Capítulo 17 _Kátia, a estranha!

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Quando fugimos da Clau ficamos três meses no Recife. Foi bacana, apesar de essa mudança de rotina estar me aborrecendo. Não sei como explicar, mas adolescência é isso mesmo. Você odeia o meio onde vive, mas deus o livre alguém tentar tirá-lo dele, e esta era a segunda vez que eu acabava ficando longe de casa, do meu pai e dos amigos, e decidi que estava na hora de voltar pra casa.

A Denise ia ficar, pois ela conheceu um gatinho recifense e não pretendia deixar o Recife tão cedo.

Estou eu Na rodoviária de Recife, entediada esperando meu ônibus, quando ouvi "rock and roll lullaby" do B.J Thomas sendo tocado em um violão perto de mim. Amo esta música, e procurei automático de onde vinha. Não pude deixar de sorrir encantada pra garota de cabelos vermelhos que tocava com uma expressão tão doce.

Devia ter me tocado depois quando ela tocou "Diva Satânica do Arch Enemy" que nem tudo estava normal.

Assim que ela terminou a segunda música e acendeu um cigarro, eu me aproximei. Fiquei um tempo muda olhando pra ela, até ela sorrir e dizer:

--Fala alguma coisa garota! – Confesso que aquela garota exerceu um fascínio sobre mim. Algo que me deixava meio... Babaca.

--Eu gostei muito.

--Do que?

--Da...Música.

--Sério? Não tem muita gente que gosta dessa música. – Hoje sei que ela estava falando de uma musica e eu de outra, mas ela sorriu pra mim e eu sorri pra ela. A conversa não fluía muito bem entre a gente, mas estávamos nos entendendo. Também sei lá o que eu estava ou não entendendo! Eu não tirava meus olhos dos lábios cobertos de batom preto dela!

Entramos no ônibus, e meu lugar era no fundo, no corredor, ao lado de um velho gordo. Quando conferi a passagem e guardei a mochila, ela perguntou:

--Você senta aqui?

--É. É aqui. – Ela olhou com uma cara sinistra pro homem.

--Vaza velho gordo! – Ela fez tipo um rosnado pro cara. Ele levantou assustado mesmo, e por incrível que pareça, eu achei aquilo bonitinho!

Ela dividiu fones de ouvido comigo, e depois de um tempo, simplesmente me puxou pra deitar com a cabeça apoiada em seu peito. E eu? Eu era uma adolescente! Eu amei! Olhei pra ela, e trocamos um beijo, só um, ela interrompeu o beijo aos poucos, beijou minha testa, fechou os olhos e dormiu.

Fiquei com a cabeça apoiada em seu peito, sentindo o cheiro da sua jaqueta de couro, misturado com cigarro, perfume, cerveja, tequila e metal, e era bom! Até hoje, quando penso coisas estranhas que a gente só pensa, mas não comenta com ninguém, eu penso que aquele cheiro, era o cheiro do rock!

No fim da viagem ela pediu meu telefone. Uma semana depois ela me ligou.

--Alô?

--Oi, é a kátia.

--Eu não conheço nenhuma...

--A mina do ônibus caralho!

--Ka... Katia? Você... Oi... Vo...

--Tá tá, Eu tô aqui na Praça da Bandeira, indo pra um show de rock. Vai colar aqui?

--Colar? Tá, eu... tá!

E nesta noite, depois de muito pular de encontro a outros malucos, muita camiseta preta, rios de vinho barato, e muito heavy Metal, ela disse:

--Olha gata, sabe que eu tô bem na tua! Tá afim de ser minha? –Olhei naqueles olhos negros malucos.

Ataque das Ex Namoradas Zumbí (não ficção)Onde histórias criam vida. Descubra agora