A mocinha

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Vamos dizer que este capítulo se chama "catarse"...

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Nos últimos três meses, desde que Lílian aceitou ir embora com Stéfano Trajano e separar caminhos temporariamente de Sérgio, a designer pensava sempre por quê.

Por que não aceitou a proposta do policial, preferiu não voltar a sua casa e se escondeu ao lado de Sérgio em Arembepe?

Qualquer coisa era melhor que estar com os pais, a irmã e seu ex-amigo e cunhado na mesma casa, praticamente acreditando que ela era a Cinderela; e eles a família que estava lá para explorá-la.

- As contas do cartão vão me matar! – sua mãe gritava, sendo seguida por Larissa, igualmente preocupada, em especial porque a última fatura apresentada indicava que os valores eram tão altos que ela poderia negociar a fatura:

- Dois mil reais, mãe! É um absurdo, tudo por causa do salão! É um absurdo pé e mão ser R$ 500, meu Deus! A gente morando em Matatu!

"Você vai em um salão no Itaigara, Larissa...", Lílian tentou a custo não revirar os olhos.

- Lílian, vou passar as contas pra você.

- Como assim?

- Claro que você tem de pagar, até pra compensar esses três meses que você não contribuiu com nada nessa casa!

Era surreal como eles não tinham mudado nem um pouco suas atividades e rotinas, enquanto Lílian tentava mais uma vez, a dia após dia, ao menos recuperar os freelas perdidos após tanto tempo longe de casa.

Ao menos, a polícia entregou seu computador e ela poderia continuar os trabalhos de designer.

- Poderia dizer... Obrigada? – a jovem estava incerta sobre o que falar para Stéfano Trajano.

Os dois estavam na porta do condomínio onde ela vivia, com Lílian segurando a caixa com seus equipamentos e o policial com as mãos nos bolsos, mantendo o ar sério por trás dos óculos escuros Ray-Ban.

- Não há de quê. Alguma notícia sobre Sérgio Alencar?

"Como se eu fosse responder...", pensou a designer, enquanto buscava uma resposta que não parecesse mentirosa para falar a um policial:

- Nada. Acho até que ele está fugindo porque vocês, afinal de contas, não cumpriram o que me prometeram e andam atrás dele.

- Ele é um bandido procurado.

- Apesar dos pesares, eu tenho minhas opiniões sobre o assunto. Tô subindo-

- Não quer ajuda para remontar o computador?

A jovem arqueou uma das sobrancelhas.

- Pra você colocar um dispositivo robô pra ver minha vida? Aonde pai!

Stéfano esboçou um sorriso e foi embora, enquanto Lílian retornava ao apartamento, segurando as caixas do computador, e logo encarou toda a família almoçando. Eles a encararam como se a jovem fosse uma alien.

- A gente precisando de ajuda financeira e você comprando coisas pra você! – resmungou Aroldo, irritado.

- Esse é o computador que a polícia recolheu durante meu sequestro.

Enquanto todos almoçavam, Carolina começou a questionar a escolha alimentar da filha: arroz, bife acebolado e batata palha. Era pouco, mas quem preparou fora a própria Lílian, que ansiava em passar a menor quantidade de tempo possível ao lado dos familiares.

- Passou meses com o marginal e nem comeu direito?

- Mãe... Eu não tinha tempo de arranjar uma comida decente, e a última coisa que eu ia me preocupar é com comida.

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