05 | Quente como o inferno

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Eu, em completo cinza mórbido, tingia as paredes da alma com todo meu humor de bunda naquela tarde, o que já se encaixava no pedestal de normalidade dado aos acontecimentos ultimamente, os quais eu classificaria perfeitamente como esgotantes, assi...

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Eu, em completo cinza mórbido, tingia as paredes da alma com todo meu humor de bunda naquela tarde, o que já se encaixava no pedestal de normalidade dado aos acontecimentos ultimamente, os quais eu classificaria perfeitamente como esgotantes, assim como na semana anterior. Não havia nada melhor para definir-me emocionalmente do que o equilíbrio e sublimidade agora, principalmente quando eu estava sentada em frente a bancada do meu ateliê recém inaugurado por mim, nos fundos de minha casa. Esse era um dos motivos de minha alegria exorbitante, ter um lugar só para mim sempre foi um sonho e, agora, tê-lo concretizado me deixava ainda mais emotiva.

A luz alaranjada do sol fazia parte daquele horário da tarde, a transição perfeita para a noite e acontecia de forma leve e apreciável. Nas paredes repletas de folhas grudadas por pregos, estavam gravados vários momentos incríveis aos quais eu quis eternizar de alguma forma. A luz que iluminava as gravuras, era a mesma que atravessava toda a sala de um lado a outro deixando a claridade com belas auroras que cortavam o ar como lâminas finas.

Diante dos olhos, eu tinha uma grande tela com pontos específicos em branco - tal quais seriam usados em algum momento e tudo isso iria mudar -, exibindo uma bela paisagem criada em minha mente no sonho que tive noite passada. Em controvérsia do que estou apta a fazer, a gravura a qual eu lançava toda a minha concentração não era uma beleza natural que eu podia facilmente admirar aqui na ilha. Pelo contrário. Diante dos meus olhos era mostrada a incrível visão de um pôr do sol em uma cidade movimentada e cheia de arranha-céus grandes as margens da praia, como paredões de concreto gigantes.

Se eu fechasse os olhos, ainda conseguia sentir a brisa fresca no rosto e ouvir os barulhos estridentes causados pela locação de várias pessoas ao mesmo tempo. Entretanto, eu não conseguia me visualizar em um local como esse onde havia tumulto e barulhos de carros junto às buzinas. Não hoje, não agora.

- Amo admirar você tão calminha enquanto pinta. - Diz vovô num tom suave de voz.

Levo os olhos lentamente para a porta aberta à minha frente e o vejo parado segurando uma xícara fumegante de café.

Declaro que, voltar para a órbita com suas palavras me fez notar quanto tempo eu passei absorta em meu mundo, me fez quase arregalar os olhos. Eu definitivamente havia passado uma tarde inteira trancada aqui.

- Mas, eu sou calminha em todas as horas, não entendi tamanha admiração. - Retruco num tom de zombaria enquanto aponto com o pincel afastando-o da tela, apenas para mostrar o homem sem camiseta.

Vovô, apesar de ter esse posto em sua vida, não era nada velho em comparação a qualquer outro homem que cuidava das gerações ulteriores.

Ele era alto e forte, típico de alguém que passava mais horas do que deveria na academia. Além de que também era robusto e vistoso, cheio de estatura e tatuagens significativas espalhadas pelo corpo. Vovô é dono de um dos mais delicados olhares já notados por mim, um ser tão cuidadoso e simplório, que me fazia ser grata por tê-lo sempre por mim desde sempre. Os cabelos cacheados que caiam sobre a testa quando ele os lavava, era algo de nossa família, assim como a pele negra e olhos cor de amêndoa.

Waves Of Love | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora