28 | Ondas Do Amor

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— Ainda sem frequência cardíaca

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— Ainda sem frequência cardíaca. — Era a terceira vez que eu ouvia Heyoon dizer aquilo, enquanto ajoelhada ao lado do corpo imóvel de Any ela limpava as lágrimas entre massagens cardíacas desesperadas na surfista.

Meu corpo enrijece, de modo instantâneo. Uma pontada de dor se alastra por meu peito, lesionando algo em mim o qual havia ficado em um estado de dormência quase interminável durante anos, até eu lembrar de sua existência, ali naquele momento. Levei o olhar para o rosto da garota morta ao lado de Heyoon, tão lentamente que meu espanto consegue se aprofundar mais por minhas entranhas. Ali, notei que mesmo deixando de lado todos os motivos que me chateavam em Any Gabrielly para conseguir trazê-la de volta à superfície, com um pouco de dificuldade, havia acontecido algo de errado. Havia acontecido algo muito errado.

Me desesperei, em silêncio.

Eu deveria ter custado menos do meu tempo no banho assim que terminei de malhar. Eu deveria ter pego uma rota mais curta no trajeto até aqui. Eu deveria não ter parado na floricultura em que Heyoon me pedira enquanto vínhamos até a praia, nem tê-la ajudado a carregar alguns jarros para a mala do meu carro. Eu não deveria ter ficado por horas observando plantas, opinando sobre onde cada espécie deveria ficar nos ambientes da casa de Jeong. Eu poderia ter estado aqui quando Any quis entrar no mar, eu poderia orientá-la, dizendo que como não haviam salva-vidas a este horário e as ondas estavam gigantes, ela precisaria estar segura em terra firme. Eu deveria ter sido mais rápido enquanto arrancava a minha camisa do meu corpo e corria para o mar, não deveria ter visto as ondas gigantes e lembrado dos meus traumas. Eu não deveria ter me desesperado enquanto gritava seu nome a todos os pulmões até minha garganta doer, como forma de achar em meio ao tanto de espuma sobre a água.

Eu deveria ter feito mais por ela. Eu deveria.

Mas, eu cheguei tarde. Tarde demais.

Encontrei-a em meio aos corais abaixo da água. Sua expressão tão serena me deu a vã idéia de que existia sim algum resquício de vida dentro do seu ser. Mas não. Toda a serenidade era a causa nítida de algo o qual não havia mais a mínima possibilidade de existir.

Eu tirei Any Gabrielly do fundo do oceano morta. Em meus braços, quando senti seu peso, só pensei em o quanto ela me detestaria em saber que estávamos tão próximos. E, enquanto seguia até a faixa de areia com as pernas bambas e o coração acelerado, desejei com todas as minhas forças para que ela reagisse e gritasse comigo. Eu pedi aos sussurros que Any abordasse, olhasse nos meus olhos e mandasse eu me afastar o mais rápido possível.

Aquilo, de alguma forma inexplicável arranca do meu peito algo que, de modo irreparável se transforma em uma espécie de dor, sem explicações evidentes. Talvez, os soluços de Heyoon somados ao barulho das ondas fosse uma mistura confusa, que, me fazia encarar o rosto pálido de Any Gabrielly morta no chão.

Ela estava morta.

Eu culpava os meus esforços, eles não foram o suficiente para trazer Any com vida até a faixa de areia naquela praia.

Waves Of Love | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora