Personagem secundário

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Hoje é dia de conhecer a nossa protagonista e o que aconteceu depois que ela foi abordada pelo bandido...

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Mais cedo naquele mesmo dia...

O apartamento de três quartos no bairro do Matatu de Brotas tinha arquitetura dos anos 50 – ou seja, a planta apresentava cômodos grandes, banheiro com bidê e uma cozinha que podia se dividir com uma copa. Ficava em um condomínio, com dois apartamentos em cada andar, e a área de serviço tinha vista para o prédio posterior, intitulado "bloco".

A família Oliveira morava no mesmo lugar desde o nascimento de Larissa, a filha mais velha. Haroldo, funcionário público de carreira, viu naquele apartamento o melhor lugar para criar e educar os filhos; já Carolina, esposa e dona de casa, que lidava internamente com o fracasso de sua carreira como modelo – restando-lhe apenas fotos em catálogos de roupas para venda de porta em porta - queria algo maior e melhor.

Ao menos um apartamento com varanda, mas nunca conseguiu.

Entre as duas filhas, Larissa representava muito mais as aspirações e ambições dos pais: formada em administração, conseguiu rapidamente um emprego em um escritório de advocacia de renome, localizado na Pituba. Casou-se logo, e seu marido Marcos também era funcionário público - não era concursado, garantiu um cargo de confiança, já que seu primo bem posicionado conseguiu uma vaga para o rapaz, desempregado.

Curiosamente, os dois moravam com os pais da moça, mesmo aparentemente possuindo condições financeiras para viver num apartamento próprio.

- Aluguel tá caríssimo em Salvador, e a senhora sabe que é muito mais confortável viver perto do trabalho. Daqui eu consigo chegar de aplicativo mais rápido no escritório.

- A gente queria na Pituba, mas lá tá caríssimo. – Marcos completou o pensamento, e os sogros concordavam com os dilemas dele.

Lílian, por sua vez, era uma espécie de outsider dentro da família. Ao contrário das expectativas dos pais, que esperavam a jovem cursando uma faculdade mais tradicional ou investindo numa carreira no funcionalismo público, ela preferiu estudar Design na UFBA e se dedicar a área digital, trabalhando em agências de marketing produzindo peças gráficas para redes sociais, e-mail marketing, e outras campanhas tanto online quanto offline.

Ela completava o orçamento com alguns trabalhos freelancer, sempre em combos com seus amigos, todos ligados à área digital. Não era o suficiente para Lílian ir embora de casa, onde sua vida, seu trabalho, suas amizades, e até mesmo sua aparência eram alvos de escrutínio de todos os membros da família.

- Eu sempre digo que você deveria sair mais com os amigos de Larissa... – Os conselhos de Haroldo pareciam críticas. – Eles conhecem gente importante que pode te colocar em algum trabalho mais sério. Aqueles meninos com quem você anda são todos fracassados.

- Sabe por que você está nessa situação, filha? Porque você não tem ambição. Trabalhar em agência, freelancer, essas coisas pequenas? Devia fazer concurso público e sua vida tava garantida!

- As pessoas olham pra você, Lilian, e vêm você sempre muito desmazelada, esse cabelo curto... Olha, no salão onde eu corto meu cabelo e faço a sobrancelha a cabeleireira te colocaria um mega perfeito a um bom preço.

A crítica que mais doía era de Marcos, seu amigo de adolescência, e que agora parecia totalmente dominado pelas palavras e argumentos de Larissa.

- Concordo plenamente, Lari. Aparência é tudo no mundo de hoje, e você, cunhada, não consegue se destacar... Principalmente nessa área que todo mundo é bonito, maquiado, se veste bem, gente que tem grana. Pensa nisso, conselho de amigo que quer seu bem.

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