A música calma ecoava por toda a minha mente vazia, um conjunto perfeito em junção ao vento gélido que sobrava por toda a praia. Meus pés enterrados na areia branca estavam aquecidos, como meus braços que apertavam as pernas desnudas. Ao meu redor, o silêncio intenso era cortado apenas pelos cantos dos pássaros, murmúrios das ondas e mar, ao que traziam a imensa sensação agradável de paz e tranquilidade para meus ouvidos que, mesmo com os fones, poderia ouvir muito bem os sons matinais que pertencia a praia. Por mais intensa que seja a forma que a minha cabeça esteja tranquila, pelos minutos que eu passei aqui sentada à frente da imensidão tingida em azul intenso, era quase impossível não ter os pensamentos capturados por momentos indesejados, da forma mais desagradável possível.
Não conseguir dormir muito bem na noite anterior me custou a vinda até aqui. A voz irritantemente grossa ecoava a cada segundo durante uma noite inteira, tendo assim, todo o meu sono e meu descanso fisgado para si, a medida que minha atenção era apenas focada na forma que ele havia dialogado comigo. Quando os meus olhos tinham a chance de toldarem aos poucos durante uma madrugada inteira, eu me despertava segundos após assustada. Foi agonizante a sensação e eu me neguei relutando contra mim mesma durante toda a madrugada, a fim de convencer-me de que sua "bronca" não havia me afetado. Isso foi válido sim, apenas nas duas primeiras horas, após ele me deixar sozinha num emaranhado de confusões. Estar com minhas amigas me ajudou, só naquele momento. Ao chegar em casa, eu passei quase trinta minutos numa banheira cheia de água quente tentando entender tudo, tendo o olhar fixo num ponto qualquer do banheiro e falando coisas que eu deveria ter lhe dito.
Ter um breu completo diante dos olhos, apenas contendo no fim de toda a visão turva e escurecida um pequeno fragmento de luz, era o lembrete de que meu vasto plano que conduzia o esquecimento do mundo por segundos estava sendo executado com êxito. Ao meu redor, o vento sorrateiro como passos de um ladrão na calada da noite me deixava mais fresca e dispersa, porém não abandonando o fato de me manter sonolenta a ponto de arrancar bocejos de minha parte. Meu corpo envolvido num moletom largo e velho de vovô tinha o cheiro doce de seu perfume. Ao voltar a introduzir o ar aos pulmões, pude sentir a fragrância ainda mais forte e marcante penetrar nos meus sentidos. Eu tinha tantas lembranças incríveis em que aquela fragrância estava presente, era como se aquele simples aroma tivesse o poder de abrir o baú em que eu guardava minhas memórias e fazê-las serem lançadas para o alto me deixando mais leve ainda. Como melhor maneira de me aquecer e proteger minha pele exposta contra o vento da madrugada em conjunto ao orvalho gélido, eu abraçava as minhas pernas com força, tendo o queixo apoiado aos joelhos já aquecidos pelo contato primordial com a pele daquela região.
Eu estava, exatamente agora, na praia onde ocorriam os treinos matinais das peonies com uma única coisa na mente, a qual me custou horas de um bom descanso digno de palmas. Ainda estava tudo tão confuso até esse exato momento, que eu decidi vir até a praia, apenas para relaxar e observar o sol nascer.
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Waves Of Love | Beauany
FanfictionAny Gabrielly é uma das maiores surfistas de sua geração, levando consigo incontáveis títulos no ramo. Quando convencida a ter paz e sossego em mais um verão de sua vida, Any não esperava, mas a chegada de seu novo treinador causa intensas emoções...