A cavalaria

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Mais cedo naquele mesmo dia...

Stéfano Trajano não podia acreditar que estava olhando para o assassino Sérgio Alencar, como se fosse um trabalhador honesto, num vagão de metrô.

Ele estava seguindo através daquele meio de transporte até a delegacia de homicídios, na Pituba – desceria na estação Rodoviária e de lá pegaria um ônibus - porque seu carro estava no conserto, e o objetivo do investigador era justamente avaliar como fora a fuga de Sérgio e Rei de Copas – e com os insights do policial, que conhecia aquele homem há dez anos, os outros responsáveis pelo caso poderiam saber como encontraram.

Stéfano só não contava em ver o criminoso tão perto.

Ele também ficou surpreso pelo fato de Sérgio ter sequestrado uma pessoa apenas para conduzir o carro para ele – Sérgio não parecia machucado quando o viu no metrô, "só se ele ficou ferido durante a fuga". Recomendou aos investigadores que fossem atrás de informações a respeito da moça, e ao triangular onde ela estava na hora do rapto e de que lugar ela estava saindo, ele descobriu seu nome.

Lílian Oliveira.

- O quê??? Lílian foi sequestrada?

- Sim, Sra. Oliveira. A perseguição contra Sérgio Alencar passou em todos os jornais. Ele forçou sua filha a entrar em um carro e conduzir o veículo pelas ruas de Salvador.

- Lílian não dirige. – respondeu Haroldo, para o choque de Stéfano, não registrado por seus interlocutores, já que ele se mantinha de óculos escuros.

- Você tem certeza de que foi ela, policial? – a voz mais jovem e entediada era de alguém que Stéfano entendeu ser a irmã mais velha de Lílian. – Olha, ela estava indo pra uma entrevista de emprego, porque ela é designer... – debochou.

- Fica fazendo coisas na internet, se enfurna naquele computador, por isso que tá gorda. – observou Carolina, igualmente desdenhosa. – Só come porcaria.

- Designer... Isso lá é emprego. – retrucou Haroldo. – Sempre quis que ela fizesse concurso, não esses trabalhos que parecem coisa de vagabundo.

- Podemos verificar o que tem no computador dela, apenas para confirmar informações?

- Vai levar e não vai adiantar nada, Sr. policial. Com certeza ela deve estar com aquele bando de fracassados, os amigos dela.

- Mãe, tô indo no salão, volto logo.

- Certo, amor, marca uma hora pra mim no sábado?

- Sim, mas não sei se vai ser no horário que a senhora quer...

Stéfano estranhou a dinâmica daquela família, com o pai e a mãe pouco interessados em saber o que aconteceu com a filha e a irmã pensando muito mais em seus cabelos no salão ao invés do sequestro sofrido por Lílian.

Torceu para que o cunhado, Marcos, pudesse ajudá-lo. Ele não parecia muito aberto, mas respondeu:

- O que eu sei é que Lílian tinha ido pra uma entrevista de emprego, que ia ser um emprego mais fixo. Porque ela tem vários empregos.

- Além de designer?

- Todos como designer.

Stéfano ficou ainda mais surpreso ao descobrir que quem sabia mais informações a respeito de Lílian eram seus amigos – os tais "fracassados" citados por Carolina Oliveira, mas que na verdade eram profissionais em empregos que eram pouco compreendidos por grande parte da população.

Além daquela impressão, os três rapazes que decidiram conversar com ele pareciam muito mais preocupados com a situação da jovem do que a própria família.

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