Não há mais fugitivos

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- Sérgio Alencar, você deixou a toalha molhada em cima da cama de novo?

- Ô amor, desculpa! Eu estou correndo que eu tenho que ir no fórum! A gente finalmente vai conseguir-

- Eu sei que você vai conseguir resolver o problema lá com o garoto e tirar ele da prisão, só que antes de mais nada, a toalha, porque se não quem vai realmente cometer um crime aqui sou eu!

A rotina de Sérgio e Lilian não mudou muito nos últimos anos. A única diferença era que Sérgio já não era mais o ator nem o fugitivo, ou o funcionário de uma loja de conveniências perto do apartamento onde eles viviam, no Cabula. Sérgio se formou em direito, como era o seu sonho e ele tinha uma ONG que trabalhava com pessoas acusadas de crimes que não cometeram e foram condenadas. Com o apoio dele e de outros advogados que trabalhavam de graça, várias pessoas pobres e negras tinham a oportunidade de terem seus casos reavaliados e a comprovação de sua inocência.

A ONG também tinha uma função: a de ressocialização daquelas pessoas que foram acusadas injustamente. Essas pessoas, de acordo com Sérgio, muitas vezes não conseguiam retomar a vida por causa da imagem que ficou atrelada de maneira injusta.

Um dos casos que ele ajudou a resolver trabalhava justamente na loja de conveniências em que ele um dia foi funcionário.

- Tu não quer ir comigo lá no fórum, gracinha?

- Bem que eu queria, amor... Mas eu tenho um freela imenso para cuidar aqui, campanha de escola... Mas eu sei que Otto vai estar lá pro jornal.

Sérgio bufou. Ele já era casado com Lilian há seis anos, mas nunca deixou de ter ciúmes de Otto.

- Eu não aguento quando você fala daquele cara!

- Sérgio, já te mandei tomar no cu hoje? Bota logo a toalha no varal e vai pro fórum!

Assim que o advogado fez o que Lilian ordenou, ele seguiu até a sala e deu um beijo na designer. Os dois acabaram deitados no sofá, entre beijos, mordidas no lábio e no lóbulo da orelha, e com alguma dificuldade, Sérgio finalmente se afastou da esposa. Era difícil ficar longe de Lilian.

- Mais tarde tem mais, gracinha - piscou o olho, sorrindo.

Lilian já estava acostumada a ficar mais ou menos sozinha quando Sérgio cuidava dos casos; mas o tempo dela estava bem cheio: ela era designer numa empresa só. Os freelas eram apenas por prazer, desafio, manter o nome quente no mercado; apesar de que o salário trabalhando na área de criação de uma fábrica de refrigerantes era bem confortável, além dos royalties da série sobre a vida de Sérgio caírem constantemente na conta.

Para muitos, os dois nem precisavam mais trabalhar; mas o casal entendia que um dia, o dinheiro acabava. Mesmo assim, tinham comprado dois imóveis para garantir a renda.

Costumavam viajar, em especial para a ilha de Itaparica, ou se hospedavam em algum resort. A última viagem que os dois fizeram foi para Morro de São Paulo, onde ficaram o final de semana prolongado em um hotel perto da praia.

Mas agora, o dinheiro de Lilian e Sérgio eram para os afilhados:

- Eu quero um carrinho de controle remoto, tia Lili!

- Só isso?

- Eu quero também um trem pra montar, tio Sérgio!

- Acho que Carlinhos quer a loja de brinquedos inteira, Cassiano... – o advogado sussurrou, entre risos, enquanto Lilian, Carlinhos e Robson, marido do designer, brincavam de pega-pega com o cachorro do menino, um poodle chamado Príncipe.

- Sérgio, ele quer aquele carro de controle remoto que o carro só falta subir a parede! -comentou Cassiano, passando a mão pelos cabelos e tentando lidar com o fato de que seu filho de apenas cinco anos o fazia ter mais cabelos brancos do que todo o tempo em que ele trabalhava. - O pior é que ele só quer de uma marca que passa os vídeos na internet... Ele não quer um genérico qualquer... Ele só quer a marca cara!

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