pinga, cerveja e picolé, então escolhi um de uva e parei no ponto que o dono do bar me indicou para pegar uma van pois ponto de táxi não tinha nem perto nem longe. Notaram que apesar da minha aparência lamentável e do dia terrível que eu tive parece que pararam de me acontecer desgraças? Só parece!

Estava eu de boa no ponto de ônibus, quando vejo uma baixinha me olhando do outro lado da rua e conversando com umas sete mulheres enormes que chegavam a abaixar para ouvir o que ela dizia. A baixinha era linda, pele bronzeada corpo lindo, um rosto todo perfeitinho, parecia uma mulher de bolso, uma boneca.

Ela atravessou a rua e veio na minha direção seguida das grandonas, que deviam jogar em algum time de basquete, e vinha fazendo cara feia. Até que ela chegasse em mim só tive tempo de pensar: Fudeu! A baixinha parou com as grandonas atrás dela, pôs uma mão na cintura e apontou o dedo na minha cara. Quer dizer, o mais perto da minha cara que ela conseguiu:

--Escuta só garota, como você tem coragem de ficar de cachorrada com minha irmã, não sabe quem eu sou não? -- Não, não sabia.

--Olha você deve estar me confundindo com alguém, eu nem conheço sua irmã.

-- Ah não, e não convidou ela pra sair ainda há pouco?-- Tentei raciocinar. Será que aquela baixinha era irmã da morenaça que conheci no estúdio? Como ela me encontrou ali?

--Olha se você é irmã da Laila, eu só convidei ela pra um jantar e eu nem pensei em...-- Ela me interrompeu revoltada:

--Mas é muito cretina, além de tudo tá enganando várias! Te disse aquele dia por telefone pra ficar longe da minha irmã! --Ufa! Era só um mal entendido, mas ela continuou -- Agora você vai aprender a não mexer com menininhas que tem metade da sua idade!

--Moça tá havendo um mal entendido, eu nem conheço sua irmã e nunca ficaria com uma menina com metade da minha idade, eu só vim aqui no...-- Ela me interrompeu novamente:

--Ah tá, vai me dizer agora que não é a sapatão-- neste momento olhou os meus pés-- que chifrou minha irmã, a que fica sempre no bar do Viola-- Apontou o boteco de onde eu havia acabado de sair-- a tal da Claudinha picolé?-- E apontou para a minha mão onde derretia meu picolé de uva.

--Não sou mesmo moça, sou a Pepê, eu sou...-- Ela me interrompeu novamente:

--Para a palhaçada, que você vai apanhar e muito agora! -- Ela me empurrou. Olhei para aquelas sete gigantas e pensei em usar o ultimo truque da minha manga pra não virar um saco de ossos quebrados.

-- Vocês vão mesmo bater em alguém de óculos?—Óculos que não tinha grau nenhum, mas elas não precisavam saber não é? Tá, o plano era fraco, mas era o único no momento. Eu havia perguntado para as gigantas, mas quem respondeu foi a baixinha:

--Não, elas não vão fazer nada. Não tem covarde aqui. Quem vai te bater sou só eu. E quanto ao óculos, eu não tenho preconceito!

Olhei para aquela miniatura de mulher e tentei não rir, mas foi inevitável. Foi só dar o primeiro sorriso e tomei um soco no estômago que me fez sentir ele diminuir um quarto do tamanho.

Com o soco no estômago me curvei pra frente e já levei uma joelhada no meio da cara, e na sequencia, sei lá como ela alcançou, mas a baixinha me deu um chute na cabeça e mais duas joelhadas na costela. Então eu caí. Ela me segurou pela gola da camisa, me levantou e me deu mais uns três socos na cara depois me largou no chão e me deu mais uns dois chutes na barriga e um nas costas, então eu já estava tonta e não vi mais nada.

Sei que devem estar pensando: "Nossa, mas ela é a mocinha desta história, agora ela vai levantar e dizer: --Ei baixinha, Agora o pau vai comer!-- Afinal a mocinha da história sempre vence a briga!" Mas não, sou tão azarada que mesmo a história sendo minha tomei o maior pau no lugar da Claudinha picolé, que está por aí bem bela comendo irmãzinhas menores dos outros, e tomei a surra de uma mulherzinha que podia vir de brinde na caixa do cereal. Ela parecia um diabinho da Tasmâsnia me batendo.

Ok, agora concordam que meu dia tá terrível né? Pois acreditem, apesar de estar toda machucada cheia de sangue e mercúrio, com um óculos quebrado na cara, lavando o sangue que saiu do meu nariz na pia do banheiro imundo do bar do viola, depois de ter meu carro roubado, meu dia ainda vai piorar muito, e tá longe de acabar! Toca para o próximo capítulo.

Ataque das Ex Namoradas Zumbí (não ficção)Onde histórias criam vida. Descubra agora