Escuridão, frio na barriga e mente desligada.
Aquela versão de Any Gabrielly era tão estranha quanto a sensação de um déjà vu, num momento aleatório, num dia qualquer. Você não entende o motivo de sentir que já viveu aquilo, não entende o porquê de ter se lembrado de algo naquele momento, mas, simplesmente aceita com um sorriso a sensação boa abrangente instalada no interior.
Mas, no meu caso, a estranheza do momento me causava ânsias, pontadas na cabeça e um medo imutável de não poder estar sublime em qualquer horário útil do meu dia. Eu não sentia nenhuma dor, não a física, contudo, a minha mente se corroía aparentando estar submersa num balde de ácido sulfúrico. Sentir isso era péssimo, castigante e me agonizava muito.
Ao entrar em contato com o líquido, a matéria - qualquer que seja - tem tão poucos segundos de existência que te instiga a olhar-lá "morrendo" aos poucos. Particularmente, comigo foi assim nas aulas de ciências na escola, em que eu adorava observar qualquer coisa ser destruída por um simples líquido acromático. O após isso é normal, pois nada interfere em sua vida. Quando o fim trágico da matéria é posto diante de seus olhos e você esquece que sua atenção estava fissurada no findar de algo, nada muda, tudo é sublime e indiferente como sempre esteve. Magicamente, isso parece ser tão comum que você esquece o que presenciou minutos após.
Na minha realidade, isso foi horrível de sentir. A água me tomou por inteira, o líquido entrando nas narinas e boca, a qual ambas estavam sedentas pelo ar. O que mais doía, era o fato de que eu não pude fazer nada além de apreciar meus últimos segundos parando de me chacoalhar ou ficando apenas com o pavor exorbitante.
A morte é sim relativa, é uma certeza que ganhamos a partir do dia que nascemos. E, com certeza, ninguém está preparado para escapar do mundo de qualquer forma que seja. Principalmente, se assim como eu, o seu propósito real fosse uma incógnita e você se sinta irrelevante para bastante coisas no dia a dia.
Mas, agora eu estava ótima! Aliás, isso era tudo o que eu precisava, diz-se de passagem, estar bem comigo e ter noção de estar com vida, era tudo o que eu mais queria. Todavia, as circunstâncias eram quase péssimas para estar desacordada em um lugar que eu nem sabia onde. Pensar nisso ao ter consciência, trouxe-me a imensa vontade de reagir e ter certeza concreta de estar definitivamente tudo bem. Por um lado, o mais agradável, eu sentia a superfície, o ar gelado na epiderme de pelos eriçados e respirava bem; já por outro, um barulho horrendo nos ouvidos me impedia de continuar calma sem as suposições estressantes na minha mente recém-acordada.
Em meio a tantas confusões, pensamentos estranhos que fundaram uma sensação distinta no peito, eu abro os olhos com um susto ao lembrar das nuances azuis que exibiram na perfeita luz solar um reflexo extremo do pós-morte, e quase grito:
- Josh! - A voz quase corta-me a garganta seca. Sinto estar presa por fios - não no sentido literário, porém o tubo que carregava o soro até minha veia e o oxímetro na ponta do indicador, me davam essa sensação de acorrentamento.
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Waves Of Love | Beauany
FanfictionAny Gabrielly é uma das maiores surfistas de sua geração, levando consigo incontáveis títulos no ramo. Quando convencida a ter paz e sossego em mais um verão de sua vida, Any não esperava, mas a chegada de seu novo treinador causa intensas emoções...