Fugitivos

Crimes de paixão

- Os jurados consideram o réu Sérgio Rafael Lima Alencar culpado pelo assassinato de Jennifer Reis Alencar...

Sérgio estava em choque com o resultado do julgamento. Ele tinha certeza de que seria inocentado – não matou sua esposa, não tivera nada a ver com aquele crime, e seus advogados estavam otimistas sobre o depoimento de todas as pessoas chamadas. De acordo com a equipe de defesa, a polícia tinha evidências muito tênues sobre uma possível culpa de Sérgio no crime: o argumento de que Jennifer o fizera passar vergonha em seu momento de glória com a estreia da nova novela não condizia com a imagem de ator humilde e esforçado pela qual Sérgio Alencar era conhecido.

Contudo, os depoimentos dos amigos de Jennifer diziam algo distintos: a modelo dizia não aguentar mais o marido, um homem exigente que queria mudá-la, mudar sua personalidade e quem era. A informação sobre o vício de Jennifer surgiu como uma surpresa para muitos durante a investigação e o julgamento.

Já os depoimentos daqueles mais próximos de Sérgio indicavam sua preocupação com a saúde de Jennifer. A única pessoa além do próprio ator a saber dos vícios de Jennifer, em depoimento, era o procurador de Sérgio, que revelou durante o julgamento que seu cliente daria um ultimato a ela: ou Jennifer ia a uma rehab, ou os dois se divorciavam.

Contudo, a maior salvação de Sérgio era Éric Rossi, o seu colega de novela, que revelou em depoimento ter ouvido gritos vindos do quarto ao lado, onde o casal estava hospedado.

- Eu ouvi gritos da esposa de Sérgio, Jennifer, e estranhei...

- O que você estranhou, Sr. Rossi? – perguntou o advogado de defesa.

- Estranhei os gritos, e até considerei ir no quarto e perguntar se estava acontecendo alguma coisa, mas me lembrei de que Sérgio estava preocupado com ela e saiu mais cedo da festa junto com a esposa. Ele disse pra mim que contaria o que ocorreu no dia seguinte. Estava bem cuidadoso com ela, sabe? Achei que ela estava sentindo alguma dor, estava doente, não achava que ela estaria sozinha sendo atacada.

De acordo com a defesa, o momento em que Éric ouviu os gritos de Jennifer foi quando Sérgio estava no bar do terraço, um álibi comprovado pelo garçom que viu o ator encarando a varanda com ar pensativo. No entanto, a acusação argumentou, através do depoimento de um dos investigadores do caso, que havia tempo de Sérgio ter matado Jennifer, saído do quarto e a modelo agonizar pedindo socorro e não apenas gritado, como Éric inferiu.

Além disso, de acordo com as câmeras no corredor do hotel, a única pessoa a entrar e sair do quarto naquela noite foi o próprio Sérgio. Nunca apareceu um outro envolvido.

- Outro elemento que nos faz crer que ela estava pedindo socorro é a imagem que temos de Sérgio Alencar em seu exame de corpo delito. Vocês viram aqui, senhoras e senhores, o rosto dele, arranhado, ferido, por uma mulher que fez de tudo para se salvar de um homem cujo único objetivo era esconder do mundo os problemas de saúde sofridos por Jennifer. – o representante do Ministério Público informou em suas argumentações – Quando ela chegou ao extremo de ameaçar passar vergonha em seu momento de consagração, esse homem bonito, simpático, charmoso, perdeu a paciência. A humanidade. O charme tornou-se monstruosidade.

De nada adiantou Sérgio ter mantido segredo sobre o vício de Jennifer e manter sua imagem ilesa para que ninguém soubesse de suas transgressões. Ele foi condenado à pena máxima de 30 anos, visto como um homem frio e calculista que matou a esposa porque acreditava que ela seria um problema para a sua carreira.

No fim, se ele estava preocupado com a repercussão de seu personagem na novela e a imagem que ele apresentaria a partir daquele instante, mudanças urgentes ocorreram. A TV Prisma decidiu não exibir "Crimes de Paixão", e a emissora correu com um uma reprise compacta de uma novela de cinco anos antes, "Triplo Amor" (sobre trigêmeas separadas na maternidade), até decidirem o que fazer.