Prólogo

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"Virgílio Medina é um homem de múltiplos talentos... Rico, bonito e sedutor, ele é herdeiro de uma grande fortuna, e sua ambição faz com que ele queira mais... Muito mais do que já herdou.

- Meu pai me deu um conglomerado, que tem potencial para se transformar em um império!

Para isso, ele será capaz de tudo - até de matar.

Vem aí... Sua nova novela das nove... 'Crimes de Paixão'."

As imagens do homem alto, loiro com os cabelos impecavelmente penteados sem um fio fora do lugar, de olhos azuis translúcidos que pareciam refletir o céu e o mar ao mesmo tempo, eram magnetizantes.

Enquanto o narrador listava as qualidades e beleza do vilão Virgílio Medina, o ator que o interpretava caminhava pelos corredores do escritório falso da empresa, usando ternos caros, feitos sob medida por uma importante estilista apenas para o personagem.

"Crimes de Paixão", a nova novela das 21h - o principal horário da televisão - era garantia de sucesso. A superprodução mostrava o romance entre Ângela, a mocinha camelô que não sabia ser filha de um magnata, e o playboy Rodrigo, que não sabia ser filho de um casal de serventes; além da briga entre Rodrigo e o empresário Virgílio Medina pelo controle da fábrica de cosméticos Beauty B. A obra foi escrita por um dos autores mais importantes da emissora, e tinha no elenco os principais nomes da TV no momento.

Um deles, Éric Rossi, cria do teatro, ganhou a maior oportunidade de sua carreira ao interpretar o mocinho Rodrigo. Não era o "galã clássico": seu rosto era um tanto rude, como se tivesse sido talhado a facão, o nariz adunco e meio torto não era muito charmoso e os cabelos castanho-claros apareciam sempre desgrenhados, como se ele fosse um "lenhador". Porém, o estilo "rude" era apenas impressão: Éric era um ator tarimbado, conhecido do teatro paulista, e sempre interpretando personagens com sensibilidade e delicadeza.

O outro ator, Sérgio Alencar, cresceu na televisão. Surgido em um seriado infantil aos doze anos, deixou de ser um menino loirinho e magricela para se transformar no maior galã da TV brasileira. Era lindíssimo, e sua transição de adolescente engraçado para jovem arrasa-corações foi na primeira fase da novela das seis "Coração de Papel", quando viveu o protagonista Maurício na juventude. O jeito "bad boy" romântico, com o topete loiro, jaqueta de couro e o sorriso sedutor brincando nos lábios carnudos não seduziu apenas a personagem Laurinha, como também o público feminino no outro lado da tela.

A partir daí, foram novelas e mais novelas como protagonista – mas Sérgio não era apenas um rostinho bonito. Ele possuía a habilidade de imprimir em cada mocinho características diferentes que tornavam o personagem interessante e intrigante, mesmo sendo o cara bom da história. Seus mocinhos não era apenas baluartes morais; eles também eram homens de fibra apaixonados e intensos, que às vezes cometiam algumas loucuras em nome do amor. Mas tudo dentro do limite entre mocinho e bandido.

No entanto, Sérgio tinha outros interesses, desafios que ele ansiava por enfrentar. Um deles era o cinema, como revelado em uma entrevista a um famoso jornal carioca, um ano antes do lançamento de "Crimes de Paixão".

- Já vi alguns roteiros que me interessaram muito. O cinema nacional está em ótima fase, temos filmes com os mais diversos estilos, comédias, cinebiografias, filmes de ação... Eu adoraria interpretar tipos complexos, difíceis... O cinema permite muito isso.

O outro interesse era em fazer um vilão. Ele sabia que era um bom ator, mas queria se provar em um papel diferente. Ao saber que contracenaria com Éric Rossi, um badalado ator de teatro, Sérgio queria mostrar que também tinha talento, e não era apenas um rostinho bonito. Por isso, ao invés de aceitar o papel de Rodrigo, ele fez o teste – e passou – para viver Virgílio Medina.

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