12 | Nadando contra a maré

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- Espera, você disse que odiava ele e o treinador não te fulminou após isso?

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- Espera, você disse que odiava ele e o treinador não te fulminou após isso?

Fico seria, sob o olhar confuso da alemã. Minha breve explicação - a qual eu ocultei alguns detalhes - sobre a noite de ontem resultou em várias perguntas inusitadas para ambos os lados da conversa, inclusive, a indagação de como era a sensação de vociferar meu ódio para o homem.

Não fiz questão de contar sobre a conversa descontraída, as provocações, o abraço acalentador... A única coisa que Sina sabia era que eu cheguei na sorveteria e conversei um pouco sobre as nacionais com o treinador e discutimos sobre isso, o que era bem verdade. Eu, não me sentia encorajada o bastante para encarar a surpresa que viria da parte de minha amiga, nem de ninguém, após eu afirmar que uma crise existencial fez-me subir um nível na escada das descobertas sobre coisas novas que, por acaso, eram envolvente num emaranhado confuso. Contudo, eu, de forma estapafúrdia, senti que ontem a noite, uma magnitude desconhecida havia me deixado inconsciente num escuro total ao cobrir as luzes da consciência naqueles minutos em que estive buscando forças no toque do Beauchamp me deixando no fim de tudo com um sentimento horrível no início do estômago. Em específico, eu desconhecia tudo o que via consigo junto a ação afetuosa e como elas poderiam surtir efeito sobre mim, pois mesmo que tentasse, não conseguia lembrar das sensações e, me odiava por estar chateada com isso.

Minha mente era apenas, breu, olhar marcante, perfume irritante, olhar marcante outra vez, braços fortes com mormaço de sua pele, perfume irritante de novo - só que agora muito mais perto que antes -, em loop contínuo e doloroso. E, eu acho que nem preciso citar que isso me tirou o sono, não é mesmo?

Eu e Sina, estávamos na sala onde acontecia o bingo e, no mesmo minuto em que conversávamos aos sussurros, vários idosos marcavam as pontuações no papel com os números sorteados por nós. Havia se passado tanto tempo que eu desconhecia o fato de partidas de bingo serem tão demoradas. E, na pior parte, o prêmio era um salmão de madeira com três metros de comprimento. Céus. Certamente, a competitividade instiga os velhinhos a terem um bom motivo para viver, pois todos pareciam animados demais.

Um deles até disse que o salmão iria consigo no caixão quando ele batesse as botas. De início, eu ri; talvez por ser uma jovem desatenta ao mundo e com um futuro brilhante na ponta da agulha. Todavia, a dúvida dolorosa veio em mente após algum tempo, pois era por isso que todos naquele lugar se asseguravam ou esperavam ansiosamente, pela morte. A pergunta que avultou meus pensamentos mórbidos foi sobre mim mesma...

Será que eu tinha um legado? Se o Beauchamp não tivesse me salvado naquele dia, o que eu teria para entregar ao mundo?

Ouvir narrações de guerras; festas badaladas nos anos passados; famílias felizes que se romperam com a partida de alguns membros, me fez notar que eu não sou nada. Any Gabrielly é apenas um grãozinho de terra no mar da vida, tão insignificante quanto a coisa mais banal dessa vida.

Após olhar em redor, bufei girando o globo feito de aro e o barulho das esferas com números se chocando umas com as outras dentro dali corta o silêncio, além da lufada de ar que saiu dos meus pulmões. As janelas abertas davam acesso visual para os jardins onde ocorriam outras atividades, uma brisa leve junto a canção dos pássaros percorre pelas quatro paredes pintadas de verde musgo. Por Deus, eu amaldiçoei-me tanto por ter escolhido a mais chata de todas naquele específico minuto.

Waves Of Love | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora